Resenha A Corrosão do Caráter - Richard Sennett
Por: llu.silveira • 23/11/2016 • Resenha • 695 Palavras (3 Páginas) • 1.013 Visualizações
No primeiro capítulo denominado Deriva, o autor descreve uma conhecida relação familiar cujo pai Enrico, faxineiro que não se queixa e não se entusiasma com o trabalho exercido por mais de 20 anos, concretiza seu sonho de proporcionar ao seus filhos vida diferente da sua, o sonho americano de mobilidade ascendente para os filhos, para tal realização foi necessário ampla economia para educação de seus filhos.
Rico filho de Enrico, finalmente forma-se em engenharia elétrica e torna-se consultor tecnológico quando encontra o autor da obra em um aeroporto, rumo ao mesmo destino, sentados em poltronas próximas passam a conversar sobre o ponto principal da obra, qual seja: flexibilidade.
Neste capítulo leva ao lume as grandes diferenças entre gerações de pai e filho, Enrico faxineiro e Rico consultor tecnológico, ambos trabalhadores árduos em sistemas opostos, seja pelo nível social, seja pela ultrapassagem de tempo.
Para Sennett o caráter pessoal é um aspecto que causa confusão na flexibilidade, pois sendo caráter o valor ético que atribuímos aos nossos desejos e relações com os outros, automaticamente é um valor que necessita de tempo para ser moldado e elaborado, enquanto a flexibilidade não sustenta a ideia do longo prazo, pelo contrário, característica marcante da flexibilidade é o curto prazo, a eliminação da burocracia, o dinamismo, a infixidez.
O sistema capitalista vivido por Enrico que nunca trocou de emprego e sabia ao certo o tempo que restara para aposentar-se, era marcado pelo compromisso mútuo, lealdade, confiança, empregos protegidos pelos sindicatos. Naquele sistema, questões formalíssimas numa transação comercial dependiam de associações, longo prazo e trabalho em equipe.
Rico que vive a tecnologia, já mudou diversas vezes de trabalho até abrir sua própria empresa de consultoria e mergulhado em inúmeras tarefas necessita controlar o tempo, deve “correr de um lado para o outro em resposta aos mutáveis caprichos ou ideias daqueles que pagam (..)” (pag. 18), trabalhos agora são denominados “projetos”, sem compromissos, sem estabilidade, e a rede o ajuda a realização de trabalhos em casa, destruindo as associações e o trabalho em equipe, favorecendo o mercado que exige rápida mudança pois traz um rápido retorno, considerado como “capital impaciente” por Bennet Harrison.
O sociólogo argumenta que o aniquilamento à lealdade, à confiança, o comportamento ao curto prazo, a falta de compromisso, ausência do espírito de reunião (trabalho em equipe) refletem no comportamento familiar e maiormente na criação e tratamento de seus filhos que facilmente são ouvidos e compreendidos pelos pais, porém lhes falta guia e orientação, um rumo, pois veem na figura paterna essa inflexibilidade, e como ensinar aos filhos uma relação social durável ou objetivos de longo prazo se os genitores sequer praticam tais valores?
O antigo capitalismo é apontado pelo autor a partir do ponto de vista marxista, demonstrando que a responsabilidade, a permanência e fixação no emprego- as vezes até a aposentadoria, a difícil aceitação do risco, o mercado de trabalho burocrático excessivamente rigoroso, que não abria margem para questionamentos assim como Enrico que trabalhou por anos como faxineiro sem reclamar, são fatores essenciais para adquirir experiência, para criação de fortes laços sociais e inclusive
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