Humilhação social: um problema político na psicologia
Relatório de pesquisa: Humilhação social: um problema político na psicologia. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 29/8/2014 • Relatório de pesquisa • 1.717 Palavras (7 Páginas) • 467 Visualizações
Universidade Anhanguera – Uniderp
Unidade De Vitória
Serviço Social
PSICOLOGIA
Alessandra Rosa Villa Nova (RA: 431525)
Ana Maria Wenceslau Vieria Da Silva (RA: 418893)
Egiania Marli Schulz Cindra (RA: 438769)
Kamila De Oliveira Souza (RA: 426982)
Nilzete Amaro Da Silva Filha Bourguignon (RA: 8324776653)
Simone Maria Teodoro Da Silva (RA: 417700)
Verônica Vieira Ferreira Borges Da Silva (RA: 417540)
A Humilhação Social e a Invisibilidade Pública na Vida Cotidiana
Tutor à Distância: Helenrose A da S. Pedroso Coelho
Vitória, 26/04/2014.
O objetivo deste relatório é proporcionar uma visão ampliada acerca da humilhação social e invisibilidade pública e apresentar casos práticos que promovam a reflexão sobre tais fenômenos. Através de pesquisas direcionadas, da reflexão da equipe sobre as leituras realizadas e do compartilhamento de experiências, apresentaremos o conceito dos mesmos, bem como a sua identificação no cotidiano.
Humilhação Social: Um Problema Político em Psicologia
O texto em questão tem em seu escopo proporcionar um conhecimento mais aprofundado sobre a questão da humilhação social e outros fenômenos relacionados diretamente ao tema. Humilhação social trata-se de um caso doloroso e angustiante para o indivíduo que sofre, é um afeto mórbido que deriva da exposição do pobre a ou as mensagens verbais e também mensagens mudas, de inferioridade social.
Verificamos que a desigualdade social é a grande responsável pelas humilhações às quais os cidadãos das classes economicamente desfavorecidas da sociedade são constantemente expostos.
“Os pobres sofrem freqüentemente o impacto dos maus tratos. Psicologicamente, sofrem continuamente o impacto de uma mensagem estranha, misteriosa: ‘vocês são inferiores’. E, o que é profundamente grave: a mensagem passa a ser esperada, mesmo nas circunstâncias em que, para nós outros, observadores externos, não pareceria razoável esperá-la. Para os pobres, a humilhação ou é uma alidade em ato ou é freqüentemente sentida como uma realidade iminente, sempre a espreitar-lhes, onde quer que estejam, com quem quer que estejam. O sentimento de não possuírem direitos, de parecerem desprezíveis e repugnantes, torna-se-lhes compulsivo: movem-se e falam, quando falam, como seres que ninguém vê.” (GONÇALVES FILHO, 1998, p. 53)
Notamos que o artigo pretende buscar nas teorias de Freud e Max os fenômenos que levam o homem a pertencer a uma sociedade, e isso significa mais do que “estar presente”, está intimamente ligado no direito de “ser percebido”. É evidente que os problemas como a invisibilidade social, desigualdade, e problemas políticos e psicológicos são o eixo norteador para traçar um pararelo sobre a investigação do marxismo e psicanálise. Ambos devem ser utilizados em uma na tentativa de se chegar a respostas para a questão da humilhação social, não devendo tais métodos ser tomados individualmente.
“Não o homem separado, o indivíduo, mas sempre um homem: a subjetividade realizando-se intersubjetivamente, uma revelação – trata-se sempre do modo mais ou menos singular por que um homem aparece em companhia de outros”. (GONÇALVES FILHO, 1998).
Devemos compreender que esta união, marxismo e psicanálise, não se fundem ou confundem, elas apenas se complementam, quando bem utilizados na ação investigativa.
Enquanto a teoria Marxista observa a questão da humilhação social sobre a óptica do pensamento socialista, e busca através desta visão a solução para os dilemas do ser humano em conjunto, os defensores do pensamento psicanalístico, discípulos de Freud, entendem que o problema inicia internamente no próprio indivíduo, esse indivíduo sofre pressões inconscientes, e depois exterioriza e assim influencia a própria coletividade. Esse homem inferiorizado é fruto de uma desigualdade de classes, resultado de um sistema capitalista burocrático que separa o homem e trabalho. Trabalho este que se tornou instrumento de dominação de uma minoria detentora de capital e poder sobre a maioria. Esse processo disseminado pela classe dominante, tem o papel de transformar o homem em número, o valor de troca necessário para fabricação de uma mercadoria.
A importância da Psicologia Social segundo o pensamento do autor é destacar a experiência da desigualdade social pelo indivíduo humilhado, com o objetivo de conscientizar o homem das consequências psicológicas que este ato acarreta tanto para o homem/indivíduo, como para o homem/sociedade.
A Desigualdade e a Invisibilidade Social na Formação da Sociedade Brasileira
O tema da desigualdade social é amparado pela pesquisa de Jessé Souza e Fernando Braga Costa. Esses autores discutem a invisibilidade de atores sociais envolvidos e encobertos pela desigualdade historicamente construída na sociedade brasileira.
O sociólogo Jessé Souza lançou um livro onde retrata a invisibilidade social. De acordo com ele, alguns autores da sociologia nacional tentaram construir em suas obras uma identidade do povo brasileiro, mas recaíram em uma teoria emocional da ação. Os autores citados são Sérgio Buarque, Raimundo Faoro e Roberto Damata.
Fernando Braga da Costa faz uma psicologia crítica que pode ser chamada de psicologia com compromisso social. No livro “Homens Invisíveis”, ele faz relatos da humilhação social, onde retrata a invisibilidade social de perto. Fernando Braga pesquisou sobre os garis que trabalhavam na Universidade de São Paulo e, ao acompanhar a rotina dos mesmos, pode perceber e vivenciar as dificuldades dessa atividade tão desprezada socialmente. No relato o autor conta como experimentou a humilhação e invisibilidade pública enquanto preparava sua tese. Abordaremos essa experiência de forma mais profunda mais à frente.
É importante destacar o compromisso que Fernando Costa Braga exerce com a sociedade ao desenvolver este projeto e como desta forma propicia um resultado crítico, uma psicologia crítica, denunciando comportamentos preconceituosos e excludentes por parte da sociedade. Um projeto com compromisso social não deve perder de vista os contextos sociais e políticos nos quais os sujeitos se inserem .
Em seu livro ele mostra uma prática, com seu olhar, voltada para a diversidade - desigualdade inerente ao seu contexto cultural, valorizando a subjetividade dos sujeitos da sua pesquisa. Ele estabelece uma relação com os garis e busca aprender a realidade deles a todo o momento, a cada ação, cada gesto; nada pode escapar. O projeto do autor é transformação social. Este psicólogo revela sujeitos invisíveis e uma desigualdade que insiste em manter-se invisível para tantas pessoas.
“Homens Invisíveis: Relatos de Uma Humilhação Social” por Fernando Braga da Costa
A tese fala sobre a experiência vivida por Fernando Braga da Costa que foi literalmente a campo. Como tarefa, ele precisou acompanhar durante uma semana o trabalho dos garis onde ele estudava na Cidade Universitária de São Paulo como forma de investigar a humilhação social. Porém, a experiência estedeu-se por nove anos. Partilhando do mesmo sentimento e desprezo que os trabalhadores recebiam ao serem ignorados como postes, isto é, ser considerado como uma peça a mais do ambiente, possibilitou que o psicólogo compreendesse a triste realidade de muitos indivídus. Mesmo sendo aluno dos professores que por ele passavam não era reconhecido e muito menos cumprimentado. O autor conta a humilhação que sentia ao olhar nos olhos das pessoas e não ser reconhecido pelo simples fato de estar vestido de gari e em um dos seus depoimentos ressalta:
“O que brota da percepção de não aparecer para os outros é a sensação de esvaziamento. A partir do enigma, construído em mim, foram se agrupando outros lados da coisa. E os garis, não estariam eles também expostos à invisibilidade? Não viveriam isso ainda mais radicalmente? Mais assiduamente? Outros trabalhadores, em funções outras, mas também muito simples e marcadas pela subalternidade, não passariam também por isso? O que sentiriam em uma situação desse tipo? Aqui evoco outra vez José Moura Gonçalves Filho, quando assevera que não se trata simplesmente de humilhação, mas humilhação social: um sofrimento, sim, sentido em corpo e alma pessoais, mas um sofrimento político. O aparecer de um homem no meio de outros homens, o aparecer de gente enquanto tal, é um acontecimento intersubjetivo, é um fenômeno psicossocial. A subjetividade de cada homem solicitada pela subjetividade de um outro humano. A cegueira pública - um homem que desaparece para outrem - também configura, dessa forma, um evento psicossocial. Tanto o cego como o indivíduo que não pôde ser visto sentem essa realidade, não a ignoram? O olhar fala a alguém. O olhar faz falar. O que dizer, então, desse olhar quando não acontece? Como interpretá-lo, quando parece interrompido? Que desencontro é esse? Aqueles que aparentemente não vêem, não vêem? Percebem que não vêem?”
O autor relata que sofreu na pele a humilhação social a que estão expostos diariamente os trabalhadores em situações subalternas, relegados à condição de 'invisíveis' perante seus 'superiores'.
Humilhação Social e Invisibilidade Pública
Apesar da extrema importância do serviço prestado, os garis sofrem com um problema chamado invisibilidade social e, consequentemente, a humilhação social.
Enquanto outros trabalhadores dirigem-se ao seu trabalho com suas roupas de grife, ternos e gravatas (ou não), eles desfilam de uniformes de cores berrantes como amarelo e laranja; com faixas sinalizadoras que refletem aos faróis ligados. Ainda assim são imperceptíveis, ninguém os cumprimenta, ninguém interage com eles. Esses trabalhadores que diariamente com suas pás, vassouras, carrinhos, sacos e afins prezam e dão duro embaixo de sol ou chuva recolhendo toneladas de lixo das ruas das cidades.
São os garis e margaridas que, tendo tão grande importância suprindo uma necessidade tão básica da população, são vistos como inferiores e subalternos.
Totalmente ignorados e tratados com desprezo por manipularem aquilo que não serve mais, ou seja, o lixo.
Um agravante é que boa parte dos trabalhadores da limpeza pública são negros, nordestinos, pouco escolarizados e afrodecendentes. E quase 80% são homens, vivendo em condições socialmente desfavoráveis. Mas poucos dias de paralisação são o bastante para a população se dar conta de quão imprescindível é o trabalho dos garis.
São trabalhadores como os panfleteiros, pesquisadores com suas pranchetas nas mãos, repositores, catadores de recicláveis, motoristas, pequenos funcionários com grandes funções, que procuram respeito e dignidade dentro de uma sociedade.
Considerações Finais
Concluímos que a humilhação social e a invisibilidade pública são caracterizadas como um problema de ordem política psicossocial. A desigualdade social é a grande responsável pela “cegueira social” a qual diversos trabalhadores são vítimas diariamente. O que, consequentemente, promove a humilhação social. Um homem que não é visto, sequer notado pelo outro, pelo simples fato de não se “enquadrar” nos parâmetros estipulados por uma sociedade capitalista e egoísta, não é cena rara de se ver. Infelizmente, muitos sofrem por serem “homens invisíveis” à sociedade. Faz-se necessária uma mudança nas políticas públicas bem como na mentalidade das pessoas. Pois todos somos iguais e temos os mesmos direitos.
Referências Bibliográficas
PRÓXIMA PÁGINA. Disponível em: <http://proximap.blogspot.com.br/2008/10/homens-invisveis-relatos-de-uma.htmlh> . Acesso em 25 de março de 2014.
COSTA, Fernando Braga. Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponveis/47/47134/tde09012009154159/publico/costafernando_doUITtK4b89QSr2oHAAQ>. Acesso em: 27 de março 2014.
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