Aná lise Ilha das Flores
Por: Fernanda Villalba Lopes • 15/4/2018 • Dissertação • 871 Palavras (4 Páginas) • 455 Visualizações
Disciplina: Estado, Governo e Mercado
Análise “Ilha das Flores”
O documentário em análise demonstra as ironias e contradições existentes no sistema capitalista contemporâneo, marcado pelo método cartesiano, interdependente e racionalista do sistema de mercado, o que leva a distorções não apenas sociais, mas também políticas, econômicas, ideológicas e ambientais.
O tema central do objeto em estudo diz respeito ao fato de determinados grupos sociais estarem marginalizados em relação ao ciclo econômico fechado, capitaneado pelo sistema de mercado, em que predominam as trocas de valor. Na lógica neoliberal, o mercado mostra-se como mecanismo eficiente na geração de riqueza, porém engendra desigualdades que necessitam da intervenção do Estado como forma de equilíbrio entre interesses privados e do bem comum.
É uma contradição evidente, o fato do ser humano, com “telencéfalo altamente desenvolvido” e “polegar opositor”, apesar de formulador de toda essa lógica capitalista, ser capaz de colocar seus pares em situação degradante e indigna, tornando-os até mesmo sobra de um processo de capitalismo selvagem. Esta situação nos faz refletir sobre o contratualismo de Thomas Hobbes e se tratando de seu ponto de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de um governo e uma sociedade fortes.
A ausência completa do Estado, como demonstrada no documentário, gera problemas estruturais e agravamento de questões sociais. No entanto, a história demonstra que a intervenção exagerada do Estado na economia acarreta também diversas anomalias e desequilíbrios de mercado e concorrenciais. Deve-se, portanto, buscar harmonia entre a ação estatal e a de mercado.
Fica latente a preocupação do autor em expor a causa do problema relacionado à marginalização das pessoas que procuravam no lixo a sua subsistência. O mesmo destaca que essas pessoas estão ali inseridas, inclusive preteridas aos porcos, em virtude de não possuírem “dinheiro” e nem “dono”.
Sobre este ponto, fica notória a necessidade de existência do Estado, que detém o poder-dever e legitimidade, por meio de recursos arrecadados através dos impostos (“detentor do dinheiro”), para garantir o bem coletivo em detrimento ao particular. O Estado deve, portanto, oportunizar acesso à dignidade, cidadania, emprego e qualidade de vida de grupos menos favorecidos econômico-socialmente (“Estado como dono dos grupos”). O Estado, desta forma, preencheria a lacuna deixada pelo mercado no tocante a esses direitos
A dissociação entre o Estado e a Sociedade Civil torna aquele um aparelho administrativo das classes dominantes, comprometido com modelo de produção de uma elite, com escassa ou nula atenção por suas complicações ou custos sociais. Desta forma, o Estado diminui fortemente sua atuação e permanece dominado pelos interesses de grandes corporações como bancos e empresas transnacionais.
Embora a concentração de renda gerada pelo modelo capitalista seja um fato mundial, que ocorre tanto em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, especificamente no Brasil o modelo de tributação é severamente regressivo, no sentido de tributar mais as camadas mais pobres da população, o que agrava mais ainda o problema da concentração de renda.
Fica nítido que o modelo atual de divisão do trabalho exige determinadas competências funcionais que carecem a determinados grupos excluídos da sociedade, como as pessoas que habitavam a Ilha das Flores. Como esses indivíduos não possuem nenhum acesso ao trabalho, acabam por não ser inseridos no sistema econômico, o que afeta sensivelmente o exercício de seus direitos sociais. Nesse sentido, mais uma vez cabe ao Estado promover tais direitos, o que historicamente, se costumou denominar “Welfare State”.
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