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Capitalismo Ou Barbarie

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Por:   •  18/11/2014  •  2.392 Palavras (10 Páginas)  •  202 Visualizações

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Desde o final do século passado Netto (1993) já questionava se não seria insensato falar em barbárie, quando a ordem burguesa aparece plenamente constituída, com todas as potencialidades em processo de explicitação?

Não; precisamente por estarmos confrontados com a ordem burguesa plenamente constituída que a barbárie revela sua face contemporânea. A destruição anual de dezenas de milhões de homens, mulheres e crianças pela fome constitui o escândalo do nosso século. A cada cinco segundos, morre uma criança de menos de dez anos, vítima da fome, em um planeta que, no entanto, transborda de riquezas. No seu estado atual a agricultura mundial poderia alimentar sem problemas 12 bilhões de seres humanos – vale dizer, quase duas vezes a população atual. (ZIEGLER, 2013)

Segundo Ziegler (2013) os velhos marxistas alemães da Escola de Frankfurt refletiram muito sobre a percepção mediatizada da realidade pelo individuo, sobre os processos em virtude dos quais a consciência subjetiva está alienada pela doxa de um capitalismo cada vez mais agressivo e autoritário. Procuraram analisar os efeitos da ideologia capitalista dominante, o modo como ela forma o homem, desde sua infância, para aceitar a submissão da sua vida a fins que lhe são alheios, privando-os das possibilidades da autonomia pessoal pela qual se afirma a liberdade. Alguns filósofos falam de uma “dupla historia”: de um lado, a história dos acontecimentos, visível, cotidiana; de outro a história invisível, a da consciência. Eles assinalam que a consciência é modelada pela esperança na História, pelo espírito da Utopia, pela fé ativa na liberdade. Para transformar a realidade, liberar a liberdade do homem, é preciso retomar esta consciência antecipadora, esta força histórica que tem por nome, Utopia, revolução (HORKHEIMER, 1971 apud ZIEGLER, 2013).

O futuro do projeto socialista revolucionário está longe de apresentar-se como decidido e que o cenário dos anos 1990, que para muitos foi o fim nada mais é que apenas mais um episódio, de um processo histórico de larga duração.

1. A “crise do socialismo”

Na entrada dos anos 1990 o projeto socialista revolucionário entra em “crise”, a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, torna-se o símbolo mais emblemático dessa derrocada. A “crise do socialismo” é apresentada como a agonia de ideários que buscavam a superação da ordem burguesa tendo como base a desqualificação da teoria social de Marx.

Segundo Netto (1993) é sabido que no período de transição socialista há que se realizar uma dupla socialização: a socialização do poder político e a socialização da economia e que a socialização do poder político decide da socialização da economia e do seu envolver. A crise do “campo socialista” tem suas raízes neste nó problemático: uma limitadíssima socialização do poder político passou a travar o aprofundamento da socialização da economia.

A centralidade política da crise assenta no fato de que somente uma profunda reestruturação do sistema político poderia abrir a via ao novo padrão de crescimento. Era absolutamente inviável a compatibilização da otimização da economia com a persistência de formas sociopolíticas que enquadram e bloqueiam a participação (sociopolítica) autônoma da principal força produtiva – os trabalhadores. A crise do “campo socialista” é, nessa ótica, uma crise estruturalmente determinada pela exaustão de um padrão de crescimento econômico e do sistema político a ele funcional (NETTO, 1993).

O que entrou em crise foi uma forma determinada de transição socialista – aquela em que o Estado engendrado na revolução aparece fundido como o aparelho partidário, no exercício de um monopólio político que substitui o protagonismo dos trabalhadores e da inteira sociedade. O processo socialista revolucionário de que se originou o “campo socialista” estava completamente deslocado das projeções teóricas de Marx (Gramsci, 1958 apud Netto, 1993). Não foi, portanto, a crise do projeto socialista revolucionário nem a infirmação da possibilidade de transição socialista: e sim a crise de uma forma histórica precisa de transição, a crise de um padrão determinado de ruptura coma a ordem burguesa.

2. A “crise do marxismo” e a teoria marxiana

Se a sumária identificação do tipo de transição experimentado pelas sociedades pós revolucionárias com a transição socialista é utilizada para sancionar a impugnação ídeo-política do projeto socialista, procedimento simétrico é empregado pelos adversários do pensamento socialista revolucionário no terreno ideal: aqui, a sumária identificação das legitimações e construções ideológicas do socialismo real com o marxismo serve para desqualificar a obra teórica de Marx – a crise daquela funciona como aval da inépcia atribuída a esta. (NETTO, 1993).

Ora, rigorosamente, o marxismo, nunca existiu: a partir da obra marxiana (isto é, aquela de lavra pessoal de Marx) inaugurou-se uma tradição teórico-intelectual e política que, sem prejuízo de nítidos supostos e premissas comuns, foi sempre diversificada, plural, problemática e, por vezes, colidente. Em face de sua fonte original essa tradição configura um bloco cultural extremamente complexo e diferenciado, no interior do qual se estruturam e se movem vertentes que concorrem entre si. Razão pelo qual ao longo de sua constituição, frequentemente, a crise de uma linha de reflexão funcionou como acicate para a emergência de uma alternativa no bojo da mesma tradição. Foi assim, por exemplo, quando o marxismo-lenismo, com seu determinismo redutor, entrou em curva decrescente – e se redescobriram as dimensões humanistas da obra marxiana.

Na verdade, é possível visualizar o desenvolvimento e a consolidação da tradição marxista como a resultante de crises que afetam as suas várias vertentes. Esta consideração serve para previnir os equívocos próprios de uma apreensão acrítica e ligeira de fenômenos localizados, como a que infere, da crise da crise do marxismo-lenismo, como a crise da tradição marxista.

De acordo com Netto (1993) o acumulo realizado até hoje pela tradição marxista não oferece, a priori, nenhuma garantia de êxito no trato das problemáticas colocadas à sociedade, mas está claro que o seu enfrentamento não pode dispensar o aporte desta tradição. Em poucas, e obvias, palavras: há o “vivo” e o “morto” na obra marxiana e ela é insuficiente para esclarecer a realidade da ordem burguesa.A validez da teoria marxiana está exatamente no método que permitiu a Marx descobrir as determinações nucleares do movimento do capital, da

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