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Evolucao da ciencia do homem (antropologia)

Por:   •  2/5/2017  •  Dissertação  •  2.295 Palavras (10 Páginas)  •  315 Visualizações

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        TRABALHO DE ANTROPOLOGIA – VITOR DE PAIVA ZUCHINI (1508233) – 27/04/2017

        A expansão Marítima europeia do século XVI, longe de nos representar apenas um fenômeno de consequências econômicas e\ou políticas, evidenciou a transformação cultural e cientifica da população europeia recém-saída dos grilhos feudais e de uma lógica de vida teocêntrica.  O lançamento ao mar e o achamento de outras regiões afirmará tal processo de pura expansão territorial e difusão de “novos hábitos e costumes”, agora calcados por bases racionais. A partir de então o ser humano é portador de seu próprio destino, e cabe a ele conhecer o que os cerca e explicar a realidade – uma vez que Deus o proveu tais dádivas.

        O encontro com o outro, proporcionado pela expansão marítima, pôs em contato povos completamente diferentes e de hábitos opostos (vistos muitas vezes através de olhares de indiferença), marcando uma nova forma de relação com o “desconhecido”, a prática de negação do outro e de sua natureza humana.

        O presente trabalho tem por objetivo, em primeiro lugar, trabalhar com as imagens despertadas nos Europeus pelo contato com os povos indígenas a partir do século XVI, enfatizando o grau de estranheza diante do desconhecido e a ideia de questionamento sobre a natureza humana sobre o outro, afirmando-os como “frutos do meio natural”. Em segundo, trabalharemos com a crítica dos precursores do pensamento antropológico que se desenvolve ao longo dos séculos XVIII e XIX, que tem por finalidade tentar conhecer, e muitas vezes explicar, por bases racionais, o “lugar” de tais povos na história da “evolução” humana, cuja a ciência tentava identificar o grau de “desenvolvimento” de suas indústrias através de uma ideia dualista baseada nos princípios de primitivos – civilizados.

        Como é sabido, o primeiro contato proporcionado por Colombo 1492 com os povos nativos americanos, marcou a história e a relação entre eles a partir de então. Com o objetivo econômico/politico de encontrar novas riquezas através de novas rotas comerciais e o objetivo cultural/religioso de levar seus costumes e sua fé para os povos ditos “bárbaros” hereges, o primeiro contato com os nativos no continente americano foi encarado como uma certa decepção. Decepção essa que começava pelo fato de tentar encontrar, com maior facilidade, riquezas materiais que interessavam aos seus objetivos econômicos e terminava com os hábitos e costumes dessa gente que andavam nus sem receio de mostrar suas vergonhas. Tais hábitos e costumes eram, para tais europeus, tão incomuns e indiferentes, que passaram a questionar a natureza humana de tais indivíduos, uma vez que aproximavam-nos mais aos outros animais que viviam neste meio do que a condição humana. Tanto que em seus escritos, podemos notar tais índios como pertencentes à própria paisagem.

                        "Até então, ia cada vez melhor, na quilo que tinha descoberto, pelas terras                         como pelas flores tas, plantas, frutos, flores e gentes" ("Diário", 25.11.1492).

        Talvez o verso elaborado por Luis Verrísimo - “Tu não tens nada de mim, eu não tenho nada teu. Tu, piniquim. Eu, ropeu         nunca tivesse feito tanto sentido uma vez que evidencia a negação de humanidade do outro e seus costumes - já que andam nus (e a roupa é um importante atributo cultural) e hábitos diferentes.

        Uma das inquietações da época, sobretudo discutida pelos grandes pensadores, era sobre como este “Novo Mundo” deveria ser pensado em relação à organização social e cultural ao “Velho Mundo”. A comparação entre a “cultura” europeia e os “hábitos e costumes” indígenas faziam-nos a questionar sobre qual seria a real natureza daquela gente – tem ou não alma? -. Para eles, tais “selvagens” que não tinham hierarquia, nem leis, dirigentes, religião etc, impossibilitava o paralelo com a cultura europeia(2). Eram mais influenciados pelo meio natural do que por uma organização social em comum com a do europeu. Assim sendo aproximavam o nativo como mais um elemento do restante da paisagem natural, dos animais que ali viviam e a vegetação. Viam-no enquanto “selvagens”.

        Na obra “Do etnocídio”, o autor nos alerta que devido a tal incompreensão sobre o outro misturado com o sentimento de certa “superioridade” cultural do europeu que uma nova atitude é desenvolvida – o etnocídio-, a ação de destruir não fisicamente o outro, mas seus hábitos, costumes, sua cultura, vista como a má diferença. Acreditavam que seus maus hábitos poderiam ser “melhorados” ao transformar seus costumes em algo próximo ao modelo imposto pelos europeus cristãos. É nesta lógica que o autor nos evidencia que os missionários católicos praticavam o etnocídio já que exerciam um papel fundamental na aculturação de tais povos através da imposição do cristianismo e os valores europeus – como a ideia do trabalho, que começará a se afirmar a se desenvolver neste tempo.(3) Julgamento ético/moral, análises baseadas em superstições e comparação cultural sobre os ditos “selvagens” marcavam as atitudes dos europeus que consideravam sua cultura como parâmetro de desenvolvimento e humanidade.

        Todavia, com o passar dos tempos e a afirmação e desenvolvimento de um conhecimento mais calcado pela razão, influenciado pelo desenvolvimento do movimento Renascentista, alguns pensadores passaram a enxergar os grupos de “selvagens” como seres que viviam nas terras como frutos próprios da natureza.  É nesta perspectiva que pensadores como Montaigne, tem um papel fundamental. Em sua obra “Dos Canibais”, o autor tenta aprender e enxergar o costume do canibalismo entre os Tupinambas através de uma ótica de distanciamento do objeto estudado utilizando os manuais de viagens dos missionários e viajantes europeus do século XVI. Seu objetivo, é tentar explicar o evento através de uma metodologia que exclua os julgamentos sociais e as opiniões vulgares, valorizando desta forma um olhar objetivo.

        Montaigne, nesta lógica, tenta construir a imagem de “bárbaros” e “selvagens” tentando se distanciar de análises preconcebidas e de opiniões vulgares que menosprezam e/ou inferiorizam os hábitos culturais de tais povos. Para o autor, quando comparamos a cultura europeia com a dos povos nativos, deveríamos chamá-los enquanto “selvagens” como são selvagens os frutos da própria natureza, e como vivem neste meio natural, são povos originais poucos modificados pela ação do próprio ser humano. Ele parte da argumentação que cada povo desenvolve-se de modo diferente e que a definição de bárbaro ou selvagem, nada mais expressa do que a visão da sociedade que enxerga esta civilização.

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