Resenha - A parte dos anjos e Eu, Daniel Blake
Por: Luana Costa • 4/8/2017 • Resenha • 1.230 Palavras (5 Páginas) • 327 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS - IFCS
Aluna: Luana de Souza Barros Costa
Disciplina: Política Brasileira Contemporânea
Resenha dos filmes “A parte dos anjos” e “Eu, Daniel Blake”:
Os filmes A parte dos anjos e Eu, Daniel Blake retrata a partir de abordagens diferente a falência do modelo neoliberal, um do ponto de vista de um trabalhador que ao se ver precisando do Estado, este o vira as costas, outro retrata a vida de jovens que vivem à margem da sociedade e todo o seu artifício para tentar sobreviver dentro do sistema capitalista. Vale ressaltar que apesar da aproximação por conta do tema, há uma diferença de abordagem, enquanto A parte dos anjos se vale do humor e de uma perspectiva mais jovial, Eu, Daniel Blake é um filme mais sério, mais dramático.
A parte dos anjos descreve a dificuldade de um jovem, prestes a ser pai, de viver dentro do sistema capitalistas após ter sido preso. Durante o cumprimento da pena, o jovem Robbie, encontra outros jovens com a mesma dificuldade que ele, o fato de sempre terem vivido à margem da sociedade e a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho. O mais irônico do filme é o fato do trabalho comunitário terem levado os jovens à degustação de uísque, entretanto é nesse ramo que os jovens projetam uma saída para suas dificuldades.
Com isso, Robbie percebe que pode ser um bom degustador e também como um negociador do ramo, passando a se interessar cada vez mais sobre o assunto. Nesse momento, um barril raro é encontrado em uma fazenda e seu leilão é estimado para 1 milhão de libras. Robbie e seus amigos, então, decide que pegando um pouco, poderiam recomeçar a vida. Essa é a parte mais irônica do filme, visto que a saída ocorre através do crime e não o contrário, mostrando mais uma vez a falência do estado neoliberal ao qual eles vivem.
O diretor Ken Louch utilizou o humor para tornar o filme mais leve, entretanto não deixou de passar a crítica social nesse filme. Se por um lado, os filmes que se pretendem críticos a sociedade costumam retratar a realidade de forma mais dramática, por outro, esse filme consegue ser tão funcional a partir do momento em que mescla o drama de um jovem pai cumprindo trabalhos comunitários e toda sua dificuldade de encontrar um trabalho com as ideias atrapalhadas do grupo de infratores em torno do roubo do whisky.
Já o filme “Eu, Daniel Blake, também dirigido por Ken Louch, se passa na Inglaterra, entretanto, apesar de ser um lugar diferente dos jovens escoceses de A parte dos anjos, também é uma crítica aos governos neoliberais que em meio as crises, arrocham o trabalhador de todas as formas. O filme gira em torno de Daniel Blake que ao se ver precisando da ajuda do Estado, devido sua doença, é abandonado e sua família acaba passando por muita dificuldade.
Daniel Blake, morador de Newscastle, trabalhou a vida inteira como carpinteiro, no entanto sofre um ataque cardíaco e não encontra nenhum apoio por parte do Estado. Impedido de trabalhar por causa da doença, o personagem precisa do auxílio saúde para conseguir sobreviver. O personagem principal não é retratado como um idoso comum, mas como um idoso que não se vê longe de seu trabalho, mas isso não é o principal, o personagem só é usado para retratar como o sistema é cruel e faz das pessoas descartáveis. Essa situação pode ser facilmente comparada as filas do INSS, onde pessoas encontram médicos do governo e mesmo com toda a comprovação de suas doenças e incapacidade física para trabalho, muitas vezes tem o benefício negado. Tal situação empurra facilmente as pessoas para a ilegalidade de comércios ou outros trabalhos à margem, fato que as fazem serem julgadas moralmente pela sociedade que não leva em consideração os fatores que fizeram aquelas pessoas chegarem ali, o que torna ainda mais cruel o que o sistema faz com os trabalhadores.
Este filme mostra como a burocracia foi criada para dificultar a seguridade aos quais os trabalhadores têm por direito. Traçando um paralelo com o Brasil, muitas pessoas pagam a Previdência Social a vida inteira, trabalham comprovadamente em ambientes de risco, mas a Previdência Social só reconhece caso a empresa tenha repassado o dinheiro à previdência, ignorando totalmente os riscos do trabalhador e negando as aposentadorias especiais. Advogados questionam a obscuridade na forma como a previdência aceita ou não os documentos para aposentadoria especial, fato que inibe as pessoas de procurarem a justiça para obtenção dos próprios direitos. Ou seja, além da criação da burocracia para dificultar o acesso aos direitos, cria-se um mecanismo de proteção às irregularidades por parte do Estado. O grande ponto nesse filme é deixar claro que o sistema prefere ver o cidadão morto, pios assim se economiza.
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