As Contradições do Progresso Técnico-Científico

PERVERSIDADE E DESENVOLVIMENTO

Perversidade. Com essa palavra, o geógrafo Milton Santos descreve o atual estágio da globalização. Isso se deve a concentração de desenvolvimento, riquezas e lucro nos países ricos, enquanto os países pobres sofrem com a miséria, fome e propagação de novas enfermidades, como a AIDS. Há, também, uma maior produção científica nos países mais ricos, produzindo novas formas de tratamento médico, órgãos sintéticos, próteses, etc. Entretando, esse avanço não se propaga para todo o globo, principalmente suas partes periféricas, onde ocorre a exploração de bens e mão-de-obra para obtenção do capital utilizado para investir nestas pesquisas.

O tratamento de qualidade e seus progressos normalmente estão concentrados grandes metrópoles, em muitos casos pessoas que vivem no interior necessitam se locomover para ter o tratamento médico adequado, como, no contexto nacional, se locomovem para São Paulo, Rio de Janeiro ou outras capitais grandes. Há carência de médicos em muitas cidades brasileiras, principalmente após a retirada de mais de mil médicos cubanos do programa mais médicos em 2018.

Bem como na questão dos países, o acesso a tratamentos mais avançados varia na questão social. Na maior parte do mundo, inclusive no Brasil, pessoas com mais renda possuem mais condições de pagar um tratamento particular e obter um melhor tratamento, usufruindo das mais avançadas tecnologias, enquanto a população de menor renda resta buscar pela saúde pública, carente e com enormes filas de espera em muitos países, ou se endividar em busca de um tratamento, principalmente em países sem saúde pública.

Israel, recentemente desenvolveu um coração sintético, entretanto essa tecnologia dificilmente chegaria a população palestina, que tem sua água e outras necessidades controlada por Israel, e usufrui de suas terras para construção de fabricas e plantações, obtendo lucro para investimento em suas pesquisas, enquanto a população palestina sofre repressão, comparada por muitos autores, como Angela Davis, com o Apartheid.

Essa relação de exploração está presente nas relações dos países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos. Explora-se os países subdesenvolvidos e desenvolve-se novas tecnologias, entretanto estas não atendem as populações que foram exploradas, processo descrito na "mais-vália universal" de Milton Santos. O aproveitamento do desenvolvimento técnico-científico na sociedade atual é desigual, regional, étnico e social. Portanto, como decorrente do atual estágio da globalização e determinado por esta, se descreve e se baseia na Perversidade.