Escravidão, Resistências e Literatura e no Brasil. Uma Proposta sobre o Acervo da Biblioteca Escolar
Por: MARIA MARTINHA MENDONCA • 5/8/2019 • Trabalho acadêmico • 2.421 Palavras (10 Páginas) • 260 Visualizações
Escravidão, Resistências e Literatura e no Brasil.
Uma Proposta sobre o Acervo da Biblioteca Escolar
PROJETO DE ATIVIDADE PEDAGÓGICA:
DISCIPLINA: Português |
TEMA: Imaginário e Literatura Africana e Afro-brasileira. TÍTULO: Explorando a Biblioteca do CPII. |
PÚBLICO-ALVO: Ano/Série: 1º ano |
OBJETIVOS: – Conhecer o acervo das produções literárias africanas e afro-brasileiras existente na biblioteca da escola. – Sensibilizar a escola pela necessidade de maior visibilidade, atualização e utilização deste acervo. |
MATERIAIS: – Roteiros de Atividades para pesquisa à biblioteca a ser produzido por cada grupo de estudante. – Pranchetas – Canetas – Folhas A4 – Pilot de Cores Variadas – Papel 40 kg – Mesas para montagem dos stands dos livreiros ou editores, convidados, que trabalhem com obras e literaturas Africanas e Afro-brasileiras. |
METODOLOGIA DO TRABALHO:
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AVALIAÇÃO: Avaliação qualitativa e autoavaliação docente e discente. |
Esta proposta foi construída a partir de reflexões e estudos na Especialização de Ensino de História da África do Colégio Pedro II. Seu objetivo é sensibilizar a comunidade escolar sobre a existência e utilização da literatura africana e afro-brasileira no acervo da biblioteca escolar.
Nesse sentindo, buscamos o reconhecimento, conhecimento, utilização e atualização, constante, do acervo da biblioteca escolar de literatura Africana e Afro-brasileira na perspectiva de contribuir como ferramentas pedagógicas interdisciplinares na implementação da lei 10.639/03.
As reflexões levantadas pelas leituras dos textos durante toda a especialização, em especial os textos que “Identidade e a Miragem da Etnicidade: A Jornada de Mahoammah Gardo Baquaqua para as Américas” (LOVEJOY, 2002) e a autobiografia “Mahoammah Gardo Baquaqua: Um nativo do Zoogoo, no interior da África” (BAQUAQUA, 2017) recentemente traduzida e editada no Brasil foram indispensáveis para a proposta que se apresenta tendo em vista que abrem vão ao encontro das leituras sobre as transformações na historiografia da escravidão, onde as análises historiográficas mudam a visão sobre o escravizado, focando na perspectiva da agência, em que o africano escravizado não é mais analisado como um ser coisificado e sim um sujeito que atuou e resistiu à escravidão.
A autobiografia de Baquaqua, uma autobiografia de um escravizado que passou também pelo Brasil, torna-se um registro individual que traz suas condições de vida, mas, que pode ser entendida como parte de processo geral das pessoas escravizadas. Esse sujeito escravizado, suas lutas e resistências serve como parâmetro para pensar o processo de escravidão pelo olhar daqueles que sofreram os horrores deste sistema. LOVEJOY (2002) afirma que
Metodologicamente a abordagem biográfica revelada na história da vida de Mahoammah Gardo Baquaqua sugere que as informações isoladas e dispersas podem vir a ser reunidas, formando a carne sobre os ossos nus das identidades das vítimas da escravidão. (LOVEJOY, 2002. p.35)
A História nos permite conhecer o passado, compreender o presente e pode ajudar a planejar o futuro, mas para isso, faz-se necessário obtermos conhecimentos nas variadas perspectivas, deixando de silenciar a quem sempre fez parte da trama, mas por vezes fora visto como um mero antagonista, os escravizados.
A História do Brasil e da população negra brasileira sempre fora relacionada diretamente com o sistema escravista e por causa dele, embora tenha sido abolido há 129 anos, que não pode ser apagado e nem pôde reparar as consequências deste e por isso, essas consequências não podem e nem devem ser ignoradas.
Um aspecto importante vem ainda de quando este sistema vigorava, o campo das literaturas. Ao pesquisarmos as literaturas produzida pelos viajantes, em especial no Brasil oitocentista, segundo Eneida Maria Mercadante Sela existe quase que uma justaposição entre os termos “negro” e “escravo”. Porém, ela aponta que as pesquisas que revisitam a demografia escrava no Rio de Janeiro, da primeira metade do século XIX, podemos perceber que está presente “a recorrência de imagens e textos que insistem em marcar as origens africanas e dos escravos, das mais diversas formas”, no entanto, a historiografia brasileira ignorou estes aspectos, mas, que torna-se importante na constituição destes sujeitos e suas ressignificações fora de suas nações de origem.
Suely Queiroz aponta que o pensamento de Gilberto Freyre a partir da produção da obra literária “Casa Grande e Senzala” em 1933, apesar de reconhecer os aspectos violentos e corruptores da escravidão, remonta a uma concepção de escravidão mais amena e relações harmoniosas entre senhores e escravos. Esse pensamento de Freyre contribuiu para confundir miscigenação com democratização social. E a partir das críticas a essas ideias é que surgem as primeiras denúncias de que o Brasil como democracia racial seria um mito. A resistência cotidiana escrava propiciou direitos e concessões, estas não foram fruto da benevolência dos senhores, mas antes negociações e conflitos que impunham limites ao arbítrio absoluto dos senhores. A complexidade do real pressupõe contradições que a obra de Freyre e a perspectiva da “história vista de cima” não dá conta.
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