O Povo Na Rua-Rachel Soihet

O povo na rua: manifestações culturais como expressão de cidadania

Rachel Soihet

Contexto: Primeira República

- Classes populares: excluídas de participação política

• Rejeitavam a segregação que as elites tentavam lhes impor

• A partir de manifestações culturais (futebol, samba e candomblé), desenvolveram formas alternativas de organização, criando um tipo de cidadania.

• Integravam-se à vida na cidade, relacionando-se com outras classes sociais.

Futebol

- Importante: analisar as ações das classes populares para ter acesso a esse esporte, considerado próprio das elites antes de 1930.

- Pós 1930: esporte valorizado pela influência negra, dando-lhe um estilo nacional e superando a qualidade do seu país de origem.

- A princípio, praticado pela elite brasileira, que acreditava compartilhar, dessa forma, a civilização e a modernidade inglesa.

- Difusão do esporte: campanha de higienistas a favor do exercício físico como fonte de energia e saúde.

- Apesar do preconceito, o futebol rapidamente se popularizou e as elites lamentaram por isso.

• Justificativas de médicos: prejudicial à saúde dos populares, pois praticam o esporte em terrenos de terra batida, levantando muita poeira; para praticá-lo, o indivíduo precisa estar bem nutrido, o que não era o caso dos populares.

• Tentava-se manter a imagem elitista do futebol, como espaço compartilhado apenas por indivíduos de mesma classe social e da mesma etnia.

• Excluídos dos clubes de maior prestígio, operários, negros e suburbanos passaram a articular os seus próprios clubes.

• Mesmo causando mal-estar, esses clubes menores foram conquistando espaço na Liga Metropolitana.

• Lei do Amadorismo: não poderiam participar quem exercesse profissão braçal. Mas os clubes menores foram ocupando cada vez mais espaço na Liga.

• Nessa luta cotidiana, os populares continuaram praticando, numa crescente participação.

- O povo compartilhava com a elite o entusiasmo pelo esporte. Mas isso não significava ausência de conflitos.

• Cariocas X Paulistas

• Rivalidade entre clubes

• Tensões étnicas e sociais

- Década de 1920

• Muitos atletas negros destacaram-se nos campeonatos.

• Em campeonatos internacionais, o problema era maior, pois se pretendia ter a seleção como representante de uma nação “civilizada”.

• Muitas equipes passaram a remunerar seus jogadores, facilitando a participação de segmentos populares.

• Transformava-se em esporte praticado por pobres e jogadores negros começaram a ganhar prestígio pela qualidade (Leônidas da Silva).

• Aumentam as pressões em prol do profissionalismo.

- Década de 1930

• 1933: criação da primeira entidade esportiva profissional do RJ (Liga Carioca de Futebol).

• À medida que o profissionalismo foi se consolidando, foram surgindo propostas mais vantajosas para os jogadores.

• Os próprios clubes passaram a procurar o apoio de Vargas, pedindo sua intervenção nos conflitos.

• 1937: o governo procurou buscou acelerar a votação da emenda que oficializava os esportes.

• 1938: Escolha de uma seleção nacional para disputar o Campeonato Mundial na França, com a presença de jogadores negros.

- A valorização da participação do negro no futebol não era um fenômeno isolado. Já na década de 1920, o modernismo marcara a importância do negro e do índio para a nossa formação.

• 1933: Gilberto Freyre, com Casa Grande e Senzala ≠ intelectuais que estigmatizavam essa herança, considerando-a fonte de atraso.

• Futebol = indicador de uma democracia racial e social / traço de uma formação harmônica, incorporando diferentes tradições.

• Para Freyre, a ascensão de jogadores negros pela competência demonstrava essa característica.

- Ideais nacionalistas e harmonia social: valores pertencentes ao projeto político do Estado Novo.

- Porém, a ascensão e o reconhecimento dos jogadores negros não foi um processo pacífico, como tentou mostrar Freyre, mas resultado de um processo de lutas. Utilizando-se de táticas diferentes, os populares foram construindo uma cidadania cultural.

Carnaval

- Samba atrelado ao carnaval = manifestação máxima dos populares, quando, de forma irreverente, através de deboches e paródias, traziam à tona suas insatisfações contra a opressão e a discriminação que sofriam.

- Século XIX:

Carnaval = festa luxuosa da tradição europeia, símbolo da civilização e do progresso.

- Foi ganhando adeptos entre populares, em especial, negros, escandalizando a alta sociedade. Mas eles não aceitaram a discriminação e utilizaram-se das manifestações culturais para expressar suas necessidades e anseios.