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O Preço da Economia

Por:   •  17/11/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.699 Palavras (7 Páginas)  •  117 Visualizações

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Docente: Ana Rita Almeida Neto (73569)
UC: Poderes: o Politico e o Economico
Primeiro Trabalho

O Preço da economia

Keyworks: economia; valor; moral e indivíduo

Resumo: Este trabalho foca-se na história da economia, nas suas origens e na sua legitimação. A economia surgiu no século XVIII mas tentou sempre legitimar a sua presença intrínseca e intemporal, porém existem provas que sustentam a não fundamentação destas ideias. É apresentada uma crítica a moralidade que a economia estabelece no individuo e uma crítica as noções de solidariedade e dádiva.

Adam Smith escreveu duas obras paradoxas porém absolutamente fundamentais para compreender os problemas que a introdução da economia trouxe as nossas sociedades. Na “Teoria dos sentimentos morais” defende que os indivíduos são capazes de contrariar as suas tendências naturais egoístas e tomar atitudes que promovam/ beneficiem os outros, já na obra “A riqueza das nações” defende que o que interessa ao individuo é satisfazer os seus interesses individuais. Encontramos esta dualidade em outros autores, como em Émile Durkheim, na sua famosa obra “A Divisão do Trabalho social” onde divide as sociedades em duas categorias: sociedades mecânicas (em que todos trabalhavam para o bem comum) e as sociedades orgânicas (em que cada individuo apesar de estar ligado a uma sociedade é dependente dela). Estas duas vertentes de sociedades estariam relacionadas com as características mais (Sociedades mecânicas) e menos (sociedades orgânicas) solidarias. Comparando-se assim as ideias de um economista com as de um sociólogo, podemos perceber que não estão assim tão desassociadas estas duas disciplinas. Até porque a economia na sua base necessita dos estudos das ciências sociais para se legitimar. Foi nas lógicas de mercados descritas pela História e muitas vezes recolhidas pela Antropologia e confirmadas pela Arqueologia que a Economia plantou as suas raízes, porém e como vamos analisar em seguida, esta sustentação é algo duvidosa.

A Economia segundo os economistas existiu desde sempre, sustentados sobre o princípio das trocas entre os indivíduos. David Graeber, no seu livro “ Debt: The First 5000 Years”, crítica esta legitimação, pois este defende que a historia da economia esta contada ao contrário, mencionando Mitchell-Innes que defendia igualmente que não há historia da economia mas sim história da dívida. Formando o sistema com base primeiro no crédito, só depois surgiu a moeda física (metal cunhado), já a troca começou a ser utilizada posteriormente a estas duas, como um fenómeno ocorrente a quanto da escassez da moeda “Elaborate barter systems often crop up in the wake of the colapse of national economies: most recently in Russia in the ‘90s, and in Argentina around 2002, when rubles in the first case, and dollars in the second, effectively disappearad.” (David Graeber 2011: 37). Esta ideia refuta a evolução da economia com base nas trocas até ao aparecimento da moeda e posterior desenvolvimento do crédito.

A economia como disciplina surge no seculo XIX, quando a religião começou a ficar desacreditada e os indivíduos precisavam de crer em alguma coisa. É com Auguste Comte e a sua ideia positivista do progresso das sociedades, que surge uma nova visão do mundo. Comte não desenvolveu a ideia de economia porém com a ideia de que a lei era igual para todos, desenvolve-se um pensamento de política igualitária que promoveu uma economia individual, pois todos partiriam do mesmo patamar perante a lei, logo conseguiriam atingir o mesmo grau de riqueza. Surge uma nova época para as sociedades, as revoluções europeias trouxeram um novo tipo de Direito, e as leis canónicas (Direito Repressivo) deram lugar as leis civis (Direito contractual). Este novo olhar para o mundo regulou a forma como as pessoas dentro das sociedades se relacionavam. O Direito Contractual é uma forma de controlo social, os indivíduos estabelecem relações por meio de contratos onde definem o que um fará pelo outro e em troco de quê. Desta forma a solidariedade espontânea ficaria em causa, mas será que existe solidariedade livre? Os indivíduos ajudam os outros sem qualquer interesse? Quando alguém dá uma esmola a porta da Igreja fá-lo pelo gosto de ajudar o outro ou porque requer algo com isso? Pegando no exemplo da esmola a porta da Igreja, aquele que recebe a moeda agradece e deseja a quem lha deu todo o sucesso e que “Deus o proteja”, essa atitude de agradecimento e esse desejo de sucesso é tudo o que o “doador” procura para legitimar aquela ação, para além disso o “doador” mostra com este acto uma superioridade sobre aquele individuo. Pois o poder de quem dá é muito superior da de quem recebe e não pode retribuir, retribuindo com palavras que, para as sociedades modernas, não têm muito valor. “A caridade é ainda ofensiva para quem a aceita, e todo o esforço de nossa moral tende a suprimir o patronato inconscientemente e injuriosos do rico “esmoler”” (Mauss 1988: 294) Isto levanta uma outra questão: porque é que devemos/o que é que nos leva a retribuir um presente? A dádiva será uma obrigação? Ou somos livres para quebrar a corrente de retribuição de presentes/dádivas? A antropologia conta com diversas recolhas de informação nos vários continentes em que existem politicas entre sociedades e/ou comunidades onde é comum a troca de presentes como forma de manter a paz. Malinwoski, Radcliffe Brown e outros autores têm descrições minuciosas de cerimónias em que a troca entre os elementos de um grupo é a forma de subsidência da paz e de estabelecer relações duradoras entre populações. Essas dádivas não têm em nada um caracter livre e desinteressado. “Foi opondo a razão e o sentimento, foi estabelecendo a vontade de paz contra loucuras bruscas desse gênero, que os povos conseguiram substituir a guerra, o isolamento e a estagnação pela aliança, a dádiva e o comércio.” (Mauss: 1988: 313) Quando quebrados estes ciclos de oferendas, os povos podem entrar em guerra. Porém estes rituais conhecidos como Potlatch tem outro interesse fundamental para quem a prática, mostrar superioridade e poder. Quem possuir os melhores bens tem mais poder, quando um chefe quer mostrar a sua superioridade absoluta queima todos os bens que lhe foram dados demonstrando que a sua riqueza é superior aos bens materiais. Estes exemplos levam-nos a considerar que as dádivas não têm um caracter livre e arbitrário. Nas nossas sociedades também podemos analisar esse nível pouco livre de dádiva por exemplo nos presentes de aniversário, quando alguém oferece um presente a outra pessoa, espera desde logo um agradecimento e que esse presente seja retribuído no seu aniversário, se isso não acontecer a pessoa que recebeu o primeiro presente é considerada antipática ou rude. Ou seja, o presente oferecido leva consigo algo mais valioso do que o valor material do mesmo, encarreta um valor moral. O valor moral de um objecto é maior do que o valor monetário desse mesmo objecto, uma dádiva dada pelo chefe de uma tribo da Melanésia é superior a um presente dado por um outro elemento da mesma comunidade ou de outra. O objecto pode ter o mesmo valor material, mas o valor moral é maior porque o objecto oferecido pelo chefe da tribo transporta um valor espiritual que está interligado ao posto de poder que o chefe ocupa.

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