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Santa A Aracruz? Malditas As Mulheres?

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Por:   •  26/9/2013  •  3.031 Palavras (13 Páginas)  •  303 Visualizações

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Santa a Aracruz? Malditas as Mulheres?

30 de março de 2006

Por Frei Gilvander Moreira

No dia 20 de janeiro deste ano, a Aracruz Celulose mobilizou helicópteros, bombas, armas, tratores e 120 agentes da Polícia Federal, para destruir duas aldeias e expulsar 50 pessoas dos povos indígenas Tupiniquim e Guarani de sua terra tradicional, no município de Aracruz, Espírito Santo. Na mídia, não se viu nenhuma mãe Tupiniquim ou Guarani com seus filhos chorando, nenhum ministro do Governo condenando a ação, ou mesmo o dono da empresa lamentando a violência.

No dia 8 de março último, Dia Internacional da Mulher, mais de mil mulheres da Via Campesina ocuparam um centro de pesquisa da Aracruz Celulose, no Rio Grande do Sul. Destruíram 1.000.000 de mudas de eucalipto e danificaram pesquisas que fortaleceria a monocultura do eucalipto, pau reto que entorta a vida do povo.

A mídia, latifúndio da comunicação, esbravejou contra as mulheres condenando-as. Mostrou dezenas de vezes uma pesquisadora da Aracruz chorando. Lideranças se posicionaram. Vandalismo? Violência? Arruaça? Atentado à democracia? (Que tipo de democracia?) Antipetismo? (Petismo do início do PT ou o de agora?). As expressões acima foram bombardeadas contras as Mulheres, mas é necessário perguntar: Quem, de fato, praticou vandalismo, violência, arruaça? Quem atentou contra a democracia? As Mulheres ou a Aracruz? Diga o que tu fazes, que direi quem tu és.

A Aracruz Celulose S/A é uma multinacional controlada por quatro acionistas majoritários que detém o direito a voto: Grupo Lorens (28%), Banco Safra (28%), Votorantin (28%) e BNDES (12,5%). Com a monocultura do eucalipto, já transformou o Espírito Santo em um “deserto verde” e foi “laboratório” para treinar os 300 mil homens que, com 300 mil motos-serras, podem desmatar 40% da floresta Amazônica até 2050, 76% do Mato Grosso e 97% do Maranhão. (cf. MEDEIROS, Rogério, Ruschi, o agitador ecológico, Ed. Record, Rio de Janeiro, 1995; e FSP, 23/03/2006, p. A17).

Nos últimos três anos, só a Aracruz Celulose, que tem cerca de 250 mil hectares de eucalipto no Brasil, recebeu do governo brasileiro quase 2 bilhões de reais. Em dezembro de 2005, foi aprovado empréstimo de quase 300 milhões de reais pelo BNDES à Aracruz que, entre outros, servirá para modernização da sua fábrica de celulose no Rio Grande do Sul. O prazo de carência desses créditos do BNDES é de 21 meses, só a partir daí começam as amortizações do empréstimo, cujos prazos chegam a 84 meses. Tudo isso a juros de 2% ao ano, enquanto as taxas de juros praticadas no Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF) vão até 8,75% ao ano! O BNDES também emprestou US$ 318 milhões para a construção da fábrica da Veracel (empresa da Aracruz Celulose e Stora Enso, sueco-filandesa – são concorrentes, mas ao mesmo tempo sócias, alguém entende?), na Bahia.

A Aracruz teve lucro líquido de R$ 1,2 bilhão em 2005. Suas más ações vão desde a expropriação de terras indígenas até a desertificação “produtiva” que solapa a natureza para gerar lucros para uns poucos. E isso com a participação ativa de instituições do governo como BNDES tendo a polícia federal como guardiã e o judiciário como cúmplice.

Mais de 90% da celulose produzida pela Aracruz é exportada, principalmente para os Estados Unidos, que consomem 9 vezes mais papel que os brasileiros. Já são 5 milhões de hectares de monocultura de eucalipto no Brasil, 52,6% em Minas Gerais (cf. INDI 2003). O eucalipto, originário da Austrália, é um vampiro das águas. Tem raiz vertical do tamanho da árvore. Chupa as águas superficiais e as mais profundas. Com tronco reto, cascas e folhas finas, suga a água com facilidade e não a retém. No cerrado, onde as árvores são retorcidas, com cascas e folhas grossas, a água é retida e forma a conhecida “caixa d’água do Brasil. “As plantas do cerrado dispensam as folhas na época da seca. Assim economizam água e fertilizam o chão”, diz dona Ermelinda, uma geraizeira. O “deserto verde” da monocultura do eucalipto tem causado um êxodo rural violento, a expulsão familiar do campo, além de incontáveis impactos ambientais: a biodiversidade destruída, os solos empobrecidos, rios secos, sem contar a enorme poluição gerada pelas fábricas de celulose que contaminam o ar, as águas e ameaçam a saúde humana.

Há 506 anos "ciclos" históricos de monoculturas mantêm o povo do Brasil em situações análogas à escravidão (pau Brasil, borracha, cana-de-açúcar, ouro, café, minério, soja, eucalipto). Pressionado por ONGs ambientalistas, o Ministério Público instaurou inquérito contra três grandes indústrias de celulose que estão se instalando no Rio Grande do Sul, a Votorantin, a Aracruz e a Stora Enso. Isso porque elas estão plantando sem licenciamento ambiental.

“As Mulheres camponesas, pela sua ação disseram que o agronegócio de papel e celulose é espinheiro e abrolhos que não garantem uso social e ecológico da terra e da água. A expansão da monocultura da celulose quer inviabilizar a necessidade da reforma agrária e agrícola no Brasil. Não produz alimento. Ninguém come eucalipto. Não gera emprego proporcional à quantidade de terra utilizada. Não garante uma relação responsável com o ambiente inteiro. Não distribui riqueza, fazendo do Brasil um ponto subordinado - também na área da pesquisa! - no quadro internacional do capital papeleiro. As necessidades infindáveis e insustentáveis de consumo de papel e derivados no capitalismo têm como referência os padrões de uma burguesia mundial que precisa demais do papel porque escreve demais! Embrulha demais! Empacota demais! Compra demais! Gasta demais! Faz propaganda demais! Este modelo absurdo de consumo não vai ser imposto ao campesinato mundial”, profetisa a pastora Nancy Cardoso Pereira.

O papel higiênico, as fraldas, os jornais, os livros, o material de propaganda e as embalagens das milhares de mercadorias do Primeiro Mundo dependem da nossa terra, da nossa água e do nosso clima para existir. Expandir a produção de celulose alimenta este padrão insustentável de consumo que depende da exploração da natureza de uma região do planeta, o sul pobre, para manter o padrão de vida de outro, o norte rico. As plantações de eucalipto alimentam as carvoarias, onde há trabalho escravo, e saciam a fome das caldeiras das siderúrgicas que exigem mineração que detonam com as nascentes e lençóis freáticos.

Os evangelhos da Bíblia (Mateus 21,12-13; Marcos 11,15-19; Lucas 19,45-46 e João 2,13-17) relatam que Jesus, próximo à maior festa judaico-cristã, a Páscoa, impulsionado por uma ira santa, invadiu o templo de Jerusalém,

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