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Fragmento de análise do poema de Manuel Bandeira

Por:   •  28/1/2017  •  Ensaio  •  658 Palavras (3 Páginas)  •  1.086 Visualizações

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O poema de Manuel Bandeira é sem dúvidas um retrato de uma realidade social que, embora não exaltada pelo censo comum, se repetiu na história brasileira, com ações que acontecem em vários cotidianos e um desfecho presente em noticiários, sendo portanto aceitável e coerente. Nesse sentido, trata-se de uma obra poética por meio de uma apresentação verossímil, capaz de suscitar sentimentos como horror, pavor, compaixão e indignação. Esse processo também justifica a catarse da tragédia grega, na qual é reconhecível a função do poema, no que se refere aos efeitos emocionais que se pretende provocar. Por outro lado, a comédia grega também pode ser associada à obra, através da semelhança nos personagens, que são os homens comuns da periferia.

No poema, observa-se ainda uma abordagem poética de um universo factual, na qual se torna necessária a análise das diferentes interpretações possíveis. Considerando o lado poético do poema, fica aberta a possibilidade do leitor interpretar que independente de ser suicídio ou acidente, a morte de João Gostoso é triste e revoltante ao se considerar que aconteceu no dia em que ele se desviou de seu destino e rotina de ser apenas o trabalhador que retorna de suas funções para um barracão sem número. E analisando como notícia, João trata-se de um cidadão humilde e trabalhador, que morreu pelo excesso de bebida e curtição, também por suicídio ou acidente. Sendo assim, o poema dá margem para a interpretação da realidade poética e subjetiva com a qual o autor pretende provocar os diversos sentidos do leitor, por meio de ritmo métrica e outros recursos estilísticos que são amplamente utilizados na linguagem poética; e a realização formal que se apresenta como notícia, um retrato plausível da realidade.

O “Poema tirado de uma notícia de jornal” pode ainda ser associado as teorias expostas por M.H. Abrams, na obra “O Espelho e a Lâmpada”, que propõe, dentre outras coisas, analisar teorias literárias a partir da relação da obra entre o universo, o público e o artista. Mais especificamente, Abrams orienta uma análise conforme três teorias: a mimética, a expressiva e a pragmática.

A poesia, analisada conforme a mimética, indica a presenta de várias “imitações”, de acordo com os padrões de alguns autores citados em “O Espelho e a Lâmpada”. Conforme Platão, o poema imitou algumas ideias, sentidos, e reflexos, uma vez que para a compreensão do mesmo é preciso observar na natureza do que se tratam os ambientes e ações do personagem, assim como é necessário conhecer os sentidos causados por atitudes como beber, dançar e cantar; porém, isso é feito a partir de representações que vão além da estética, como adequa Aristóteles, sendo necessário ainda o elemento de originalidade e compreensão do universo e ideias propostas pelo autor. São assim representados o cidadão comum trabalhador (na pessoa do João Gostoso), os locais (como o morro da Babilônia, o bar Vinte de Novembro e a Lagoa Rodrigo de Freitas) e as ações (trabalhar, beber, cantar, dançar, se afogar numa lagoa), na direção do leitor, com o intuito de ser uma imitação “instrumental com o fim de produzir efeitos sobre um público” (ABRAMS, 2010, p. 32).

É considerando os efeitos sobre o público que se faz necessária a consideração da teoria pragmática, na qual:

“Com a finalidade de ‘instruir e deleitar’, os poetas imitam não ‘o que é, foi ou será’, mas apenas ‘o que pode e deve ser’, de tal forma que os próprios objetos de imitação passam a garantir o propósito moral”.

É nessa teoria que a poesia tem sua forma e estrutura composta de maneira que afete o público. Elementos como o verso longo, sem métrica, que expõe a seriedade de ser o João da notícia, são seguidos de um certo ritmo a partir dos verbos flexionados que provocam uma certa leveza e alegria, que se quebram num final de verso longo, mas de linguagem curta e grossa, que choca o leitor, abrindo espaço para que os demais sentimentos venham, conforme são realizadas as interpretações previamente discutidas.

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