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A RELAÇÃO ENTRE AS PRÁTICAS AVALIATIVAS E A PRODUÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR.

Por:   •  6/6/2019  •  Artigo  •  1.702 Palavras (7 Páginas)  •  132 Visualizações

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A RELAÇÃO ENTRE AS PRÁTICAS AVALIATIVAS E A PRODUÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR.

   

 

 

Felipe Moreira Sousa

Mayara de Souza Bernardo

 

Palavras-chaves: Avaliação, Sentimentos, Fracasso escolar, Classes populares.

 

 

 

O objetivo deste artigo é tecer uma análise acerca do processo avaliativo vivenciado no cotidiano escolar dos tempos atuais, com foco na educação pública do Brasil, que, por sua vez, acarreta na formação de cada indivíduo e, portanto, dá forma aos moldes que presenciamos na sociedade como um todo. Em diálogo com alguns autores como Edgar Morin, Pierre Bourdieu, Maria Helena Souza Patto, Marli André e Laurizete Passos, falamos sobre como as experiências individuais, o capital cultural e, principalmente, o desejo dos que estão no topo da cadeia de poder influenciam para o fracasso escolar.

Para comentarmos o que seria avaliação e quais as suas consequências dentro do ambiente escolar e da vida de cada indivíduo que compõe o processo avaliativo, é necessário entender que atualmente vivenciamos o que podemos identificar como um claro padrão educacional, onde (em sua maioria) o aluno vai à escola para coletar informações e usá-las em um dia previamente marcado pelo professor para que haja uma  avaliação, onde todas aquelas informações precisarão ser descritas e reproduzidas com um certo nível de excelência para que este discente seja considerado um bom aluno. Fica evidente nesta afirmação, que neste dado momento em que os alunos precisam apresentar uma prova satisfatória do que lhes foi passado de conhecimento durante todo um período do ano letivo por parte dos professores, é onde surge a então rotulação do aluno bom, do auno mediano e do aluno considerado ruim, por meio da avaliação do material produzido por esse estudante que servirá como comprovação da qualidade de seus saberes. Portanto, de primeira mão já podemos observar que muitos aspectos do conhecimento ficaram para trás e foram desvalorizados e desqualificados dentro da estrutura desse processo avaliativo. Tudo isso que foi dito, vai ao encontro com a pesquisa realizada por Marli André e Laurizete Passos em seus escritos do artigo “Para além do fracasso escolar” e que buscou evidenciar a avaliação como uma ferramenta simbólica de uso do professor e seus desdobramentos, através de observações durante um ano letivo em uma escola pública paulistana no ano de 1992, mais precisamente na 5ª série daquela escola. No trecho abaixo retirado desta obra, fica ainda mais evidente o que a pesquisa constatou e o que afirmamos neste artigo:

*A avaliação baseia-se quase exclusivamente no resultado de provas;

*A linguagem das provas é, em geral, acadêmica e formal - muito diferente da linguagem usada nos exercícios e no dia a dia da sala de aula;

*A prova é usada para ameaçar e punir;

*O erro jamais é explorado no sentido construtivo;

*A recuperação é mal-entendida e mal-aproveitada;

*A professora sofre com o insucesso do aluno, mas não sabe o que fazer para mudar; (ANDRÉ & PASSOS, 1997, p.112)

 

Como visto na citação acima, o processo avaliativo descrito é falho em muitos aspectos. Tanto o aluno quanto o professor sentem-se atravessados por uma angústia que esse tipo de proposta proporciona. Inicialmente, para alguém que porventura nunca tenha visto e/ou estado em contato com esse tipo de avaliação, pode de fato aparentar ser um procedimento mecânico. Embora seja simples descrever como este processo que parece, a princípio, mecânico, e afirmamos que de fato é, nós não estamos lidando com máquinas, e sim com seres humanos pensantes agindo como emissores e receptores. A natureza humana está sempre presente em todo o tempo, ou seja, nossos sentimentos, afetos, lembranças, imaginário, sonhos, desejos estão sempre presentes, afetando nosso dia a dia de alguma maneira, positivamente ou não. E esses sentimentos e desejos podem afetar o conhecimento acarretando em erros ou ilusões que nos trazem a possibilidade de tomar conclusões precipitadas. Acerca disso, Edgard Morin (2000,

p.20) destaca: “A projeção de nossos desejos ou de nossos medos e as perturbações mentais trazidas por nossas emoções multiplicam os riscos de erro.”.  

Mas é preciso dizer que já no mundo mamífero e, sobretudo, no mundo humano, o desenvolvimento da inteligência é inseparável do mundo da afetividade, isto é, da curiosidade, da paixão, que, por sua vez, são a mola da pesquisa filosófica ou científica. A afetividade pode asfixiar o conhecimento, mas pode também fortalecê-lo. (MORIN, 2000, p.20)  

 

Na citação acima, podemos salientar que Morin evidencia que os sentimentos podem influenciar negativamente ou positivamente na aprendizagem. No desenvolvimento educacional, o aluno traz consigo mais do que a disposição para obter o conhecimento científico. Ele possui uma bagagem de experiências pessoais que o fez despertar certos sentimentos. Isso faz com que suas percepções sobre um determinado conhecimento sejam influenciadas de alguma forma por sua emoção. O professor também possui experiências pessoais. Isso também afeta e forma com que ele transmite o conhecimento para o aluno. Fazendo com que destaque algo que lhe despertou interesse em algum momento ou até frisando e tomando como mais importante alguns assuntos do que outros.  

Com esses sentimentos e emoções carregados das experiências vivenciadas por esta avaliação, os alunos podem se direcionar aos mais variados caminhos, ou seja, o aluno que obteve um bom resultado avaliativo, ficará feliz e guardará em sua vida a experiência como algo proveitoso. O mesmo pode-se dizer do aluno que obteve um resultado mediano, ele não ficará tão feliz quanto o primeiro, mas também não ficará entristecido e esse processo será tratado por ele com certa afeição dependendo do caso. Mas já aquele aluno que obteve um resultado ruim, terá consequências mais preocupantes. Pois o mesmo ficará triste consigo mesmo e a ele será atribuído um fardo muito pesado, o fardo do fracasso. Tal fardo esse que maldosamente o fará acreditar que ele é burro, fraco, não consegue aprender e muitos outros problemas que habitam o tema do fracasso escolar. E isso se agrava ainda mais se esse estudante for oriundo socialmente de uma família sem condições financeiras e que segundo os escritos de Bourdieu, não apresentam uma bagagem de capital econômico, capital social, simbólico e neste caso, principalmente o capital cultural[1] que de fato compõem  a base da valorização desse tipo de avaliação presente nas salas de aula de nosso país. Para configurar uma afirmação do que relatamos, aqui fica mais um trecho da obra de André e Passos:

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