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BADINTER, E. Um amor Conquistado - o mito do amor materno (Fichamento)

Por:   •  24/9/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.697 Palavras (7 Páginas)  •  274 Visualizações

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A INDIFERENÇA MATERNA

Até o fim do século XVIII o amor materno não tinha valor social e moral. Essa indiferença aos filhos era notada tanto na classe trabalhadora quanto nas famílias abastadas, que corriam muito menos riscos de ver seus filhos mortos antes do primeiro ano de vida. O distanciamento não era um mecanismo de defesa contra a dor da morte, mas o contrário: os filhos morriam em grande número devido à omissão dos pais.

A insensibilidade é tratada como algo natural e comumente os pais só compareciam nos enterros de crianças com mais de cinco anos. A penúria era exceção, notada apenas quando se tratava de crianças com qualidades excepcionais. Em geral, comentários sobre a morte tinham mais caráter religioso do que sofrimento real.

O amor é oferecido de acordo com o que a criança pode proporcionar socialmente. Assim, diferenças de sexo e ordem de nascimento refletem no sentimento materno, valorizando o primogênito, que será herdeiro e cuidará da mãe quando o pai falecer. Os irmãos mais novos não recebem mais carinho como compensação, pelo contrário, são educados com mais dureza para tolerar as tragédias de sua sorte. Esses fatores sempre geraram inúmeras disputas entre os filhos.

A recusa ao aleitamento acontecia porque as mulheres não estavam dispostas a sacrificar seu lugar e posto na corte, ou na vida social e mundana. Para não amamentar ou cuidar dos filhos as mulheres alegavam inconveniência, perturbação e sensibilidade nervosa por causa do choro, que supostamente a privação do leite “líquido precioso” causaria males para a mãe e também o argumento estético muito comum até hoje sobre a deformidade dos seios após a lactação. O hábito de delegar essas funções para as amas de leite colaborou para a distinção social de classes, pois a aristocracia do século XVII e XVIII via esse gesto(amamentação) como animalesco e despudorado e, portanto, quem se comporta desta forma não pertence à alta classe.

Essas mulheres aristocratas, por não cuidarem dos filhos podiam utilizar seu tempo livre para seus próprios interesses, como a política, as artes e a cultura em geral. Assim, de certa forma buscaram se igualar aos homens, o que foi visto de forma negativa por seus pais e maridos. Portanto, para frear a autonomia delas, os homens buscaram reconduzi-las ao papel de mãe de esposa, valorizando as tarefas maternas. As camponesas, mesmo as ricas, nunca tiveram acesso a cultura ou convívio social constante, assim se mantiveram mais apegadas às funções tradicionais como cuidar da família e, no máximo, chefiar seus criados.

A escolha das mulheres de cuidar ou não dos recém-nascidos passou a se basear em sua condição financeira e em sua posição social, que poderia permitir que a mulher desempenhasse um papel mais significante pro universo familiar ou na sociedade. No final do século XVIII e início do XIX a mulher burguesa já aceita com mais facilidade seu papel de boa mãe que se sacrifica para que o filho viva mais e melhor junto dela.

A medicina da época começa a publicar artigos para difundir a idéia de que o aleitamento é essencial para a sobrevivência e saúde do bebê. As mulheres da cidade são incentivadas a amamentar elas mesmas, ou a contratar uma ama-de-leite que venha até o seu lar, para não se separar da criança. As camponesas que faziam o trabalho de ama também passam a priorizar a saúde de seus próprios filhos, recusando-se em grande número a dar leite a bebês desconhecidos por dinheiro.

Na medida em que as mulheres vão cedendo sua liberdade para a liberdade dos filhos, abandona-se o costume de enfaixar os bebês, método usado para aprisionar bebês enquanto a cuidadora se ocupa de suas tarefas. As camponesas mantiveram esse hábito até o século XIX, pois essas mulheres tinham que trabalhar e não podiam vigiar constantemente sua cria. Com a libertação, os filhos puderam reagir a estímulos da mãe, fortalecendo assim as relações de carinho e a transformação do método educacional, que antes era embasado no medo.

A saúde e a higiene do bebê se tornam prioridades na vida feminina, atentando-se à alimentação na gestação e lactação, pois nota-se a importância da qualidade do leite pra saúde do bebê, assim como os banhos diários, roupas confortáveis e exercício físico são benéficos para o fortalecimento corporal. A morte da criança passa a ser sentida com mais dor e drama pelos pais, pois agora o filho é o bem mais precioso e insubstituível da família. Essa preocupação abre espaço para os médicos a domicílio, pois as mães estão interessadas em receber conselhos sobre a saúde infantil, além da vacinação preventiva de doenças como a varíola. Essa profilaxia chegará ao campo somente décadas depois.

A mulher busca limitar sua fecundidade para criar um número menor de filhos com mais qualidade. Elas passam mais tempo com a família do que suas mães passaram com elas e a popularidade de internatos e conventos declina, pois passam a ser vistos como um gesto de falta de amor, além da preocupação com as condições de higiene e promiscuidade nos dormitórios. A boa mãe é a que zela e cuida, e não amar sua cria é um gesto sem perdão.

As saídas sociais e a vida mundana também são abandonadas para assegurar que os filhos tenham um futuro e uma vida mais brilhante que a dos pais. A mãe adquire um papel na família muito importante, passando a ser o centro da vida familiar. Ainda assim, muitas mulheres se recusaram a imitar esse modelo. As novas mães pertencem à classe burguesa abastada, mas não são as que desejam imitar a aristocracia. Essas mulheres buscavam ser a mãe idealizada por Rousseau em “Émile”, obra onde o autor define e encoraja o papel da mãe devota, e também aconselha atitudes como banhos frios e não cobrir a criança mesmo no inverno. Ainda assim, essas mães eram minoria e levou muito tempo até que essa “moda” se tornasse popular.

A mulher burguesa demorou e foi a última a abandonar seus filhos com as amas, pois ao contrário das aristocratas, não tinham interesse em se dedicar a cultura e intelectualidade, mas assim como elas não tinham necessidade de trabalhar ao lado do marido. Portanto, sem grandes ideais de vida, se

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