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RESENHA DO FILME "KASPAR HAUSER"

Por:   •  18/10/2017  •  Resenha  •  1.870 Palavras (8 Páginas)  •  976 Visualizações

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CURSO DE PSICOLOGIA

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Filme “O Enigma de Kaspar Hauser”

Guarulhos

2017


“O enigma de Kaspar Hauser”, do diretor alemão Werner Herzog, desdobra-se na história de um jovem que, desde o seu nascimento, foi mantido em cativeiro e privado do convívio social e do mundo exterior, até que fora libertado e encontrado em uma praça de Nuremberg. Sem ainda ter desenvolvido os movimentos das pernas e da fala, trazia consigo um bilhete anônimo dirigido ao capitão de cavalaria da cidade, onde ligeiramente foi contada a trajetória de vida do jovem.  Sabia apenas pedir que o tornasse cavaleiro como fora seu pai, K. foi identificado como grotesco e diferente do meio sociocultural daquela região e época. Assim como muitos o ajudaram, muitos também o viam de maneira arredia. Tratado como um interessante absurdo, foi centro de pesquisas, mas também espetáculo de circo, já que naquela época, o modelo de circo girava em torno da exposição de casos anômalos, diferentes, idiossincráticos. Ainda que todos soubessem das limitações que sua vida anterior, da falta de práxis e das noções de regras sociais, os esforços em transformar esse novo cidadão da cidade não foram poucos ou pequenos. Foi abrigado por um professor que o civilizou, aprendendo a falar, andar e tocar instrumentos entre outras atividades. Passando a observar questionar sobre as coisas mundanas. Poucos anos depois de sua aparição, foi agredido, recuperou-se, porém na segunda agressão, onde aconteceu também uma suposta emboscada, foi assassinado com um objeto cortante no peito e morreu algum tempo depois, seu cérebro dessecado para que pudessem estudar o motivo de sua estranheza, nada de relevante foi encontrado, o enigma de sua vida e a identidade de seu assassino nunca foram desvendados. O personagem sofreu privações no desenvolvimento na vida, é estranho e mostra estranheza diante que não era acostumado a ver, escutar, sentir e perceber. As tentativas de ensina-lo a falar pareciam ter sucesso ao passo que ele conseguia repetir e fazer novas construções de frases, mas não conseguia desenvolver novas questões somente através da linguagem e da comunicação. Sua concepção das coisas não amadurecia com a mesma velocidade que aprendia novas palavras e conceitos.  Da mesma forma, via coisas que nem sempre entendia como eram feitas. Não tinha noção de distância, de altura, de espaço, e isso o deixava confuso e não conseguia construir representações. Aprendia palavras, mas nem sempre aprendia o que elas significavam, sua construção de signo linguístico permanecia incompleta, já que sabia o som, mas não era capaz de identificar o conceito. Não compreendia as concepções que a sociedade esperava dele porque lhe faltavam os processos sociais de aprendizagem necessários para que fosse possível apreender certas noções, como as abstratas e as culturais. A linguagem sem as práticas sociais não se revela de maneira completa e funcional, adquirir linguagem se não existir nenhuma relação dela com a sociedade linguística que se está inserido não basta. A linguagem perde  a função quando não está em contato com as representações necessárias para a compreensão e a construção do conhecimento. Ao conhecer, compartilhar e registra o produto de sua atividade pensante cria cultura e nela como conjunto essencial de regras e mecanismo de controle que rege  comportamento e dirigem padrões. O personagem por ter vivido longe dos padrões culturais e do conjunto de símbolos significantes para aquela sociedade, tornou-se um exemplo de caos humano que age sem obedecer àquela lógica comum e que não domina e nem entende totalmente as situações e os próprios sentimentos.  A figura dele sugere a imagem de um ser humano totalmente despido de valores sociais prontos para reanalisar o mundo com uma nova maneira individual e não imposta por uma sociedade prévia, ele é destituído de valores milenares, de antigos costumes, de conhecimentos que normalmente adquirimos sem o entendimento completo. Ele  questiona a existência de Deus, ou a utilidade das mulheres.  Quando inserido toma consciência de alguns fatos e por chegada negativa, pensava e agia diferente além de questionador.  No filme, o auge desse racionalismo positivista fica evidenciado tanto pela repulsa que a sociedade mostra em relação a Kaspar, ao encenar após sua morte buscam explicação para sua existência através da dissecação de seu cérebro. A história serve de reflexão para muitos campos da ciência além de ser possível extrair questões essenciais como a cultura, a organização social, o relacionamento ou a rejeição que determinado grupo realiza, a questão mental, a percepção e a representação.  

Analisando o percurso de desenvolvimento de K, personagem real e enigmático que, quando encontrado em Nuremberg, em 1928, com supostamente 15 anos, era visto como um garoto no corpo de um adolescente além de selvagem, não sabia falar, nem andar e não se comportava como humano. Apoiando-se em estudos de Vygotsky e Luria, que indicam que a percepção depende, sobretudo, da práxis social, necessária para gestar o referencial cultural de apreensão da realidade. Como se articulou linguagem e pensamento no desenvolvimento cognitivo de K e como ele concebesse seu mundo, tendo sido privado dos filtros e estereótipos culturais que condicionam a percepção e o conhecimento, foi privado de educação, condicionamento e repressão. Naquela época a civilização era modelo a ser alcançado e os que não correspondiam eram tachados como primitivo e atrasado.  K. através da linguagem aprendeu a observar e verbalizar, mas não entende as explicações que as pessoas davam e assim ficava confuso, não conseguindo verbalizar o conteúdo que pensava. Nisso nada era percebido por K. da forma como a prática social definia, ele não tinha essa prática e passou por um processo de socialização, onde exercitaria a compreensão através da prática social, não consegue portanto atribuir significado às coisas, mesmo tendo adquirido a linguagem. Assim, somos levados a pensar que não apenas o sistema perceptual, mas as estruturas mentais e a própria linguagem são resultantes da prática social, ou seja, as práticas culturais "modelam" a percepção da realidade e o conhecimento por parte do sujeito. K. não foi exposto a essa "modelagem" cultural, e era visto como um ser "incompleto," como se estivesse sempre em "déficit" em relação aos outros. Ele se sente perturbado pelo mundo: "o mundo é todo mau," comenta após perceber que alguém pisou as flores que plantara no jardim, isso era incômodo, pois via a realidade diferente, via a pessoas e tudo ao redor com espanto de um olhar puro, sem reservas, sem estereótipos.

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