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Resenha do Filme "Meninos Não Choram"

Por:   •  12/10/2016  •  Resenha  •  1.202 Palavras (5 Páginas)  •  2.074 Visualizações

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O filme Meninos Não Choram, dirigido por Kimberly Peirce e baseado em um caso real, retrata a história de Brandon Teena, um jovem do interior dos EUA, que guarda secretamente sua identificação como homem transexual. A história do filme gira em torno da questão da identidade de Teena Brandon / Brandon Teena, isto é, trata-se de uma pessoa que foi designada como mulher no momento de seu nascimento por possuir a genitália marcada como feminina (vagina) e que, por qualquer motivo, em algum momento de sua vida, passou a se reconhecer como pertencente ao gênero masculino. Nascido em Lincoln, muda-se para Falls City, Nebraska rural, onde vê uma chance de escapar dos problemas em sua cidade natal. Na nova cidade conhece John, Tom, Candance e Lana com quem Brandon começa um relacionamento romântico. Depois de descobrirem que Brandon não é um (ou seja, biológico) homem "real", John e Tom estupram e assassinam brutalmente Brandon em uma tentativa de restaurar a ordem do género "puro" binário. O filme, no entanto, vai além do incidente descrito, trazendo reflexões sobre as noções de gênero, identidade, normatividade, em uma cultura heterossexual hegemônica.

A ideologia de gênero dominante da masculinidade patriarcal é centrada na estrutural oposição binária de sexo e gênero: especificamente, masculino e feminino, masculinidade e feminilidade, heterossexualidade e homossexualidade. Estas etiquetas de divisão são usadas ​​para excluir certos grupos de aceder plenamente o poder e os privilégios da elite hegemônica. O filme é centrado em torno da subjetividade transgênero, posicionando o risco da violência enfrentada por pessoas trans como consequência das limitações ideológicas de binários de gênero, ele explora a maneira como identidades fixas estão inscritas nos corpos e subjetividades através de várias normas reguladoras.

No artigo Gênero, sexo, sexualidades - Categorias do debate contemporâneo – Wolff e Saldanha trazem que, embora em constante transformação, as normas da sociedade ocidental contemporânea ainda criam a expectativa de que uma pessoa que nasceu com características físicas e biológicas reconhecidas como “fêmea”, comporte-se de maneira “feminina”e tenha desejo sexual por “homens” e aqueles que, por sua vez, tenham nascido com características físicas de “macho”, comportem-se de maneira “masculina” e tenham desejo sexual por “mulheres”(WOLFF, SALDANHA, 2015). Os autores falam de três categorias teóricas principais e que podem se cruzar de formas variadas:

O sexo, que se refere ao dado físico-biológico, marcado pela presença de aparelho genital e outras características fisiológicas que classificam os seres humanos como machos (associado aos homens), fêmeas (associado às mulheres) e intersex (antigamente chamados de hermafroditas). O gênero, que se refere aos aspectos culturais, históricos e sociais de como se classificaram as pessoas a partir do substrato físico-biológico, do que resultam identificações como masculino e feminino (cisgêneros), transgêneros (trans-homem, trans- -mulher) ou não binárias e que também se relaciona com o que tem sido chamado de “expressão” ou “papel” sexual (como as pessoas performatizam ou representam seu gênero) e a sexualidade ou orientação sexual, que se refere às práticas sexuais das pessoas, seja orientada para pessoas do sexo oposto (heterossexuais), para pessoas do mesmo sexo (homossexuais), para ambos (bissexuais), para pessoas trans (omni/pansexuais) ou para nenhum (assexuais) (SALDANHA, WOlFF, 2015).

O início do filme retrata as expectativas de masculinidade que Brandon busca manter, tentando se conformar com a visão socialmente construída do que os homens se parecem, e como eles precisam agir de acordo com as normas de gênero socialmente construídos da figura masculina. O comportamento de Brandon no filme é baseado em expectativas externas de masculinidade. Através desses papéis, os meninos são ensinados a não demonstrarem fraqueza, não chorarem. O próprio título do filme: Meninos Não Choram (tradução literal do título original Boys Don’t cry), remete a um tipo de masculinidade baseada em uma ideia de natureza forte e viril, aquele que “não chora”. Essas expectativas são amplificadas quando Brandon adota comportamentos agressivos, naturalizados e minimizados na cultura em geral, reforçando as ideologias de masculinidade através de atos de violência (brigas, perseguições de carros) para demonstrar força e poder, representativos de um modelo de ser homem que inclui a expressão da agressividade, o confronto, etc. Meninos Não choram destaca como a cultura patriarcal, dominante e suas configurações binárias de sexo, gênero e sexualidade é cumplice da dominância masculina através da violência e como isso resulta em inúmeras mortes violentas de jovens. Ao invés de aceitar violência como naturalizada, justificando atos violentos através de modelos de como ser homem, a violência deveria ser entendida como parte de um cenário de intolerância dentro da ordem sócio-cultural patriarcal dominante.

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