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O Martírio Da Vitória Passageira

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Por:   •  10/8/2013  •  705 Palavras (3 Páginas)  •  268 Visualizações

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O martírio da vitória passageira

Há uma característica constante nos filmes de Mel Gibson. Temos invariavelmente um herói oprimido em sua terra, que, depois de sofrer na pele um festival de torturas físicas, alimenta-se da dor imposta pelos inimigos para obter superioridade sobre-humana, que o torna apto a libertar seu povo, literal ou simbolicamente – embora essa libertação não seja confirmada pela sequência da História. Durante o qual os rebeldes ganham suas batalhas, sem com isso vencerem a guerra em sentido amplo.

Essa superação do sofrimento na carne, impingida por um grupo em relação a outro, e, agora, em Apocalypto, entre um caçador de uma tribo alegre e os guerreiros de outra tribo (adeptos, por tradição, de sacrifícios humanos), sendo este ambientado na América Central, no epílogo do período pré-chegada dos espanhóis. Em todos essas empreitadas, atola-se no maniqueísmo mais deslavado, criando-se generalizações estigmatizantes, sem relativizações e contextos, de modo a se afirmar um princípio de vida: a regra do toma lá, dá cá, tão normatizada pelo cinema de gênero. A legitimação da reação violenta contra a ação violenta, de modo a romper fronteiras entre vingança e justiça, ressentimento e auto-defesa, cria uma mentalidade paradoxal dentro da chave cristã do martírio carnal – à qual, de alguma forma, essas narrativas epidérmicas estão vinculadas. A dor aqui não salva ou redime, não visa à transcendência ou a purificação, estimulando, ao contrário, o troco (título, aliás, de um filme estrelado por Gibson, e no qual se diz que ele teve grande influência sobre a realização) e, em última instância, tornando-o moralmente aceitável.

A novidade em Apocalypto, ausente de seus outros filmes, é a importância da natureza. Logo na primeira sequência, um traveling lento adentra a mata, com o som empenhado em nos legendar esse ambiente como espaço hostil. Após alguns segundos, vemos passar um corpo, de relance, antes da aparição de um animal selvagem, acompanhado de um corte sonoro impactante, que nos instala em um mundo de ameaças. Elas virão tanto pelas mãos dos homens como pela própria condição da natureza. As forças naturais serão apresentadas como agressivas, contra o homem; mas, se dominadas com sabedoria, poderão também servir como arma de defesa. É assim que, embora ao longo da narrativa vejamos ataques de cobras, macacos e leopardos, além dos riscos ofertados por cachoeira e por areia movediça, o herói usará abelhas para se safar. Sua família ficará protegida, por todo o tempo, dentro de um buraco e, quando está para se ampliar, o parto se dará sob a água – fazendo do buraco uma espécie de útero da natureza, de onde homem e a mulher surgem no Genesis. Será a terra pela qual luta que irá manter acesa a espera da resistência.

Pode-se adentrar na questão das representações estereotipadas de povos e de culturas, até porque o filme é prato cheio dentro do contexto das pesquisas e das análises multiculturalistas, mas a dinâmica de encenação é tão pouco verossímil que o efeito ilusionista acaba esvaziado em si mesmo, justamente por ameaçar nossa crença naquelas imagens. Gibson escora-se nos dialetos maias para escapar da acusação de manipulação irresponsável de identidades culturais históricas, embora tenham sido várias as reações negativas a sua apresentação

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