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Resenha Crítica Manual Prático de Mindfulness

Por:   •  1/2/2019  •  Resenha  •  1.285 Palavras (6 Páginas)  •  524 Visualizações

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Resenha Crítica Manual prático de Mindfulness

Adaptar de forma sistematizada para nossa sociedade e momento histórico um conceito transcultural como Mindfulness é um grande desafio para os teóricos e pesquisadores da área, porém é um caminho fundamental para o desenvolvimento de diretrizes éticas e baseadas em evidencias, uma vez que figura entre as principais indicações das práticas de Mindfulness oferecer subsídios para a promoção de saúde a uma população variada e em diversos contextos.

A partir da popularização do termo, Mindfulness tem sido discutido em cenários que variam de programas de auditório, revistas de generalidades, telejornais e em muitos espaços nas redes sociais. Em virtude deste boom de interesse e da exploração do tema, é natural que ocorram uma enorme variedade de percepções equivocadas sobre Mindfulness, que vão desde associar suas práticas diretamente ao budismo e outras tradições orientais, até ser vendido como uma ferramenta cientificamente comprovada para a cura de todos os males da pós modernidade. Em um artigo publicado há alguns anos, o filosofo e sociólogo  Slavoj Zizeck levantou uma bandeira contra o que considera uma utilização de tradições orientais com a finalidade de adestrar o homem moderno a aceitar passivamente todos os estressores e injustiças sociais do mundo capitalista, o autor em questão, desfere também criticas importantes sobre a crescente  adesão popular a práticas de Mindfulness no ocidente questionando se não seria um meio de controle social, a medida que estimula a aceitação e a docilidade frente as adversidades do mundo.

Os argumentos de Zizeck são interessantes e em alguns pontos bem fundamentados, mas expressam uma opinião baseada em estereótipos da meditação como uma prática solitária, individualista e que fomenta nas pessoas a passividade, a resignação submissa e a alienação diante do sofrimento do outro e das questões políticas e sociais prementes em nosso tempo. Diante do exposto, pode-se refletir que se um acadêmico do calibre de Zizeck pode construir percepções tão distorcidas sobre Mindfulness, provavelmente a população geral ficaria ainda mais exposta a derivações equivocadas de suas propostas e práticas, abrindo também espaço para uma exploração puramente comercial de suas técnicas e princípios.

Ao considerarmos estes fatores, destaca-se a importância de livros como o Manual Prático de Mindfulness escrito pelos professores Marcelo Demarzo da Universidade Federal de São Paulo e Javier Garcia Campayo da Universidad de Zaragoza. O livro foi inteiramente redigido de forma objetiva com os autores claramente comprometidos em ilustrar o desenvolvimento das práticas de Mindfulness com base em evidencias, considerando sua eficácia a partir de  dados de pesquisa, mas também, considerando suas restrições e em hipótese alguma afirmando sua utilização ampla e irrestrita como a solução final para o sofrimento no mundo.

No decorrer do texto, os autores trazem questões muito esclarecedoras sobre as origens do Mindfulness no ocidente, antecipando alguns equívocos e esclarecendo o leitor logo em seus primeiros capítulos acerca de mitos frequentes sobre a prática. Ao contrário do que pensa Zizeck os autores trabalham o conceito de aceitação como uma atitude ativa de compreender o sofrimento como aspecto inevitável da vida, mas também com potencial para desenvolver um maior nível de   discernimento sobre quais elementos um individuo tem o poder de modificar pessoalmente, diferenciando assim a aceitação de outros conceitos como resignação passiva e confronto irracional  

Após discutir aspectos teóricos, as práticas formais e informais são exemplificadas com detalhes que permitem com facilidade sua reprodução. Um dos méritos do livro é deixar claro para o leitor que, apesar da simplicidade dos exercícios descritos, a intenção de incorporar uma atitude “mindfull “na vida diária pode ser uma tarefa complexa e exigir não apenas a repetição passo a passo das práticas ilustradas na obra, mas também um novo posicionamento frente ao ambiente, e principalmente, aos seus próprios conteúdos mentais. Ao longo dos capitulos, conceitos chave como aceitação, curiosidade, consciência, atenção, auto compaixão são mesclados com exemplos das práticas. Por fim, o livro inspira o leitor a projetar uma diversidade ampla de cenários em que as práticas de Mindfulness podem se firmar como uma medida potencialmente eficaz para a promoção de saúde e bem estar.

 Logos nas primeiras paginas, os autores referem-se a Mindflness como um estado de consciência que sempre possuímos mas que não aprendemos a desenvolver por aspectos próprios da cultura que nos expõe cada vez mais a estímulos excessivos, tarefas múltiplas e tecnologias dispersivas. Nesse ponto, os autores propõe que se devidamente orientados e treinados poderíamos reaprender a alcançar esse estado de consciência e assim transitar de um “modo fazer” para um “modo ser”. O “modo fazer” refere-se ao funcionamento habitual, culturalmente condicionado, pouco reflexivo e reativo ao ambiente, caracterizado especialmente pela sensação de estar no “piloto automático”, por dispersão da consciência do aqui e agora e uma identificação estreita do individuo com seus conteúdos mentais, rotulações e julgamentos. Neste “modo fazer” passaríamos então a maior parte do tempo alheios a uma serie de elementos internos e externos que enriqueceriam nossas experiências, caso tornados conscientes.

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