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Resenha do Texto Narrativas Sobre a América o Trauma e Suas Expressões Temporais

Por:   •  5/5/2019  •  Resenha  •  2.534 Palavras (11 Páginas)  •  246 Visualizações

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Resumo do texto: Narrativas sobre a América: o trauma e suas expressões temporais

No tópico “O ensaio como ordenador do projeto nacional oitocentista”, como Fredrigo e Bittencourt vem dizendo ao longo do texto, o ensaio é desde o século XIX considerado como um gênero fundador no que diz respeito a escrita sobre a América Latina, que advém dos discursos dos processos revolucionários. As autoras desses ensaios caracterizaram a América Latina como sendo portadora de uma identidade que lhe era negada externamente e usavam da independência como ponto de partida para “instituir o elo perdido da nacionalidade”. Eles tinham como aspiração demarcar um lugar referencial para a América Latina através de textos fundadores, portanto os ensaios representavam um projeto identitário e de memória que era fundamental para escrita da história das comunidades nacionais que surgiram do processo de emancipação. Segundo as autoras: “conectando política e discurso […] a América construiu suas repúblicas, aliando as armas à palavra, como fundamento para a luta por autonomia e para forjar nações” [1] Para elas existiram distintas abordagens e soluções dirigidas a demarcar esse lugar e para a “regeneração” dos povos da América Hispânica. Além disso há um tipo de escrita na América Latina que aprecia mais a ensaística do que a escrita histórica propriamente dita, o que para as autoras seria uma “[…] ‘vício de origem’ que contribuiria para a pouca sistematização e reverberação das reflexões historiográficas no continente.” [2]

Após explicado isso, as autoras se voltam a analisar alguns ensaios do século XIX, começando pelo o do chileno Francisco Bilbao. Assim como em outras obras do período, a obra de Bilbao, El evangelio americano, apresenta a oposição entre Europa e América e a crítica a colonização espanhola. Ele critica também as concepções de progresso e civilização estimadas pelas elites mexicanas e desaprova o que chamou de “falácia da civilização”, quando o México foi invadido pelos franceses, o que para ele fez regredir a fraternidade e dignidade universais. Para Bilbao, ao contrário do que muitos defendiam, a solução não seria se submeter a “França civilizada” e sim alcançar a unidade latino-americana. E para ele era de extrema necessidade que se criasse um evangelho americano, ordenado pela autonomia e respeito entre os povos, já que o modelo de civilização europeia era pautado pela “doutrina da escravidão do mais fraco pelo mais forte e pelo despotismo” [3]

De tal forma, de acordo com Fredrigo e Bittencourt, Bilbao recomendava que se houvesse uma superação do passado colonial, tanto em teor político e como espiritual, mas o que não significaria dissolver a tradição histórica precedente. O que ele propunha era uma reelaboração que reconhecesse uma tradição histórica e hispânica que não podia ser excluída – apesar da Espanha de ser caracterizada pela colonização, não deixava de ser instituidora da ligação entre Europa e América. Ele propunha então um paradoxo: a ruptura com a herança colonial conforme se restaurava uma tradição histórica, ocidental e hispânica, que seria possível por meio do o ensino da “ciência republicana” ao povo. Dessa forma as autoras mostram como o trauma da colonização é percebido e reelaborado, até mesmo relacionando-o com a metrópole.

Depois as autoras passam a analisar a obra de Justo Sierra, Evolución política del pueblo mexicano, onde dizem que ele cria uma narrativa fatalista sobre a sociedade mexicana pós-independência, em que culpa o governo pela discordância por empenhar-se em ligar uma mescla de raças inaptas à República. Dessa forma, para o autor a ideia de trauma seria inseparável dessa narrativa, além disso o México passou por problemas internos que geraram longas lutas depois da independência e sofreu fortemente com a interferência externa direta como não tinha ocorrido com qualquer outro país da América Hispânica até então. Para Sierra, no México a fusão de raças seria algo inevitável e o mestiço, filho de dois povos e raças resultante da conquista, os povos aborígenes e espanhol, seria o “tipo nacional por excelência” e esse fato dominaria a história do México. Devido a isso, as autora

s assinalam que Sierra acredita que a Espanha acabou por criar “Espanhas americanas” que aspiravam viver de forma independente, porém apesar desse desejo não foi acrescentado a isso a capacidade de autogoverno o que fez com que o México estivesse prestes a perder a sua autonomia “no cipoal interminável das lutas civis, do espírito de aventura, próprio da raça de que provinha” [4] Dessa forma Fredrigo e Bittencourt reiteram que no século XIX, mesmo com projetos distintos, os ensaístas tinham a intenção de que República tomasse forma por meio de práticas discursivas que firmariam sua identidade e indicariam o rumo para a redenção definitiva. Eles enlaçavam passado, presente e futuro em suas obras, usando a memória para corroborar com uma construção pátria e com um ponto de vista orientado por um projeto baseado na hierarquização social. Além de se empenharem em incitar seus contemporâneos a cumprir um dever nacional: solucionar a traumática questão racial, unindo “elementos nacionais dispersos”, e que só poderia ser resolvido por meio do conhecimento, da moral e da educação universal.

Já no tópico “Da atualização dos referenciais culturais americanos no ensaísmo”, as autoras do texto passam a analisar como se dava a circulação, a apropriação e a transformação de ideias por meios dos ensaios. Para elas essa forma de escrita também foi usada por autoridades políticas como forma de disciplinar a população, que deveria ser homogeneizada por instrumentos persuasivos e de grande difusão. Isso porque acreditavam que as novas formulações republicanas só seriam obedecidas voluntariamente pelos cidadãos por meio de uma pedagogia nacionalista.

Esclarecendo melhor o foi já foi dito anteriormente, Fredrigo e Bittencourt discorrem que os ensaístas tinham a intenção de desenvolver um projeto para a conversão dos americanos de súditos a cidadãos livres e buscavam indicar os caminhos da história, intervindo nela com o objetivo de sobrepujar o caótico cenário nacional, de modo a chegar a uma maturidade histórica identificada por elas com nomes como progresso, sociedade igualitária e desenvolvimento. Também pretendiam mudar os modelos representativos da monarquia espanhola pelo governo local, chamando o povo a construir “a” nação.

Algo importante que as autoras apontam é que diferentemente do que diz a historiografia tradicional esses ensaístas não faziam uma mera imitação do pensamento europeu e também iam além de um simples projeto de identidade nacional. Isso demonstra um caráter singular dos escritos dos letrados da América Hispânica, que mesmo em meio ao período de dominação, criticavam as nações colonizadoras, entrepondo o hispanismo em suas reflexões, gerando resoluções dissonantes, mas completamente novas.

As autoras passam a discorrer sobre como a América e tradição hispânica eram diferenciadas nos ensaios e para isso falam sobre a análise de François-Xavier Guerra. Para Guerra com as lutas de independência surgiram Estados no sentido de comunidades política independentes, porém ainda não com características realmente modernas como um território, um sentimento de pertencimento, um imaginário próprio sobre o passado e um plano para o futuro – o que se manifesta visivelmente nos ensaios de Sierra em que apresenta isso como lamúria e fatalismo. Para ele a “nação imaginada” era ao mesmo tempo um projeto e um problema devido aos inúmeros fracassos. Além disso, ele acredita que apesar de muito presente durante as lutas de independência, a identidade comum entre os povos não alcançou uma expressão política concreta que tornasse possível chegar a uma homogeneização identitária das nações como tanto era almejado, em sua concepção o México por exemplo, ainda seguia uma utopia.

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