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Filme "Adeus, Lenin!"

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Por:   •  5/1/2014  •  Tese  •  3.011 Palavras (13 Páginas)  •  476 Visualizações

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Introdução

O presente estudo tem como objeto o filme “Adeus, Lênin!”, produzido na Alemanha em 2003, por Wolfgang Becker, e busca realizar uma resenha a partir de uma visão crítica da influência ideologica à realidade presente nos discursos, ou, acontecimentos decorridos no filme.

O longa metragem traz a história da personagem Alexander, que vive na Alemanha Oriental em meados de 1978. Sua mãe sofre um ataque cardíaco e entra em coma. Quando ela retoma a consciência, a Alemanha Oriental já havia sofrido diversas modificações e estava praticamente imersa na cultura Ocidental. Porém, a mãe de Alex não deve sofrer emoções fortes segundo recomendações médicas. Então, Alex “recria” o mundo oriental para sua mãe, através de mobílias, alimentos, comportamentos, notícias, pessoas, etc.

Em função da riqueza do objeto, elegemos apenas algumas cenas expressivas para análise profunda. Para tal, nos basearemos em autores como Mikhail Bakhtin, Maria Lourdes Motter, Ecléa Bosi, Humberto Eco e Walter Lippmann.

No tocante a analise, faz-se válida uma ressalva: o filme é originalmente alemão, portanto, a real análise estará baseada na sua tradução para a língua portuguesa. Temos consciência de que algumas expressões são intraduzíveis, já que cada língua possui características ímpares, que não podem ser compartilhadas com outras. E, por conseguinte, toda a linguagem do filme deixa de ser parcial, já que passa pelo “crivo” do tradutor, ou seja, se compararmos a linguagem original com a traduzia, além das diferenças na impossibilidade de tradução de algumas expressões, ainda encontraremos traços do interpretante da língua.

O objeto e o signo ideológico

A palavra é um fenômeno ideológico e condição precípua das relações sociais. Em sua essência, a palavra é neutra, mas torna-se tendenciosa de acordo com o contexto ou com seu emissor. No caso do filme, podemos citar as palavras “ocidental” e “oriental” com uma forte carga valorativa. E, se compararmos com os dias de hoje, elas não carregam um significado tão forte, pois os contextos histórico e social são bem diferentes.

Um ponto importante para lembrarmos é que o processo de tomada de consciência de uma ideologia só é promovido por meio dos signos, e estes só emergem da interação social,

ou seja, entre uma consciência e outra. O signo só existe em função do outro e é algo do mundo exterior, refletindo seus resultados apenas no exteriormente.

A dicotomia infra-estrutura/superestrutura foi sugerida por Marx, ainda em 1859

“Na produção social da sua vida, os homens estabelecem relações definidas que são independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a uma fase definida de desenvolvimento das forças produtivas materiais. A soma total dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real, sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas definidas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona os processos social, político e intelectual da vida em geral”. (MARX apud BARBOSA, 2001: 84)

Essa relação permeia o filme inteiro de forma bastante inteligente, e é interessante notar como os símbolos do capitalismo e do socialismo são facilmente identificáveis pelo público-alvo do filme, sendo inclusive essa a intenção do diretor, uma vez que caso a identificação não fosse imediata, certas cenas não fariam sentido. Sob esta perspectiva, o filme ganha contornos metalingüísticos, uma vez que é preciso que tanto os personagens quanto o público reconheçam os mesmos símbolos e ideologias impregnados nas cenas. Estes símbolos remetem sempre a um objeto material e a uma idéia. Assim, um produto de consumo, monumento ou um objeto pode ser transformado em signo ideológico.

Bakhtin explica que os objetos físicos podem converter-se em signo, mas, mesmo assim, continuar fazendo parte da realidade material. Porém, com essa nova faceta, o objeto físico passa não só a refletir a realidade, mas refratá-la. Essa refração dá-se por meio das ideologias de cada grupo na sociedade.

Talvez o melhor exemplo disso seja a cena em que a mãe recebe a visita de dois escoteiros, que na verdade eram crianças contratadas pelo filho para enganar a mãe, e enquanto os dois garotos cantam músicas louvando a Alemanha Oriental, a mãe vê pela janela um enorme anúncio de Coca-Cola sendo colocado na parede do prédio vizinho. O riso é imediato ao se vislumbrar as letras brancas tão conhecidas da marca Coca-Cola sobre o fundo vermelho, e a razão disso está na relação entre a força e o poder que esta empresa tem nos mercados capitalistas, ou seja, a infra-estrutura, e como por conta disso ela se tornou um dos símbolos desse modelo econômico, ou seja, a superestrutura. Bakhtin descreve bem o que ocorreu com a marca Coca-Cola ao dizer que “a cada etapa do desenvolvimento da sociedade,

encontram-se grupos de objetos particulares e limitados que se tornam objeto da atenção do corpo social e que, por causa disso, tomam um valor particular. Só este grupo de objetos dará origem a signos” (BAKHTIN, 1981: 44).

Outro ótimo exemplo desta relação são as confusões por conta de uma marca de picles que a mãe costumava comer. Em economias socialistas, não existe concorrência de mercado, e portanto não há várias marcas disputando o consumidor. Assim, uma única marca de um produto acaba se tornando preferência nacional (até por falta de opção). No caso do filme, o fato de existir somente uma marca de picles, por conta do sistema econômico socialista (infra-estrutura) faz com que este adquira um poder simbólico muito forte para a mãe (superestrutura). Para esta, o produto em si não significa nada, mas sua marca representava Alemanha Oriental, e é bastante simbólico que com a queda do muro e o fim do comunismo, estas marcas únicas e representativas desapareceram dos supermercados, como citado em Bakhtin “Qualquer produto de consumo pode, da mesma forma, ser transformado em produto ideológico” (BAKHTIN, 1981: 30). Os mesmos supermercados que surgem com os mais variados produtos e marcas, onde funcionários aparecem colocando preços em latas de Pepsi. Esta cena também é bastante representativa do conceito elaborado por Marx

“a transformação de toda a imensa superestrutura, na revolução social que começa com as modificações de relações de forças produtivas e de relações de produção, é um processo no qual os homens se tornam conscientes desse conflito e o solucionam através de formas ideológicas que passam a incluir tanto o religioso, estético ou filosófico,

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