TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Para

Seminário: Para. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  19/11/2013  •  Seminário  •  4.779 Palavras (20 Páginas)  •  178 Visualizações

Página 1 de 20

Nas últimas décadas, a indústria do entretenimento - sinônimo de lazer para muitos - seduz o consumidor, sugerindo-lhe as sessões adequadas para sua satisfação. Vê-se então a idéia reducionista do lazer sendo alimentada e veiculada pelos meios de comunicação de massa sendo que mal interpretada, a idéia é vendida, na maioria dos casos, como atividade física/esportiva, artística/cultural, recreativa, ao ar livre e/ou em espaços intencionalmente construídos para tais fins, com um grande número de pessoas bonitas e felizes, e uma parafernália de produtos que referenciam, socialmente, a qualidade de tal lazer.

Capra (1985) comenta a ação sugestionadora dos meios de comunicação de massa, alertando que a finalidade exclusiva da mídia é o condicionamento do público ao consumo de toda espécie de bem e/ou serviço, dentre os quais destacamos o lazer. Ousando ir além, recorro aqui a Ianni (1999), ao entender que na era da globalização, a mídia representa a articulação entre várias instâncias hegemônicas, assumindo o papel de príncipe eletrônico. O príncipe é o arquétipo que possui a capacidade de construir hegemonias, simultaneamente, a organização, consolidação e desenvolvimento de soberanias. Tipo ideal criado por Maquiavel1 como figura política, pessoa, o príncipe assume em Gramsci a identidade do partido político como intelectual orgânico à classe trabalhadora enquanto que atualmente a mídia assume a identidade de príncipe eletrônico - expressando segundo Ianni (1999: 9) "[...] a visão de mundo prevalecente nos blocos de poder predominantes, em escala nacional, regional e mundial, habilmente articuladas".

Sob esta ótica, o papel assumido pela mídia amplia-se uma vez que pressupõe a articulação entre várias esferas e instâncias de poder político que exerce influência relevante na direção e organização da vida social. Em especial, a televisão, como meio privilegiado - por sua penetração e fascínio - do poder deste príncipe eletrônico assume dimensões psicossociais, sócio-culturais e político-econômicas atingindo atividades e imaginários individuais e coletivos, sendo um dos principais veículos de divulgação de posições alienantes sobre o lazer.

Em tal contexto se estabelece um conhecimento restrito dos conteúdos do lazer, de seus desdobramentos, dos valores que propicia e das atitudes que o envolve. Para ajudar na reflexão que envolve o lazer em uma preocupação maior, recorro aqui a Gutierrez (2001: 98). "A discussão sobre a falência do poder macrossociológico determinante da categoria trabalho, portanto, nos coloca diante da necessidade de encarar a questão do objeto lazer e procurar situá-la, o mais claramente possível, no contexto mais amplo da compreensão das relações sociais e políticas contemporâneas"

Há um escasso domínio e conhecimento sobre as possibilidades, a partir do lazer, de mudanças de atitudes e valores frente aos grandes problemas sociais como: preconceito, racismo, intolerância de ordem religiosa, sexual, cultural e política entre outros. Assim, apesar das crescentes discussões e sua enorme utilização, o conceito de lazer ainda permanece restrito aos níveis de entendimento que contém em seu gênero a visão conservadora que não questiona a lógica capitalista e neoliberal de pensar o mundo. Tal visão pode ser identificada na ótica funcionalista que perpassa o conceito de lazer e está presente, especificamente, nas abordagens: 1) Compensatória - que objetiva compensar o que o trabalho retira do indivíduo e do grupo principalmente através do lazer. 2) Utilitarista que procura recuperar a força de trabalho do sujeito a partir do lazer desconsiderando todas as outras variáveis que influem nesta recuperação. 3) Moralista, através do lazer, objetiva-se afastar as pessoas das drogas lícitas e ilícitas e dos pensamentos e práticas consideradas perniciosas, discurso bastante difundido pelos segmentos religiosos e; 4) Romântica cujo entendimento sobre o lazer resguarda um saudosismo inibidor de novas práticas a partir de uma postura conservadora e às vezes retrógrada.

Encaramos como necessidade essencial avançarmos no sentido de um entendimento mais amplo sobre o lazer que considere suas relações com o mundo do trabalho e da cultura e, principalmente, suas possibilidades de transformar qualitativamente a sociedade humana a partir da perspectiva da inclusão sócio-cultural também dos grupos marginalizados como é o caso dos deficientes. Em acordo com Bramante (1992), o significado do lazer deve ser debatido tanto no âmbito do senso comum como no da própria universidade para que todos possam compreender sua importância na vida do indivíduo e da coletividade na sociedade contemporânea, notadamente, nos países do terceiro mundo onde o lazer torna-se muito mais uma aspiração do que uma realidade.

A partir de uma visão materialista-dialética, o lazer, para as massas excluídas, apresenta-se unicamente como uma possibilidade e aspiração e não enquanto uma realidade histórica. Faz-se mister à reflexão e discussão sobre o lazer para que ocorra contraposição ao discurso hegemônico acerca da temática. Gutierrez (2201: 99) chama a atenção discorrendo sobre a dificuldade de situar o lazer, enquanto objeto, em algum espaço delimitado da academia. "De uma forma geral, existe uma tendência bastante visível da pesquisa em sociologia do lazer, seja recuperando o trabalho de autores como Norbert Elias, ou pela vertente da pesquisa de questões culturais, numa perspectiva da pós-modernidade ou não. [...] trata-se, neste momento, de um objeto pesquisado multidisciplinar e que ainda não foi monopolizado por nenhum dos campos acadêmicos constituídos tradicionalmente."

No intuito de apresentar uma definição escolhemos perspectivar o lazer enquanto tudo aquilo que se constitui em valor positivo, fim ou objetivo da ação humana2. Como qualquer ação humana que proporcione bem-estar, vivenciada no tempo disponibilizado para tal. Tanto seja uma ação prática quanto contemplativa e que, referente aos conteúdos que a envolve, venha abranger os propósitos que formam a globalidade do ser humano como os aspectos lúdicos, intelectuais, interativos, criativos, estético, físico-esportivos, artísticos, sócio-culturais, afetivos, político, econômicos e todos se inter-relacionando.

Sobre o tempo disponível reservado ao lazer, o conceito aqui utilizado é aquele momento/tempo diferente do tempo dedicado ao trabalho e que está disponibilizado para uma ação que se caracterize enquanto lazer. Consideramos, ainda, que o lazer é direito de qualquer cidadão - inclusive daquele que é considerado deficiente -, independente de classe

...

Baixar como (para membros premium)  txt (31.4 Kb)  
Continuar por mais 19 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com