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A videografia e a videoarte

Por:   •  1/4/2015  •  Trabalho acadêmico  •  882 Palavras (4 Páginas)  •  149 Visualizações

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A videografia e a videoarte

O grande cinema buscava, como sabemos a verossimilhança, a narrativa (ficção com personagens, ações, organização do tempo, desenvolvimento de acontecimentos, crença do espectador) estruturada em roteiro, decupagem, planos e montagem. Será, porém, que as noções do cinema podem ser transpostas para o vídeo? A maquinaria cinematográfica e seu conjunto são produtores de imaginário, que impregna nossa maneira de ser. A mimese fílmica expõe o mundo em sua duração e movimentos. O cinema tem, portanto, uma história estabelecida e um dispositivo-ritual: projeção pública em sala escura, onde se desenrolam regularmente suas bobinas, desfiando suas imagens. O espectador, iludido pelo fluxo, é absorvido pela tela, ao ritmo dos planos. O cinema, por assim dizer, é a vida mesma que escoa e passa num tempo crônico. Só se pode, entretanto, ver as imagens do cinema por meio das máquinas, pela projeção e seu entorno. O filme exige uma atitude de sobrepercepção e de submotricidade (da sala escura com luz às costas). Trata-se tanto de uma experiência psíquica quanto de um fenômeno físico-perceptivo. Tecnicamente, é maquinaria, mas também é maquinação (de pensamento) e um modo diferente de introduzir o sujeito-espectador na imagem. Na década de 50 ocorre uma estagnação dos meios habituais de produção cinematográfica, com o crescente desinteresse por parte da indústria da cultura pelas tecnologias de natureza mecânica, além dos custos cada vez mais astronômicos da película fotoquímica.

Abordar a história do vídeo significa falar de uma idade de transição caracterizada pela passagem das técnicas de reprodução químico-mecânica da imagem para a eletrônica, a partir dos anos 50. Neste ponto é preciso ressaltar a importância da televisão para a história do cinema. Note-se que, para o espectador dos anos 40 e 50, ir ao cinema era um ato absolutamente rotineiro, com salas de exibição no bairro. A configuração espacial e perceptiva da televisão no ambiente doméstico quebrou este costume e, com ele, o feitiço da diegese clássica. A temporalidade obrigatória da projeção pública na sala escura (longa-metragem) deu lugar aos atos de consumo fragmentados, privatizados e dispersos. A perda da hegemonia do cinema diante da cultura televisiva, com sua ubiquidade impessoal e anódina, afetou o homem-espectador, síncrono do real mediatizado, indiferenciado e que recebe com indiferença as imagens televisuais propagadas por todos os lados. Em suma, o tubo catódico nos faz passar da projeção à difusão, da luz refletida para a luz emitida. E a transmissão hertziana das imagens conjuga instantaneidade e onipresença.

A videografia surgiu como mídia tecnológica entre o cinema, que o antecedeu, e a imagem infográfica, que logo o superou.[1] Ele é intermediário entre o cinema e o computador, entre a imagem fotoquímica e as tecnologias digitais da imagem virtual. O vídeo apresenta-se de forma múltipla, variável, instável. O discurso videográfico é, por natureza, impuro. Ele reprocessa formas de expressão colocadas em circulação por outros meios, atribuindo-lhes outras potencialidades. O vídeo também operou como um lugar especial de metadiscurso sobre o cinema e um meio que ainda nos provoca a repensar a experiência com o audiovisual.[2] A imagem do vídeo, em sua natureza mista e transitória, possui forma opaca, dura e tem uma definição precária, em virtude dos números de varredura de linhas que comporta, não aceita detalhamentos minuciosos e a profundidade de campo é continuamente desmantelada pelas suas linhas de varredura. O vídeo, por sua baixa resolução, não tem profundidade: os detalhes da imagem vão se dissolvendo conforme se deslocam em direção ao fundo. A sua profundidade é, de fato, composta de superfícies, de estratificação da imagem em camadas, cujo efeito de relevo só pode existir na imagem videográfica. E, em vez de planos montados, o vídeo prefere multiplicar fragmentos: mais que a montagem de planos, trata-se de um processo de mixagem de imagens. O vídeo permite igualmente o uso da tela múltipla, desdobrada, em paralelo, frente e verso, oblíqua, em linha, explorando a condição modulável de invenção com a imagem. Utilizam-se a sobreimpressão de múltiplas camadas, os jogos de janelas, sob inúmeras configurações, as incrustações com o chroma key, a transparência e estratificação, como a imagem sobreposta  a uma superfície translúcida, análoga a um palimpsesto. Também se consegue um efeito de espessura estratificada, por meio da sedimentação de camadas sucessivas, algo como um “folheado” de imagens. Em resumo, o que caracteriza a imagem videográfica é a fragmentação, a politopia (heterogeneidade espacial) e a abstração não-figurativa. Os formatos mais explorados de videografia são, por tudo isto, experimentais: o “modo plástico”, o documentário e o videoclipe.

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