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Corrupção

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Por:   •  25/9/2013  •  Resenha  •  1.808 Palavras (8 Páginas)  •  179 Visualizações

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O que se pode perceber, em consequência dessa visão militarista e repressora de como devem ser os órgãos de segurança pública – como será visto adiante –, é um ambiente de guerra em que se passa invariavelmente por cima das leis e de direitos individuais, em que a violência policial é tomada como fato isolado e explicável unicamente por uma tradição no uso da força que se originaria, numa visão simplista, na própria polícia. Tal uso “crônico” da força (que deveria ser aplicada somente em última instância) é incentivado inclusive pelas classes com acesso efetivo a bens culturais e às instituições do Estado, ao mesmo tempo em que é repudiada por estas (ainda que a resposta que se pretende eficiente, pela polícia, não tenha tanta cobertura por parte da mídia quando a força é aplicada em conflitos ocorridos entre a população de baixa renda, via de regra ) vide passeatas pela paz que, no filme, é retratada de modo depreciativo. Pois o uso da força pela polícia é, contraditoriamente, vista como marca de sua eficiência. Por parte de representantes da polícia (como em tropa de elite) e em resposta, talvez, a essas demandas contraditórias da população, a reconciliação entre polícia e população, seja ela pobre, remediada ou rica, é apontada como necessária para uma democracia efetiva.

Para tanto, deve-se reformular uma polícia que parece visar unicamente a exterminar o inimigo, e não para garantir a paz social de um modo geral, o que inclui a garantia dos direitos do cidadão. O uso sistemático pela força apontado em Tropa de elite, por parte do Bope, pode ser explicado por dicotomias simples que Suarez e Bandeira apontam como formas de resguardo da honra e unidade do grupo: assim, a relação entre polícia e comunidade civil “somente admite [m] julgamentos dualistas do tipo certos versus errados, puros versus impuros, trabalhador versus marginal” (SUAREZ E BANDEIRA, 1999, p. 226), baseando-se num código moral interno que se refere a padrões de comportamento e conduta mesmo quando não se está em exercício da profissão. Sob essa visão, o uso da força como último recurso para a manutenção da ordem cujo uso legítimo a polícia detém em nome do Estado, invariavelmente, não vem precedida – mas deveria vir – de medidas globais de prevenção ao crime em que comunidade, Estado e órgãos mediadores como as forças de segurança pública, como o combate à desigualdade social, o exercício da cidadania, bem como a interação entre comunidade (independente de classe social) e polícia que lhe assegure a incolumidade e a paz.

“Não há democracia sem polícia” (Soares et al., p. 10-11). Talvez essa afirmação corrobore a guerra que se faria necessária contra a criminalidade, em especial o narcotráfico, conforme se apode apreender da visão do cap. Nascimento em Tropa de elite: uma suspensão temporária dos direitos em que atribuições da esfera civil passem à esfera militar, como num estado de sítio, para que se possa aplicar plenamente a Constituição.

Como personagens dessa guerra civil, tem-se, assim, o Bope, de um lado, e os

traficantes (que contam com armas e omissão por parte da PM corrupta) e usuários de drogas, de outro. A PM também faz parte dessa dinâmica da violência, pois é “movida” pela corrupção (“Sem a corrupção, a polícia do Rio pára”, diz, em certo momento, o cap. Nascimento; em outro momento, diz que se vive uma guerra de fato no Rio de Janeiro).

Enquanto o narcotráfico tiver dinheiro para se armar, diz o capitão, “a guerra continua”. Por sua vez, os usuários de drogas são identificados como universitários de classe média e alta que, paradoxalmente, envolvem-se em ações sociais que visam a minimizar problemas sociais como a marginalidade e a criminalidade. Tais problemas, na lógica do capitão Nascimento, são, na verdade, alimentados pelos próprios agentes sociais – elo final da economia das drogas. No entanto, a área de atuação do batalhão – ou seja, a delimitação geográfica e os padrões visuais com que são identificados os criminosos – é, em princípio, guiada pela identificação de tipos sociais possivelmente perigosos em áreas consideradas perigosas. Assim, as afirmações de que “sobe-se o morro para matar e não para morrer” traz consigo uma perda de direitos constitucionais democráticos que assegurem a vida e a liberdade de ir e vir daqueles que habitam os locais das ações do Bope (os morros). Tal é a dinâmica da violência que nos mostra Tropa de elite, e que é reafirmada ao longo do filme.

A certa altura do filme, Nascimento, em off, apresenta (o então aspirante) Matias. O filme corta para uma sala de aula em uma universidade, em que não se vêem negros. Logo em seguida, o mesmo Matias entra na sala, atrasado para a aula. Negro e de origem humilde, ele é exceção na universidade. O capitão Nascimento faz questão de sublinhar esse fato: “No Brasil, um cara que nasce pobre e preto não tem muita chance na vida”. Pouco tempo depois, numa discussão em sala de aula sobre a truculência e ilegitimidade dos métodos da polícia, Matias demonstra mais uma vez ser exceção na universidade ao defender a polícia como instituição (ou seja, os policiais honestos). Compartilhando da confiança e da lealdade do cap. Nascimento à instituição polícia, Matias cada vez mais se parecerá com o capitão.

A universidade, conforme nos mostra o filme, vê a polícia como mero agente

repressor do Estado, a cujas ações são inerentes o desrespeito aos direitos humanos e a corrupção. Quanto à corrupção, ambos os participantes diretos ou indiretos dessa guerra urbana, Nascimento e os universitários, concordam. Tal convergência tem voz na figura de Matias, um policial que também é universitário mas, destoando da maioria, é negro e tem origem humilde. Esse diferencial de classe social e de etnia parece ter a função de corroborar a opinião de Matias de que existem sim policiais honestos e bem-intencionados na PM, e que a maioria branca e bem-nascida universitária mal conhece a realidade com a qual a polícia se depara ao invadir morros tomados pelo tráfico, escondendo-se sob consensos sobre a realidade social e a perversidade inerente à polícia. O raciocínio é de que, por ser negro e pobre, mas apoiar a polícia e defender sua idoneidade, Matias deveria saber muito bem do que fala, visto que pertence a duas categorias comumente associadas à perseguição policial.

Numa das cenas em que soldados do Bope sobem o morro em uma ação para coibir o tráfico, Nascimento e seus soldados dominam e interpelam com truculência alguns traficantes e um usuário, a maioria consumindo drogas. Logo no início da ação, um dos supostos traficantes é morto por um dos soldados.

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