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SOBRE O PERENIALISMO

Por:   •  14/8/2020  •  Artigo  •  15.537 Palavras (63 Páginas)  •  270 Visualizações

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SOBRE O PERENIALISMO (Fernanda Conforto)[pic 1][pic 2][pic 3]

CARTA III

    Bom dia a Alberto Zucchi e a todos os membros da Montfort!

    Antes de tudo: peço desculpas por ter escrito o nome de Alberto Zucchi errado, nos emails anteriores.

    Peço para que verifiquem, apesar da grande quantidade de cartas que recebem - se disporem de tempo - se alguma das informações contidas nesse novo email podem ser úteis. Escrevo, novamente, como aluna e amiga da Montfort, com a intenção de auxiliar nos estudos que o grupo já está desenvolvendo. Foi primeiro a Montfort que nos alertou a respeito das obras do Olavo e, recentemente, sobre as gravações do Antônio Donato.
Devido a extensão desse texto e por causa da dificuldade de tempo para finalizá-lo, a conclusão dessa exposição enviarei nos próximos dias (se Deus o quiser). A conclusão estará mais focada nas aulas gravadas do Donato, com os títulos Sabedoria Segundo Aristóteles, de 27 de setembro de 2011 e Santo Agostinho I, de 2 de outubro de 2011, que são as aulas seguintes àquela que já foi exposta pela Montfort.

    Começo fazendo uma exposição mais detalhada sobre o que foi relatado no email anterior: o ensino de astrologia, também por Antônio Donato.

    Primeiro ponto: A respeito da anedota sobre Tales de Mileto contada por Antônio Donato, na aula Concílio Vaticano II:

    Trata-se de uma história que foi escrita por Aristóteles, que é considerado "a maior fonte de conhecimento" a respeito de Tales:

    "According to Aristotle, Thales studied the stars to make unusually accurate predictions about future weather conditions, coming to the conclusion that the olive crop would be “bountiful,” in other words, there would be an excellent season in the fall. Thales was
clever enough to take advantage of his prediction. Although he didn’t have a lot of money, he quietly approached the owners of the olive presses (the presses were used to convert olives into olive oil) to make an offer.
He paid each owner a deposit (or premium) to reserve the olive presses during the harvest. For a small deposit, the owners would hold or reserve the olive presses exclusively for Thales during the autumn. Because no one believed that Thales could predict the weather nine months into the future, no one bid against him. Therefore, Thales paid very little for the right to reserve the olive presses.
As it turned out, Thales’s prediction was correct. It was an excellent year for olives, and the demand for the olive presses was enormous. Thales sold his option contract (which was the right to use the olive presses) to the olive farmers for a huge profit."
(Excerto retirado do livro Understanding Options, de Michael Sincere. Pág. 17).

    Essa anedota já foi objeto de defesa da astrologia, pelos astrólogos e de crítica, pelos cientistas - muitas vezes - ao longo dos séculos. É possível encontrar a repetição dessa história em muitos livros de astrologia e também em muitos escritos de críticos que, no caso, limitam-se a encerrá-la na repreensão feita pela mulher a Tales (no site Wikipedia há algumas referências dos críticos):

    "The Astrologer who Fell into a Well is a fable based on a Greek anecdote concerning the pre-Socratic philosopher Thales of Miletus. It was one of several ancient jokes that were absorbed into Aesop's Fables and is now numbered 40 in the Perry Index. During the scientific attack on astrology in the 16th–17th centuries, the story again became very popular."
(Excerto extraído de: https://en.wikipedia.org/wiki/The_Astrologer_who_Fell_into_a_Well).

    Antônio Donato poderia assegurar que descreveu apenas uma proeza astronômica ou ainda que seria muito difícil definir Tales - hoje - apenas como um astrônomo (como postulam vários autores racionalistas) ou sustentá-lo apenas como um astrólogo, desconsiderando-se a realidade da época em que ele viveu.

    Olavo de Carvalho concordaria:

    "Se você acompanhar tanto o debate que houve... Entre o século XVI e XVII... Como aquele que reaparece no século XX... Você verá que... É... A... A necessidade de impulso... De tomar posição pró ou contra foi tão forte... (...) O mais interessante aí... É que todo o debate, tanto naquela época, quanto no... No século XX... Se trava em torno da explicação... Ou da teoria... Que estaria subentendida na astrologia. Sem prestar muita... Vamos dizer... Na verdade, sem prestar mais mínima atenção... Ao fenômeno em si... Ou seja... O que... A impressão que o debate dá... É que... Existe um corpo de doutrinas, chamado astrologia... Está certo? Que inclui... Uma... Vamo... Uma... Uma justificação das técnicas usadas pelos astrólogos e que por outro lado, existe... Um corpo de objeções... A... A essa teoria... Mas... Na verdade, até a época... É... De... Em que aparece... Esse debate... Não havia teoria astrológica alguma! Ahm? O próprio... O próprio Weil o reconhece... Vamos ver... (foleando o livro A Filosofia de Pietro Pomponazzi. Pico Della Mirandola e a Crítica a Astrologia, de Eric Weil) Ele diz aqui... É... É... Não existe... Não existe... "Não existia filosofia da astrologia, nem mesmo metodologia. Os profissionais se atinham aos limites de sua técnica e evitavam, cuidadosamente, toda a reflexão sobre os princípios e sobre suas consequências possíveis. Em consequência, a astrologia, havia se tornado no fim da idade média, uma construção das mais curiosas, sem plano, sem unidade, sem organização."
(Raízes da Modernidade. Aula 3. A partir de 02:08 até 06:21).

    Inclusive Olavo, nessa aula, pode sutilmente ter recomendado Pico Della Mirandola a seus ouvintes, uma vez que, em mais de uma oportunidade, o apresenta como crítico da astrologia. No entanto, em uma das obras indicadas pelos discípulos da Astrocaracterogia de Olavo (Mais informações em: https://www.facebook.com/Astrocaracterologia/posts/903397209719645/) recomenda-se que não se deve “precipitadamente” considerar a possibilidade de Pico ter sido inimigo da astrologia:

    "Em seu polêmico escrito Disputationes adversam, astrologiam divimtricem (“Crítica à adivinhação astrológica”), que, na edição de 1495, contém não menos que 360 páginas in-fólio, Pico desenvolve, sobre o pano de fundo de seu projeto sobre a liberdade do homem, uma crítica fulminante à astrologia. Porém, como no caso de Ficino, não deveríamos fazer precipitadamente uma crítica rigorosa ou uma separação entre o Pico “anterior” de orientação mítico-cabalística — Pico foi um importante transmissor da cabala judaica para o cristianismo — e o Pico “posterior”, que, agora purificado e esclarecido, condena a astrologia como superstição.
Antes de tratar das características básicas dessa argumentação, é importante lançar um olhar sobre a biografia de Pico. De início, era o festejado sábio da academia platônica dos Medici em Florença, mas viu-se em dificuldades quando o papa Inocêncio VIII proibiu-lhe um debate público no qual pretendia expor a conciliabilidade da filosofia platônica com a cabala judaica e a religião cristã. Assim, desde cedo, sentiu aversão pela influência dos poderosos da Igreja sobre a liberdade científica; no que concerne à crítica à astrologia, uma profecia elaborada por três astrólogos, entre eles seu adversário Lucius Bellantius, um médico de Siena, deve tê-lo atiçado ainda mais.
Previram que não sobreviveria a seu 33º aniversário. Quando Pico morreu, pouco antes da publicação de Disputationes, em 17 de novembro de 1494, ou seja, com quase 32 anos de idade, muitos logo admitiram que “os astros haviam contestado Pico”. Também o seu amigo e aliado na luta contra uma astrologia que oprimisse o homem, o monge dominicano florentino Girolamo Savonarola (1452-98), seria apanhado por um trágico fim, pois foi queimado publicamente em Florença. Críticos da astrologia eram freqüentemente também inimigos da autoridade eclesiástica, e, enquanto Ficino buscava uma síntese entre cristianismo, platonismo e ciência dos astros, Pico e Savonarola, ao insistirem na liberdade humana, tornaram-se forçosamente alvo do poder cristão."
(História da Astrologia - Da antiguidade aos nossos dias. Kocku Von Stuckrad. Pág. 231 e 232).

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