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Helpless

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Por:   •  8/7/2014  •  Seminário  •  7.112 Palavras (29 Páginas)  •  197 Visualizações

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"Tudo começa com o elemento ar, onde predomina o caos de pensamentos... desprendendo energias sem foco. Caminhando pelos recônditos misteriosos do ser, predomina o elemento fogo... a energia da vontade direcionada. Em seguida deve predominar o elemento água, representativo do sentimento de convicção que deve nascer do fogo, transformando a crença inicial em uma esperança constante, vital para a concretização do processo... Finalmente surge a predominância do elemento terra, a materialização da vontade que surgiu nos recônditos interiores do ser" - Francisco Ferreira (Casa do Aprendiz)

* * *

A chuva se fora, tão rapido como chegara. Com sua partida, deixara para trás a esperança e a promessa de nascimento, nova vida. O som dos pingos tocando as folhas fora substituido pelo piar incessante dos pássaros que saiam de seus ninhos para celebrar. No solo, esquilos, coelhos e camundongos corriam por entre as poças de agua, recolhendo as sementes e frutas que a força da chuva derrubara dos galhos mais altos. Incontáveis insetos voavam por entre as folhas molhadas, colorindo o verde predominante da floresta.

Produzindo um farfalhar suave entre as folhas, um grande número de criaturas foi surgindo, parcialmente mimetizadas pela vegetação. Com agilidade e precisão assombrosa, eles coletavam frutos, colhiam gotas da chuva e ajudavam um ou outro ser em apuros. Dançavam sorridentes ao som de uma música melodiosa e suave que parecia surgir da propria floresta, brotando dos poros das arvores, das raizes expostas, do solo molhado.

Adoráveis, esse seres pareciam anjos, com belas feições e sorrisos cativantes. Garotas com longos cabelos se misturavam a jovens meninos com sardas e nariz arrebitado. Os olhos grandes e expressivos pareciam emitir luz propria, e expressavam toda sua alegria e contentamento. Usavam coroas de flores e roupas feitas de folhas, em varios tons de verde. A floresta reluzia sob os raios de sol que se infiltravam por entre a copa das arvores, refletindo nos cabelos e olhos daquelas criaturas.

Afastada do grupo que dançava havia uma jovem, olhando para o verde quase ofuscante. Seus longos e lisos cabelos negros que lhe chegavam a cintura estavam molhados e luzidios, seu corpo esbelto coberto por uma simples túnica de um tom laranja desbotado apenas lhe cobria os joelhos. Sentada perto de uma poça, ela observou seu reflexo: labios finos e rosados, boca pequena. Rosto angelical e enormes olhos verde-mar. Os olhos que a encaravam de volta estavam carregados de dor e desespero. Ela falhara, cedera, fora fraca. A alegria que a rodeava nao podia equiparar a dor que a consumia por dentro.

Em seu íntimo ela se questionava como pudera ser tao tola, como confiara tao cegamente, como ignorara os sinais. Como uma ovelha que cegamente é conduzida ao matadouro, ela confiara na mão que segurava a sua, nos olhos que viam sua alma, nos lábios que tão ternamente lhe haviam beijado e jurado amor eterno.

Ela negligenciara seu chamado, pisoteara sua vocação, renegara sua essência. Em um átimo virara as costas para quem ela era e desprezara aquilo que lhe definia, tudo por perseguir uma utopia. E agora, graças a sua insensatez, o equilibrio havia se quebrado, o segredo revelado, e seu coração se partiu em mil pedaços.

Enquanto um torvelinho de emoções se revolvia dentro dela, uma lágrima brilhante fez seu caminho através daquele rosto angelical, indo cair na poça de água e produzindo espirais multicoloridas. Ela mordeu o lábio inferior para conter um soluço. Como uma coisa tão bela se transformara em algo tão doloroso, nefasto?

Ela fora avisa, ah sim, muitas vezes. Aqueles como ela não haviam sido feitos para viverem tais experiencias, provar tal prazer. Deviam se dedicar a cumprir sua tarefa, completar seu destino. Mas a obstinação de tocar o desconhecido, saborear o proibido a vencera e agora ela pagava o preço. Aquilo porém, a dor e a culpa que a laceravam por dentro, era apenas o início. Algo ainda pior estava por vir. Ela sabia disso, e se debatia sobre o que fazer quando o grande mal finalmente se abatesse não só sobre ela, mas sobre todos os que a rodeavam.

Como enfrentar a dor e a vergonha de saber que o mal que se avizinhava com rapidez era completa e totalmente sua culpa? Ela seria capaz de assumir sua responsabilidade e arcar com as consequências? E quais seriam as consequências, qual castigo lhe seria infringido?Algo tão grande quanto sua falha, ela supôs. Um calafrio percorreu seu frágil corpo. Puro terror a invadiu ao imaginar o que lhe poderia ocorrer.

- Sybil, porque não está dançando com a gente? - uma voz alegre lhe assustou, e ela se levantou de um salto, limpando as lágrimas.

- Ah, não é nada Brenna – ela respondeu, encarando sua interlocutora – só estava admirando a beleza da luz refletida na água da chuva.

- Não sei não – Brenna a encarava, uma ponta de preocupação nos gigantescos olhos azuis – tem certeza que está tudo bem? Você não se recuperou ainda do susto da noite passada, é isso?

- Sim, e isso – Sybil afirmou, apressadamente – aqueles filhos da montanha circulando por aí me deixaram apreensiva.

- Ah, não se preocupe. A Mãe já tomou as devidas providências, nosso território não será mais invadido. - Brenna a abraçou, acariciando-lhe os longos cabelos.

- Bom, nesse caso, vamos dançar – Sybil forçou um sorriso e colocou uma máscara de animação e entusiasmo no rosto.

Brenna acreditou e puxando-a pelo braço, a levou para o meio dos outros. Com uma leveza invejável, ela saltou, descrevendo piruetas no ar, seu cabelo castanho desenhando uma trilha sedosa atrás dela. Aterrizando perto de Sybil, ela a tomou pela mão e a fez rodopiar graciosamente no ar, enquanto gargalhava.

- Vamos lá, é primavera! - um belo menino de cabelos e olhos negros como a noite e pele alva como algodão deu-lhe um estonteante sorriso e a enlaçou pela cintura, conduzindo-a em uma valsa única, tradicional de seu povo. Sybil forçou outro sorriso e o empurrou, dizendo:

- Você não muda, não é mesmo Flynn.

- Eu não posso deter o que há em mim. - ele sorriu de volta, dando cambalhotas por entre as faias¹ verdejantes.

Sybil fez um pouco mais de esforço e começou a dançar. Enquanto realizava movimentos graciosos e suaves, ela observava seus amigos e imaginava o mal que lhes causara. Brenna, com seus castanhos cabelos encaracolados e pele morena; Flynn, travesso e serelepe. Como evitar que eles sofressem por sua escolha errada? E os outros que mesmo não sendo próximos, ainda assim eram sua família.

...

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