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Paulinho Perna Torta

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Por:   •  22/4/2014  •  659 Palavras (3 Páginas)  •  287 Visualizações

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Paulinho Perna Torta, protagonista da narrativa homônima, cuja primeira publicação data de 1965 e passa a integrar a coletânea Leão-de-chácara desde 1975, é o personagem desenraizado por excelência. Sua origem e trajetória são as de um sujeito que fez da rua sua casa, o que é registrado desde as primeiras linhas de seu relato. De menino de rua, engraxate, batedor de carteira e guia de cego a leão-de-chácara, cafetão, dono de Boca do lixo e traficante, Paulinho foi moço de vários amos como os pícaros clássicos, mas ascendeu na carreira de malandro e bandido. Em suas palavras, "refinou-se", tornou-se amo de outros tantos Paulinhos, tendo por modelo maior Laércio Arrudão, que ensina o be-a-bá da contravenção ao protagonista. Também desde as primeiras linhas de sua autobiografia, o leitor nota no personagem um misto de rancor, por causa dos sofrimentos e do duro aprendizado por que passou, e orgulho de ter chegado à posição por ele considerada ideal na carreira de bandido, cuja fama é estampada e ampliada nas páginas dos jornais. Como se trata de uma narrativa de memória, Paulinho conta e reflete sobre sua vida, que pouco tem de poesia e boas recordações. Vive uma relação afetiva e de certo modo erótica que ele mantém com a sua bicicleta, através da qual libera alguns valores ainda não reificados pelo seu ambicioso projeto de subir na carreira de bandido. São nessas passagens rememoradas que também podemos observar e sentir certa integração lúdica entre o eu e a cidade, momentos que suspendem relativamente a experiência do tempo pragmático de leão-de-chácara e cafetão, que atua sobretudo à noite, pois durante o dia, as manhãs fundamentalmente, a zona boêmia e do baixo meretrício dorme.

Porém, esses momentos foram varridos de sua vida, pois Arrudão se encarrega de expulsá-los da existência de seu pupilo, pois a afetividade, a humanidade só atrapalhariam a carreira de Paulinho, que põe em prática sem pestanejar mais esse ensinamento.

O estado presente do narrador é de uma eminente decadência de sua posição e poder, por conta da acirrada ação da polícia em "limpar a cidade", o que se dá por meio de várias formas de violência. O contexto político-social brasileiro implicitamente se registra no texto como sendo os anos da década de 60 em que também se busca forjar a imagem de um Brasil como país sem as mazelas sociais e econômicas que são registradas literariamente no texto. Apesar de Paulinho afirmar reiteradamente que não se entrega ao que considera a sua ruína - ser preso e não ter dinheiro para continuar no comando de seus negócios, ele já não traz em si toda a confiança e destemor que o moviam até então, o que se flagra pelo fato de além de traficante, ele buscar certo alívio usando drogas, depois que a rua, sua casa, é vista como ruim, porque não mais é propícia a seu enraizamento como bandido, pelo desfazimento dos grupos com os quais se relacionava. Nesse sentido, apesar de o personagem acreditar que ao longo de sua vida tenha pregado a si mesmo uma grande mentira, é a consciência reificada que dá o tom do relato, espécie de "narrativa de formação" de um bandido. Marciano Lopes e Silva, mestre e doutor em Letras e professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) compara esta característica da literatura de João Antonio com a de Rubem Fonseca. Para Silva, Fonseca mergulha seu olhar nesse universo,

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