A BATALHA DOS 3 REINOS

John Woo voltou à China após quase 16 anos em Hollywood para realizar o épico militar ''A Batalha dos 3 Reinos''. O cineasta traz de volta às telas o seu tradicional estilo, com lutas acrobáticas e coreografadas com requinte. Mas desta vez John Woo divide as honras com outro nome: Sun Tzu, o autor do clássico ''A Arte da Guerra''. ''A Batalha dos 3 Reinos'' é um filme de Woo, mas também um exercício de exposição do pensamento estratégico militar concebido por Sun Tzu.

O filme relata o combate de Red Cliffs, uma batalha que ocorreu no ano de 208 d.C. e que figura como um momento importante no imaginário chinês, mas pouco conhecido no Ocidente. Por isso, o filme, que originalmente era uma obra dividida em duas partes, que somavam quatro horas, foi condensada em um longa de duas horas e meia para a plateia ocidental. É essa versão reduzida que chega ao DVD pela Europa Filmes.

A justificativa para que o filme fosse reduzido é a profusão de personagens que poderia confundir a audiência ocidental, mas que seria reconhecida pelos chineses, que já estariam familiarizados com a história. O efeito colateral é a impressão de que alguns personagens secundários são poucos desenvolvidos no filme.

Em sua essência, a trama é simples: Cao Cao, o primeiro-ministro da dinastia Han, tenta conquistar a unificação da China combatendo os feudos rebeldes do sul, liderados por Liu Bei e Sun Quan. O que se segue é uma guerra de estratégias militares, que ganha forma na tela em batalhas plasticamente encenadas.

Woo detalha combates de modo que seja perceptível a sua racionalidade. Há uma estratégia, um raciocínio refletido em cada movimento dos soldados. Mesmo nos momentos em que não nos deparamos com um combate, o que se passa na tela é a discussão e a execução de artimanhas para surpreender o inimigo.

A formação dos soldados, o movimento coordenado do exército, o estudo do campo de combate, o uso da natureza como elemento de auxílio aos combatentes, a avaliação dos passos dos inimigos, todos esses detalhes nos remetem ao pensamento sintetizado por Sun Tzu em ''A Arte da Guerra''.

''A Batalha dos 3 Reinos'' foi lançado na China em 2008 para coincidir com as Olimpíadas de Pequim. Sob o ponto de vista mercadológico, a estratégia foi bem-sucedida ao conseguir atrair a audiência chinesa. Mas do ponto de vista político, o filme traz uma sutil crítica à China moderna. John Woo, cineasta originário de Hong Kong, considerada a ''província rebelde'' da China, constrói seus rebeldes independentes como heróis diante do poder centralizador de Cao Cao. Parece que a cutucada passou despercebida pelo governo chinês. Como bem sabe John Woo, dissimulação também é uma estratégia de guerra.

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