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Folclore

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Por:   •  28/3/2015  •  9.105 Palavras (37 Páginas)  •  1.091 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ANDIARA DOS SANTOS BARBON

DANÇAS FOLCLÓRICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2011

ANDIARA DOS SANTOS BARBON

DANÇAS FOLCLÓRICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado para obtenção do grau de Licenciado no curso de Educação Física da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC.

Orientador (a): Prof. Valter Savi.

CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2011

ANDIARA DOS SANTOS BARBON

DANÇAS FOLCLÓRICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do grau de Licenciado no Curso de Educação Física da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com linha de Pesquisa em Educação Física Escolar.

Criciúma, 06 de Dezembro de 2011.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Valter Savi – Especialista – (UNESC) - Orientador

Prof. Marisa Barbosa Hertel – Especialista – UNESC

Prof. Neide Inês Ghellere de Luca – Mestre – UNESC

Dedico este trabalho a todos aqueles que direta ou indiretamente percorreram esta jornada comigo, me incentivando e me apoiando no que fosse preciso, impedindo que eu desistisse nos momentos difíceis que nos deparamos cotidianamente e me dando força para que eu seguisse em frente e lutasse por meus ideais.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me concebido condições para atingir meus objetivos, à minha família que sempre esteve presente em cada uma de minhas conquistas, aos amigos pelo companheirismo durante esta trajetória, ao orientador e professores que contribuíram por meio de suas experiências para a conclusão deste trabalho com base numa educação transformadora, e a todos aqueles que participaram direta e indiretamente desta jornada.

“Nada melhor do que as tradições para retemperar a saúde de nossa alma brasileira”.

Mario de Andrade

RESUMO

O Folclore representa as tradições e costumes dos povos culturalmente diferenciados, constituindo uma diversidade de pensamentos e sentimentos, pois é uma cultura viva e dinâmica que está presente no nosso cotidiano e que raramente nos detemos a pensar. Neste sentido, as danças folclóricas se caracterizam por promover a integração, socialização, prazer, divertimento e respeito aos costumes das diversas civilizações humanas. Entretanto, este conteúdo encontra-se empobrecido de reflexões acerca seu papel social, estando restritas apenas as datas comemorativas do calendário escolar. Este fato se dá pelas novas tecnologias que surgem e que modificam constantemente os hábitos populacionais, fazendo com que as danças folclóricas caiam no esquecimento e sejam substituídas por aquelas veiculadas pela mídia. Com isso, cabe ao professor de Educação Física sistematizar estes conhecimentos possibilitando que o aluno forme um pensamento crítico sobre esta e outras temáticas que envolvem a cultura corporal de movimento, e no caso das danças folclóricas deve possibilitar que o estudante comunique-se com o mundo e com outras culturas ampliando seus conhecimentos. O aluno ao ter contato com diferentes culturas resgata o elo entre o presente e o passado, conhecendo uma riqueza cultural desconhecida pelas novas gerações e que contribuíram para a evolução da humanidade. Portanto, a presente pesquisa tem como problema: Quais as contribuições que o ensino das danças folclóricas traz para os alunos na Educação Física escolar? Tendo como objetivo geral: Analisar como as danças folclóricas podem contribuir para o desenvolvimento dos alunos na Educação Física escolar. Dessa forma, resgatar e preservar nossas tradições é nos aproximar de nossa própria história, permitindo conhecer o passado e valorizar o presente, contribuindo de forma efetiva para a transformação da sociedade, agindo como cidadãos conscientes de nossas origens. O trabalho está estruturado em cinco capítulos, além da conclusão.

Palavras-chave: Folclore. Dança. Educação Física.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

AM – Amazonas

AL – Alagoas

BA – Bahia

CE – Ceará

ES – Espírito Santo

GO – Goiás

MA – Maranhão

MG – Minas Gerais

MT – Mato Grosso

NE – Nordeste

PA – Pará

PI – Piauí

PR – Paraná

RJ – Rio de Janeiro

RN – Rio Grande do Norte

RS – Rio Grande do Sul

SC – Santa Catarina

SP – São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10

2 A DANÇA ............................................................................................................... 12

2.1 Definições de Arte ............................................................................................... 12

2.2 Definições de Dança ........................................................................................... 12

2.3 Definições de Ritmo ............................................................................................ 13

2.4 Aspectos históricos da Dança ............................................................................. 14

3 FOLCLORE ............................................................................................................ 19

3.1 Definições de Cultura .......................................................................................... 19

3.2 Definições de Folclore ......................................................................................... 19

3.3 Fato Folclórico ..................................................................................................... 20

3.4 Aspectos históricos do Folclore ........................................................................... 22

4 DANÇAS FOLCLÓRICAS ..................................................................................... 25

5 DANÇA E SUA APLICABILIDADE NA ESCOLA ................................................. 30

5.1 Dança no contexto da Educação Física .............................................................. 32

5.2 Danças Folclóricas na Educação Física Escolar ................................................. 36

5.3 A Dança e a influência da Mídia .......................................................................... 41

6 CONCEPÇÃO CRÍTICO-SUPERADORA .............................................................. 46

6.1 A Dança nos Ciclos de Escolarização ................................................................. 51

7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 57

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59

1 INTRODUÇÃO

A dança e seus estilos é um tipo de conhecimento significativo para a formação humana e deve ser potencializada no sistema educacional, pois sendo considerado conteúdo da Educação Física, esta é uma linguagem da arte que expressa diversas possibilidades de assimilação do mundo, e permite a ampliação da aprendizagem, contribuindo para a formação de cidadãos críticos, da qual deve comprometer-se com a transformação do contexto escolar.

Com isso, a expressão artística na escola contribui para a liberdade, para a construção da autonomia e do conhecimento dos alunos.

Neste sentido, o folclore, e especificamente as danças folclóricas representam um artefato cultural presente desde as civilizações mais remotas até os dias atuais, porém estão sendo substituídas pelas danças veiculadas pela mídia, sem contextualizações e reflexões a cerca de sua prática.

Este estudo permite oferecer alternativas para que os professores possam trabalhar com este conteúdo nas aulas de Educação Física, permitindo que o aluno tenha acesso à sua própria cultura e a de outros povos, ampliando seus conhecimentos teóricos e práticos.

Portanto, o tema foi escolhido com a intenção de compreender os limites impostos para a inserção da dança na escola, neste caso as danças folclóricas que se apresenta quase esquecida no contexto escolar, e que deve ser resgatada para que os alunos tenham acesso à diversidade cultural existente nas civilizações humanas.

Neste sentido, este trabalho surgiu, portanto, da necessidade de um aprofundamento teórico sobre esta temática. A pesquisa tem como Tema: Danças Folclóricas na Educação Física Escolar.

O Problema elaborado para a pesquisa reside na seguinte questão: Quais as contribuições que o ensino das danças folclóricas traz para os alunos na Educação Física escolar? As Questões Norteadoras foram construídas a partir do problema da pesquisa, sendo as seguintes: Como os professores de Educação Física trabalham com a dança na Educação Física escolar? Quais danças são mais apropriadas para serem trabalhadas na escola? Como os professores de Educação Física devem trabalhar com as danças folclóricas de maneira que contribua para o desenvolvimento dos alunos?

Diante desse panorama, o Objetivo Geral deste estudo é analisar como as danças folclóricas podem contribuir para o desenvolvimento dos alunos na Educação Física escolar. E a partir do objetivo geral traçamos os seguintes Objetivos Específicos: conhecer quais os benefícios que as danças folclóricas podem trazer aos alunos na Educação Física escolar; identificar quais as influências causadas pela mídia na prática da dança na escola; verificar como a dança deve ser trabalhada com base na concepção crítico-superadora.

Para fins deste estudo optou-se pela Pesquisa Bibliográfica fundamentada em fontes como artigos de revistas científicas e livros sobre o tema a ser pesquisado.

O trabalho foi estruturado com os seguintes capítulos: capitulo I: dança aspectos históricos e definições; capítulo II: folclore, aspectos históricos e definições; capítulo III: danças folclóricas; capítulo IV: dança e sua aplicabilidade na escola e na educação física; capítulo V: concepção crítico-superadora e a dança.

Portanto, esta pesquisa foi estruturada de modo a nos dar um panorama sobre como a dança está inserida na sociedade, e principalmente na escola, e como ela deveria ser trabalhada a fim fazer com que o aluno reflita sobre sua prática, lançando um olhar crítico sobre ela, provocando reflexões a cerca de seu papel social.

2 A DANÇA

2.1 Definições de Arte

Conforme Zanin (2004, p. 57):

A arte sempre esteve presente em todas as formações culturais, desde o início da história da humanidade. Ao desenhar um bisão numa caverna, na Pré-história, o homem teve que aprender seu ofício. Depois, ensinou para alguém o que aprendeu. Assim, o ensino e a aprendizagem da arte fazem parte do conhecimento que envolve a produção artística em todos os tempos.

Para Tabosa (s.d, p. 01) “em sua acepção mais geral, arte significa todo conjunto de regras capazes de dirigir uma atividade humana qualquer”.

Desta forma, observamos em Silva (s.d, p. 01) que:

A Arte integra um processo biológico da evolução humana, sendo por isso distinto das atividades mais ou menos ornamentais que lhe foi ministrada por historiadores, psicólogos, biólogos e outros. A arte é um conjunto de meios que o homem emprega para exercitar e explanar grandes sensações, fortes emoções e em especial roça o sentimento do belo: e profundamente o prazer de ser arte e de fazer arte.

De acordo com Herbert Read (apud Silva, s.d, p. 05) “a arte é expressão. A função da arte não é transmitir sentimentos do artista, mas estimular modificações a nível dos sentimentos de quem contempla a obra de arte”.

Com isso, Tabosa (s.d, p. 01) afirma que “para Platão, a arte abrange todas as atividades humanas ordenadas, e diferencia-se, no seu complexo, da natureza”. Sendo que ainda aborda a ideia de que “[...] para Aristóteles, não há arte alguma que não seja uma disposição relacionada com o produzir, como também, não existe qualquer disposição relacionada com o produzir que não seja uma arte”.

Sendo assim, a arte está presente em todas as ações humanas, e como ressalta Silva (s.d, p. 05):

A arte é imã daquelas coisas que, como o ar ou o solo, está em todo o lugar à nossa volta, mas acerca da qual raramente nos detemos a pensar. Porque arte não é apenas algo que se encontra nos museus e galerias de arte, ou velhas cidades como Florença e Roma. A Arte, como quer que a definamos, está presente em tudo o que fazemos para agradar aos nossos sentidos.

Portanto, a arte é uma forma de expressão por meio das ações humanas, estando presente constantemente nas produções da sociedade, possibilitando que novas culturas sejam aprendidas e reelaboradas pelos sujeitos envolvidos.

2.2 Definições de Dança

Conforme Garcia e Haas (2003, p. 139) “entende-se a dança como uma arte que significa expressão gestual e facial através de movimentos corporais, emoções sentidas a partir de determinado estado de espírito”.

Para Carbonera e Carbonera (2008, p. 07) “onde existe vida existe movimento e a dança é movimento, a sucessão deles, sua integração. É expressão de vida, transmissão de sentimentos, comunicação, vivência corporal e emocional”.

Portanto, a dança é arte que utiliza o corpo em movimento e como linguagem expressiva, são movimentos voluntários, harmoniosos, rítmicos, com fins neles mesmos. Ou seja, se apresenta como um conjunto completo de possibilidades físicas do corpo humano, em que este é instrumento da arte da dança. De acordo com Garcia e Haas (2003, p.140) “é necessário discipliná-lo e desenvolvê-lo, a fim de que o mesmo atinja, através de movimentos harmônicos coordenados, toda a plasticidade, pureza de linhas e expressões possíveis”.

Para Soares et al (1992, p.58):

Considera-se a dança uma expressão representativa de diversos aspectos da vida do homem. Pode ser considerada como linguagem social que permite a transmissão de sentimentos, emoções da afetividade vivida nas esferas da religiosidade, do trabalho, dos costumes, hábitos, da saúde, da guerra etc.

Com isso, percebe-se que a dança deve ser vista para além de meros movimentos e gestos corporais, portanto, deve ser entendida como a expressão de interesses e desejos de um povo que encontrou na dança uma maneira de suprir suas necessidades físicas e mentais.

Observamos em Carbonera e Carbonera (2008,p. 07) que:

A dança é movimento e não pode ser satisfatoriamente descrita, verbalizada, é essencial vivê-la, senti-la, experimentá-la. É inerente ao ser humano, em qualquer um de nós, em qualquer homem ou mulher que transita pela rua. É necessário desmistificá-la, desenterrá-la, cultivá-la e compartilhá-la.

Sendo assim, observamos em Brasileiro (2003) que a dança é defendida dentro do campo da arte. Portanto, é algo que excede o dizer em palavras, mas localiza-se no universo da linguagem corpórea do homem e que possui códigos universais.

2.3 Definições de Ritmo

Para Carbonera e Carbonera (2008, p. 30):

O ritmo faz parte de tudo o que existe no universo, é um impulso, o estímulo que caracteriza a vida. Ele se faz presente na natureza, na vida humana,

animal e vegetal, nas funções orgânicas do homem, em suas manifestações corporais, na expressão interior exteriorizada pelo gesto, no movimento, qualquer que seja ele.

Possibilita combinações infinitas, possui diferentes durações ou combinações variadas em diferentes formas de movimento, alternando-se com inúmeras formas de repouso.

Observamos em Tubino (apud Garcia e Haas, 2003, p. 28) que “o ritmo é qualidade física, explicada pelo encadeamento de tempo ou pelo encadeamento energético, pela mudança de tensão ou de repouso, enfim, pela variação com repetições periódicas, estando presente em todas as modalidades esportivas”.

De acordo com Barros (s.d, p. 01) “ritmo é vida e está particularmente ligado à necessidade do mundo moderno. Cada indivíduo, ou ser vivo, possui um ritmo próprio”. Ou seja, ao observarmos os movimentos principalmente das crianças, verificamos que estes são naturais, livres e espontâneos, o que caracteriza o ritmo do próprio corpo, que surge do interior para o exterior, cujas bases são orgânicas.

Conforme Jeandot (apud Garcia e Haas, 2003, p. 28) “o ritmo é o elemento mais essencial da música; determina seu movimento e sua palpitação e representa, em última análise, o contraste entre o som e o silêncio”.

Para Barros (s.d, p. 02) “dar ritmo ao movimento significa torná-lo vivo, com características pessoais, transmitindo particularmente uma expressão do que se sente no momento”.

De acordo com Diniz e Santos (s.d, p. 02):

O ritmo, que acompanha o gesto, é uma descarga emocional servindo para regular e medir todas as forças vitais; é ele que estabelece a harmonia e equilíbrio dos movimentos, preside à ordem das coisas e dá aos gestos do homem e às suas reações a força e a expressão. O ritmo é o primeiro movimento da vida que incide sobre os músculos do corpo humano.

2.4 Aspectos históricos da Dança

De acordo com Garcia e Haas (2003, p.65) “desde que existe o homem, existe a dança”.

Acredita-se que muito antes do homem fazer o uso das palavras para se comunicar, a dança já era utilizada como uma forma de expressar os sentimentos. Dançar era algo natural. Conforme Garcia e Haas (2003, p. 65) “unindo-se a música ao gesto, nasceu à dança. Descobertos, o som, o ritmo e o movimento, o homem passou a dançar”.

A dança registrava nos movimentos, suas intenções, vocabulário gestual, expressão facial, cenários, figurinos e composições de acordo com uma

manifestação corporal, que remetem aos interesses da sociedade e ao tipo de cidadãos que se pretendia formar.

De acordo com Garcia e Haas (2003, p. 65) “a dança é e sempre, será um patrimônio histórico que permeia a cultura corporal do homem”.

Portanto, o ato de dançar percorreu a história juntamente com a evolução da humanidade, sendo que sua prática representava as necessidades e interesses de um povo expressos pelos movimentos corporais. Assim podemos observar a seguir:

Dança na Era Primitiva: Os primeiros vestígios da prática de dança foram encontrados em cavernas por meio de pinturas e esculturas pré-históricas.

Acredita-se que o homem primitivo fazia uso dos seus movimentos, para agradar aos deuses, além de celebrarem cada manifestação de sua vida.

Conforme Garcia e Haas (2003) a dança tinha como finalidades a vida, saúde, fertilidade e plenitude da força.

As três formas fundamentais de dança, em solo, em pares e em grupos, datam da era primitiva, principalmente a dança em pares que era utilizada para celebrar a fertilidade, ou seja, o crescimento da própria tribo.

Dança no Egito: Os primeiros exemplos de dança apontam que eram confiadas às mulheres, pois atribuíam a criação da dança a deuses associados à fertilidade.

De acordo com Garcia e Haas (2003, p.68):

Nas paixões, realizadas em honra a Osíris, cantava-se e dançava-se antecedendo a cheia do Rio Nilo. Transformada em festival que durava dezoito dias, bailarinos e cantores representavam, através da dança pantomímica, a morte e ressurreição da divindade”.

Devido à distinção de classes sociais, apenas os camponeses conheceram a dança em forma de conjunto, pois os nobres dançavam apenas individualmente, sendo considerada uma classe especial.

Uma das danças originadas no Egito, a dança do ventre, tinha caráter religioso, da qual as sacerdotisas dançavam para o sol com a finalidade de receberem energias masculinas e para neutralizarem suas energias sexuais.

Com o surgimento do pandeiro e vestuário, as danças egípcias foram perdendo seu caráter religioso.

Dança na Grécia: A dança teve destaque tanto na vida cívica como religiosa dos gregos. Nos poemas de Homero havia referências às danças bélicas, funerárias, agrícolas, nupciais e astrais.

Sendo o povo grego verdadeiro adorador dos deuses, nas festas esotéricas fazia-se o uso de teatro cantado e o dançado, nas formas de tragédia e comédia.

Conforme Garcia e Haas (2003, p.71):

A tragédia expressava, no palco, a força e o espírito de um tempo de vitória, de exaltação do homem, de um tempo de fazer chorar para pensar, enquanto a comédia festejava a potência dos seres antropomórficos com magia e risada eufórica.

De acordo com Garcia e Haas (2003) as danças religiosas, dramáticas, guerreiras e funerárias eram as manifestações dessa civilização.

Dança em Roma: A dança romana não se vinculou à religião e ao teatro. Na verdade, os romanos não tinham apreço pela dança, pois o que despertava prazer nesta civilização eram as lutas com animais ferozes e entre gladiadores.

Rômulo ao criar a bellicrepa, dança que simbolizava o rapto das sabinas, modificou este quadro, tornando a dança bastante relevante nesta época.

Entretanto, a presença obrigatória de jovens, dançando com muita feminilidade nos banquetes, foi se deturpando até serem consideradas danças eróticas, porém mesmo com a intervenção das comunidades cristãs, não conseguiram extingui-las. As danças também eram realizadas em cerimônias religiosas como forma de louvar a Deus.

Conforme Garcia e Haas (2003, p.74) “o povo romano adorava as danças imitativas devido ao aspecto racional e intelectual, permanecendo, pois, distante a dança como êxtase que tinha capacidade abstrata e imaginativa”.

Dança na Idade Média: Nesta época, a Igreja Cristã posicionou-se de forma a condenar e a tolerar a dança, pois apesar de inúmeras tentativas de proibição, não conseguiram extinguir os vestígios pagãos nos costumes populares.

Na Idade Média, as danças também foram absorvidas pela nobreza, sendo levada para recintos fechados com indumentárias pesadas e elegantes que representavam tal classe social.

Na idade média, a dança passa a ser apenas divertimento, sem os espetáculos que o mundo conhece hoje.

Dança do Século XV ao Século XX: A dança recomeça a florescer nesta época, com determinadas regras, estipuladas conforme o gosto da nobreza reinante. Surgem então, pela primeira vez, o bailarino e o mestre. O bailarino dançava e interpretava o que o mestre ensinava, em termos de técnicas e coreografias. As

danças populares continuaram existindo, não apenas mantendo suas tradições, mas também introduzindo figuras novas, vindas do balé da corte.

Posteriormente, no período do Romantismo, conforme Garcia e Haas (2003, p. 79) “o balé clássico, neste sentido, incorporou-se a esse movimento, negando a realidade, indo ao encontro da fantasia, do irreal, do imaginário e do etéreo”.

Em outras palavras, amor, sonhos eram os temas que extasiavam bailarinos e coreógrafos. Sendo que é nesta época que surgem as sapatilhas de ponta das bailarinas clássicas.

Portanto, no século XVIII, o balé chega à Rússia, e os grandes senhores russos instalaram teatros em suas fazendas para que diversos artistas pudessem mostrar seus talentos, para que posteriormente pudessem se apresentar nas cortes. Dessa forma, o balé clássico sofreu grande influência popular e a partir dos bailarinos que se consagraram, influenciou fortemente a dança mundial.

Dança Moderna e Contemporânea: O ser humano nesta época sentiu a necessidade de mudar suas concepções para que surgissem ideias inovadoras, e transformações da sociedade estabelecida até então. Portanto, a dança transformou-se para além das dimensões já existentes.

Essas mudanças se deram por bailarinos que, inconformados com as técnicas e regras dos modelos tradicionais, criaram novas formas de dançar com roupas leves e o corpo totalmente solto e que juntamente com a expressão foram intitulados de dança livre.

Nesta época, surgiram escolas que se caracterizavam por trabalhar com propostas de movimentos diferenciados, da qual mesclavam diferentes técnicas e estilos de dança. Muitos dançarinos e coreógrafos deste período revolucionaram a dança, transformando os movimentos e expressões corporais que contribuíram para o surgimento de novos estilos de dança, tanto individuais, em pares ou em conjuntos.

De acordo com Garcia e Haas (2003, P.99):

O panorama (atual) da dança (profissional), exprime um cenário expressivo de totalidade imaginativa, instigante, provocativa, que transcende as expressões para além dos signos e símbolos corporais... instaura-se como um cenário, cujo fenômeno aborda múltiplas a nuances das possibilidades quase “impossíveis” do corpo...

Portanto, a dança ao longo do tempo foi se modificando de acordo com as necessidades da sociedade, pois essas transformações se deram pela evolução dos povos e os valores que estes atribuíam à sua prática.

3 FOLCLORE

3.1 Definições de Cultura

Para Sborquia e Neira (2008, p. 81) “cultura se refere à dimensão simbólica presente nos significados compartilhados por um determinado grupo. Cultura é aqui concebida como prática social, não como coisa ou estado de ser.”

Desta forma, conforme Pereira (2009, p. 89) “a cultura é uma dimensão da realidade social, a dimensão não-material, uma dimensão totalizadora, pois engloba os vários aspectos da realidade do qual são construídas pelas ações dos próprios homens.”

Percebe-se então que a cultura de um povo é manifestada por meio da linguagem, da criação e da expressão, da qual é preciso entender que não é algo acabado, mas sim um produto da história da sociedade, resultado das interações humanas contínuas existentes entre povos de determinadas regiões.

Com isso, Pereira (2009) ressalta que os produtores da cultura popular, é a classe trabalhadora que expressa seus interesses e desejos de forma prazerosa e produtiva nos objetos e elementos culturais que cria, e não com o intuito do consumo mercantil.

Neste sentido, Sborquia e Neira (2008) destacam que ao se referir à cultura popular, devemos ter entendimento sobre as mudanças que ocorrem no equilíbrio e nas relações das forças sociais em torno da cultura e tradições dos trabalhadores e dos pobres, pois a cultura popular representa uma das formas de oposição à cultura erudita, pertencente às elites.

Portanto, ao relacionar folclore e cultura popular Cascudo (apud Pereira, 2009, p. 92) diz que “folclore é a cultura do popular, tornada normativa pela tradição. Compreende técnicas e processos utilitários que se valorizam numa ampliação emocional, além do ângulo do funcionamento racional.”

Desta forma, Pereira (2009) ressalta que o folclore é essencial para caracterizar a formação cultural de um povo e de seu passado, além de detectar a cultura popular vigente, pois o fato folclórico é influenciado pela época em que acontece.

3.2 Definições de Folclore

De acordo com Lima (1972), a palavra folk-lore teve seu primeiro registro em 22 de Agosto de 1846, por meio do arqueólogo inglês William John Thoms. A palavra Folk quer dizer povo; lore, o saber, o conhecimento, o costume, ou seja, folclore significa as tradições de um povo.

Portanto, o folclore representa as tradições, expressa os significados do pensar, agir e sentir dos diferentes grupos sociais, ou seja, constitui a diversidade de pensamentos, sentimentos, arte e cultura de povos que se mesclando uns aos outros constituem o folclore de cada nação.

Para Lima (1972, p.17) “o folclore é uma ciência do homem, analisa o homem cultural, nas suas expressões de cultura espontânea, do sentir, pensar, agir e reagir, e também no contexto da sociedade que vive, portanto, como homem social.”

Observamos em Frade (1997), que as diferentes expressões denominadas folclóricas são imemoriais e permanecem em usos e costumes de todos os povos e entre as mais diversas culturas, e que leva a um movimento em direção a outros grupamentos sociais, culturalmente diferenciados que torna o folclore um acervo de costumes em cada país.

De acordo com Cachambu et al (2005, p.55):

[...] o folclore é uma cultura viva e dinâmica, que faz parte do nosso cotidiano, embora muitas vezes passe despercebido e seja visto somente nos aspectos ligados a superstições e crendices. Ele se estende a muito mais do que isso: podemos encontrá-lo na linguagem, nos gestos, no lúdico, nas vestimentas, na literatura, na medicina.

Com isso, Benjamin (s.d) revela que o folclore é algo universal e tradicional quando se refere a temas e motivos invariantes, sendo regional e atualizado conforme estas variantes, que são o resultado da criatividade do portador do folclore e de sua comunidade.

3.3 Fato Folclórico

De acordo com a Carta do Folclore Brasileiro (1951):

Constituem o fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular e pela imitação e que não sejam diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação e conservação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica.

São também reconhecidas como idôneas as observações levadas a efeito sobre a realidade folclórica, sem o fundamento tradicional, bastando que sejam respeitadas as características de fato de aceitação coletiva, anônima ou não, e essencialmente popular.

Observamos em Benjamin (s.d) que as características como anonimato, aceitação coletiva, transmissão oral, antiguidade, tradicionalidade e dinamicidade, espontaneidade, funcionalidade e regionalidade desapareceram com a releitura da carta no VIII Congresso Brasileiro do Folclore em 1995, portanto Benjamin (s.d) elenca as características que constituem o fato folclórico, juntamente com seus significados, sendo:

- Anonimato: é o fato folclórico em que não se identificou o autor.

- Aceitação Coletiva: quando o fato é aceito por toda a comunidade, em que se torna patrimônio comum do grupo da qual ocorrem adições, variações e reinterpretações.

- Transmissão Oral: este fato exclui as manifestações escritas e as técnicas populares, pois se refere apenas à palavra com sentido simbólico para o grupo, da qual o aprendizado do folclore ocorre por meio da transmissão oral.

- Antiguidade: para os folcloristas mais tradicionais, o que era antigo deveria se tornar fato folclórico. Todavia, como destaca Benjamin (s.d) este aspecto acaba por negar ao povo a capacidade criativa de construir novos saberes para o folclore.

- Tradicionalidade e Dinamicidade: a tradicionalidade é entendida como uma continuidade, onde os fatos novos se inserem sem causar rupturas com o passado, mas que se constroem sobre esse passado. E neste sentido, a dinamicidade refere-se à evolução constante a que todos os fatos culturais estão sujeitos.

- Espontaneidade: são fatos que nascem na comunidade e não pertencem a nenhum tipo de instituição, são saberes aprendidos com a convivência, de forma quase inconsciente e progressiva.

- Funcionalidade: os fatos folclóricos exercem funções por integrarem sistemas culturais, e devem ser entendidos nas esferas políticas, sociais, econômicas, entre outros.

- Regionalidade: as diversas manifestações folclóricas surgem na comunidade local, e, portanto são costumes que representam a vida cotidiana de um povo. Em algumas localidades podemos encontrar as mesmas manifestações com a mesma origem. Apenas foram sendo recriadas e reinterpretadas por cada comunidade, o que as torna diferenciadas.

Desta forma, verificamos que o fato folclórico caracteriza as mais variadas criações dos povos, preservando os costumes e tradições, porém ele possibilita que seja reinterpretado e recriado de acordo com as novas concepções de vida que surgem.

3.4 Aspectos históricos do Folclore

O criador da palavra Folk-lore, aportuguesada para Folclore, foi o arqueólogo inglês William Thoms. Desde a juventude, ele se dedicou ao estudo das “antiguidades populares”. Fundou a revista “Notas e Perguntas”, para o intercâmbio de dados de literatura popular, da qual esteve em funcionamento de 1849 a 1872.

Observamos em Almeida (1974) que Folclore era um conteúdo muito rico, que abrangia os contos, lendas, mitos, provérbios, ou seja, tudo aquilo que era denominado de literatura oral. Mais tarde, incorporou-se a música, elemento inseparável da poesia popular, e admitiu-se a dança, da qual o envolvimento de todos esses elementos enriqueceu mais ainda os saberes populares, até então entendidos como Folclore.

De acordo com Lima (1972), em 1846, William Thoms endereçou carta à revista “The Atheneum” de Londres, com a finalidade de pedir apoio para um levantamento de dados sobre usos, tradições, lendas e baladas regionais da Inglaterra.

Percebemos nesta carta, divulgada no número 982 da publicação, a 22 de Agosto de 1846 que Thoms registra pela primeira vez a palavra “folclore”. Atribuindo a esta o significado de saber tradicional do povo, ou seja, “Folk” com a significação de povo, e “lore”, traduzindo estudo, ciência ou mais propriamente: o que faz o povo, a sentir, pensar, agir e reagir. Sendo que as relações entre o Folk-lore da Inglaterra e da Alemanha eram muito próximas, pois os irmãos Grimm, alemães, também eram estudiosos desta área e propunham inovações que se refletiam nas tendências dos novos estudiosos, servindo como inspiração para auxiliar nos estudos das tradições populares.

Baseando-se em Frade (1997), todas as discussões que envolviam o folclore nos outros países, chegam em 1888 ao Novo Continente, e é fundada a “American Folklore Society”, contextualizada numa região com população etnicamente diversificada, da qual propuseram uma ampliação dos estudos sobre o Folclore.

Portanto, à medida que os estudos de Thoms avançam pelos espaços físicos, iam também rompendo com os limites estabelecidos por suas pesquisas, da qual se aproximavam cada vez mais com as questões relacionadas à vida do homem e suas tradições.

Sendo que, no feudo da história das tradições populares, os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm foram os verdadeiros fundadores da disciplina que Thoms

denominou de Folclore. Partindo da escola histórica Savigny realizaram estudos aprofundados, com pesquisas em diversos setores do conhecimento humano.

Para Almeida (1974), nesses estudos, com a coleta de contos, lendas, mitos, concluíram que a poesia e a história eram inseparáveis e se confundiam com a epopeia, entendida não apenas como uma compilação de fatos, mas sim como uma interpretação da realidade.

Portanto, os novos caminhos abertos pelos irmãos Grimm, na metade do século passado, instigaram diversos pesquisadores a procurarem em seus estudos a verdadeira origem das tradições populares. Por meio dessas pesquisas primárias, passaram a investigar o campo da história e mentalidade do homem primitivo, até chegarem aos estudos contemporâneos, que tem o Folclore como ciência autônoma.

Entretanto, de acordo com Lima (1972), a palavra “folclore” só foi confirmada em 1878, com a fundação da Sociedade de Folclore em Londres, da qual teve a iniciativa de George Laurence Gomme para a sua fundação. Sendo que William John Thoms foi o primeiro presidente e estipulou como objetivo a conservação e publicação das tradições populares, e todos os aspectos relacionados a ela.

Em Almeida (1974), observamos que em 1884, Gomme propôs que se discutisse o sentido abrangente da palavra Folclore, da qual estatuiu que:

Narrativas tradicionais (contos populares, contos de heróis, baladas e canções, lendas locais).

Costumes tradicionais (costumes locais, festas consuetudinárias, cerimônias consuetudinárias e jogos).

Superstições e crenças (bruxaria, astrologia, superstições e práticas de feitiçaria).

V- Linguagem popular (ditos populares, nomenclatura popular, provérbios, refrões e adivinhas).

Com a organização sistemática dos conhecimentos adquiridos por meio de estudos, os historiadores iam tomando conta do Folclore, o difundindo para o resto do mundo por meio de pesquisas aprofundadas sobre o tema.

Frade (1997) destaca que no Brasil, os estudos referentes ao Folclore chegaram por meio de estudiosos que apresentaram sugestões diversificadas sobre o tema. João Ribeiro, Artur Ramos e Renato Almeida, por meio de pesquisas,

chegaram ao campo do Folclore pelas áreas da História, Filologia, e também por métodos psicológicos para a interpretação dos fatos.

Afirmam que, o Folclore envolve elementos materiais e imateriais, pois o lado espiritual da cultura se completa nos usos, costumes, práticas e técnicas. Portanto seu estudo se aproxima mais da Etnologia e Antropologia Cultural.

Vale ressaltar que a Carta do Folclore Brasileiro, aprovada em 1951 pelo I Congresso Brasileiro de Folclore no Rio de Janeiro, aprovou diversas questões e conceitos relacionados ao Folclore que permearam os futuros estudos e pesquisas que ampliaram esta área do conhecimento.

Desta forma, de acordo com Garcia e Haas (2003, p.121) ficou intitulado que o termo folclore significa “as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservados pela tradição popular, ou pela imitação, e que não sejam diretamente influenciadas pelo círculo erudito e instituições que se dedicam ou à renovação do patrimônio científico e artístico humano, ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica” (Carta do Folclore Brasileiro de 1951).

Porém, no ano de 1995 durante VIII Congresso Brasileiro de Folclore houve uma releitura da Carta do Folclore Brasileiro, sendo esta atualizada com a finalidade de reconceituar o termo folclore, que assim ficou intitulado:

Folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade (CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO, 1995, [s.n]).

4 DANÇAS FOLCLÓRICAS

Conforme Garcia e Haas (2003) as danças folclóricas, transmitidas de geração a geração, é uma das formas de dança mais antigas, datando desde a época das culturas tribais evoluídas que estabeleceram ligação com as grandes civilizações da história da humanidade. Elas têm como características: a integração, socialização, prazer, divertimento, respeito aos costumes e tradições.

De acordo com Frade (1997, p. 35) “entende-se por Danças Folclóricas as expressões populares, desenvolvidas em conjunto ou individualmente, que têm na coreografia o elemento definidor”.

As danças folclóricas, durante a evolução da humanidade, surgiram inicialmente como elemento integrante de rituais religiosos, guerreiros e fúnebres dos povos primitivos, porém também eram manifestações coletivas, com os dançadores organizados em círculo, fazendo todos simultaneamente os mesmos movimentos, às vezes com a presença de um solista no centro.

Para Almeida (1974), no Folclore, a dança, assim como os cantos, coros e exclamações em que se cumpriam os ritos necessários ao equilíbrio entre os seres terrenos e as invisíveis forças da magia, aos poucos deixaram de serem cerimônias e se tornaram diversão e entretenimento em forma de arte.

Neste caso, de acordo com registros do século XIII a dança teve como primeira manifestação a ronda. E pode-se verificar que nesta época os ritmos possuíam três tempos, e a forma estrofe-refrão, tinha a primeira cantada pelo solista e a segunda pelo coro.

Os ritmos e cerimônias dos velhos cultos influíram diretamente nas danças europeias (portuguesas), da qual mais tarde foram reinterpretadas de acordo com as transformações de cada povo e as novas concepções de existência humana que surgiram. E a partir dessas transformações é que foram se originando as diversas danças folclóricas representativas de cada região.

Observa-se então que as danças folclóricas são as manifestações que representam os costumes e as crenças dos povos de cada região de um determinado país, e que se diferenciam por suas histórias e a cultura que foi se constituindo ao longo tempo. Com isso, conforme destaca Bregolato (2006) as danças folclóricas são praticadas desde o surgimento dos povos mais remotos, e a elas eram atribuídos diferentes significados que expressavam a vida cotidiana destas civilizações. Sendo:

Dança dos Aldeões e dos Camponeses: dança folclórica de origem europeia, praticada como modo de diversão. Surge numa era pré-industrial em que os trabalhadores viviam cotidianamente num intenso trabalho corporal em que todos os encargos da matéria-prima eram postos a função deles. Faziam o uso da dança para festejar sua independência trabalhadora e familiar.

Dança Religiosa: acontece num momento histórico em que a igreja possui forte influência sobre os povos. Acreditavam que todo o bem humano estava na alma, portanto o corpo não deveria se entregar aos prazeres da carne, pois essas atitudes atrairiam o mal e o corpo, dessa forma, deveria ser punido e ignorado. Atualmente, com exceção de algumas religiões, a dança é vista como algo a ser abençoado, por estar voltada ao amor e a felicidade.

Dança Convulsiva: eram praticadas pelos escravos como uma forma de expressar as necessidades e sofrimento a que estavam submetidos naquela época como fome, guerra e doenças. No Brasil, a dança convulsiva se originou meio as comunidades indígenas em rituais místicos, e mais tarde os negros aderiram essa prática nas macumbas e candomblés.

A partir disso, as danças folclóricas brasileiras também possuem um rico acervo histórico, que como destaca Bregolato (2006) estavam diretamente ligadas à vida cotidiana das pessoas, podendo ser classificadas em: religiosos, guerreiros e a produtividade nas colheitas.

Observamos em Felícitas apud Bregolato (2006, p. 93) que:

O folclore brasileiro, é sem contestar, o mais exuberante e o mais original do mundo inteiro, devido à grande variedade dos povos que trouxeram as tradições dos seus países de origem, como os africanos, portugueses, espanhóis, holandeses, italianos e alemães, que vieram aqui se caldear com os índios.

Desta forma, podemos perceber que o folclore torna-se cada vez mais rico, quando povos de diferentes origens mesclam-se, conhecendo novos saberes que fortalecem a união dos povos por meio da cultura popular.

Assim sendo, conforme Frade (1997), as danças folclóricas possuem aspectos que permitem diversificar suas formas de sistematização:

a) Quanto ao sexo dos participantes: as danças folclóricas geralmente englobam ambos os sexos, formando pares ou coletivos, como também há as danças desenvolvidas apenas por homens e apenas por mulheres.

b) Quanto ao período de celebração: há as manifestações que ocorrem somente em um determinado calendário religioso oficial, apresentando-se assim em determinado período. Há também aquelas que são realizadas no decorrer de um calendário popular, e finalmente aquelas que possuem grande flexibilidade e podem ser realizadas em diferentes celebrações, não seguindo um calendário predeterminado.

c) Quanto ao espaço de realização: as danças podem acontecer no interior de uma casa, na sala mais propriamente dita e que exigem uma estrutura mais requintada, onde são realizadas as danças de salão. E podem acontecer também, no terreiro, da qual oferece mais liberdade nas determinações coreográficas, improvisações e gestos individuais, da qual se organizam em roda, com ou sem destaque e a formação de pares não é obrigatória.

d) Quanto à área geográfica: no Brasil, há muitas danças populares localizadas, porém também podem ser consideradas regionais, pois cada uma delas representa as tradições e costumes de povos culturalmente diferentes.

e) Quanto à indumentária: há as danças que exigem caracterização específica, determinada pelos componentes culturais e poder aquisitivo dos participantes e há as danças que não exigem nenhuma caracterização. Neste caso as roupas usadas nas danças podem ser aquelas usadas cotidianamente pelos dançadores.

Neste sentido, tomando como referência estes aspectos, Frade (1997) elenca em ordem alfabética, danças realizadas nas diferentes regiões do Brasil. Sendo elas:

Arara: (AM, RJ);

Araruna: (AM, RN);

Baiano: (NE);

Baio: (PI);

Balainha: (PR, SC);

Batuque: (SP);

Camaleão: (AM, PA, RN);

Cana Verde: (Todos os Estados);

Carão: (AM);

Carimbó: (PA);

Catira: (GO, MG, SP);

Cavalo Piancó: (PI);

Caxambu: (MG, RJ);

Ciranda: (RJ);

Coco: (NE);

Cururu: (GO, MT, SP);

Dança da Peiga: (BA);

Dança de Santa Cruz: (SP);

Dança de São Gonçalo: (Todos os Estados);

Dança de Velhos: (BA, MG, RJ, SP);

Dança do Lelê: (MA);

Dança do Maçarico: (AM);

Dança do Tamanduá: (ES);

Desfeiteira: (AM, PA);

Espontão: (RN);

Fado: (RJ);

Gambá: (AM, PA);

Jacundá: (AM);

Jongo: (SP, RJ);

Maculelê: (BA);

Mana-Chica: (ES, RJ);

Manuel do Rosário: (AL);

Milindô: (CE);

Mineiro-Pau: (AM, MG, RJ);

Pagode de Amarante: (PI);

Pau-de-Fitas: (PR, RS, SC);

Piranga: (ES, GO, MT);

Quadrilha: (Todos os Estados);

Rala Bucho: (BA);

Retumbão: (PA);

Samba: (Todos os Estados);

Serafina: (AM);

Siriri: (MT);

Tambor: (GO);

Tambor de Crioula: (MA, PI);

Torém: (CE);

Veado Veadinho: (AM);

Vilão: (GO, SC);

Assim sendo, estas são as danças folclóricas mais conhecidas em todo o Brasil, e que são praticadas tanto em épocas festivas do calendário regional ou nacional, como também podem ser realizadas em outras ocasiões, sem necessariamente seguir um calendário predeterminado.

Dentro deste contexto, citamos algumas danças folclóricas mais conhecidas na região sul, e muito praticadas na escola durante as festas juninas do calendário escolar, porém muitas vezes de maneira descontextualizada, se restringindo apenas à pequena amostra de coreografias, são elas:

Pau-de-Fita: É uma dança característica do Estado de Santa Catarina. Contudo Soares (1979) destaca que é de origem portuguesa, alemã, hispânica e a mistura de outros povos, já que era praticada por diferentes grupos folclóricos, que diversificaram esta cultura popular. Alguns historiadores acreditam que esta dança já existia antes do descobrimento da América, em que os índios Maias já a tinham em seus costumes e rituais.

Em Santa Catarina pode ser encontrada em várias cidades, sendo também utilizada como recreação infantil para crianças das unidades escolares da região.

Quadrilha: É também uma dança típica do Estado do Pernambuco, porém, muito difundida nas outras regiões do Brasil.

Conforme Valente (1979), é uma dança antiga de origem europeia, conservada e popularizada que faz o uso de bailarinos denominados de caipiras com trajes que caracterizam os sertanejos. Geralmente, é mais praticada no mês de junho em honra a Santo Antônio, São João e São Pedro.

É conhecida por ser uma dança alegre e movimentada, praticada na maioria das vezes por jovens do interior, que dançam em pares, permitindo a criação e apresentação de novos passos, o que torna essa dança ainda mais contagiante.

Boi-de-Mamão: é assim conhecido no Estado de Santa Catarina, porém há várias outras denominações decorrentes das diferentes regiões do Brasil.

Bregolato (2006) destaca que esta dança tem a finalidade de simbolizar a morte e a ressurreição, retratando a opressão do branco ao negro nas épocas escravocratas.

O Boi-de-Mamão é considerado um folguedo, pois envolve dança, canto e música, tendo como principais personagens o boi, Mateus, médico, cabrinha, cavalinho, pastoras entre outros. Faz uso de instrumentos musicais geralmente tocados por um grupo de pessoas e as coreografias seguem a história cantada pela orquestra, geralmente regional.

5 DANÇA E SUA APLICABILIDADE NA ESCOLA

Desde as antigas civilizações até a sociedade atual, verifica-se que a dança é expressão cultural mais praticada. Pela qual, o homem manifestava suas emoções e a exteriorizava através dos movimentos: os gestos. Os quais representavam a dança na sua forma mais elementar.

Era por meio da expressividade que o homem primitivo demonstrava sua relação consigo próprio, com o outro e com a natureza. Essa foi sua forma de manifestação social e que serviu para auxiliá-lo a afirmar-se como membro da sua sociedade.

De acordo com Gariba e Franzoni (2007, p.156) “a dança tinha características lúdicas e ritualísticas, nas quais ocorriam manifestações de alegria pela caça e pesca ou dramatizações pelos nascimentos e funerais”. Portanto, as danças em todas as épocas da história, para todos os povos é a representação de suas manifestações, permeio de emoções, expressões e comunicação do ser e de suas características culturais.

De acordo com Gariba e Franzoni (2007, p. 156):

A dança sempre visou acontecimentos importantes da própria vida, da saúde, da religião, da morte, da fertilidade, do vigor físico e sexual, também permeando os caminhos terapêuticos, artísticos e educacionais, estabelecendo assim, uma diversidade interessante para essa manifestação.

Percebe-se que o fundamental é ser capaz de compreender a dança como linguagem, que para além de permear o processo de produção de conhecimento, também prioriza os resultados advindos deste processo de construção, capaz de despertar a consciência crítica de quem os vivencia.

Portanto, como prática pedagógica busca-se possibilitar ao individuo expressar-se criativamente, sem exclusões, tornando essa linguagem corporal produtora e não transformadora, pois é a partir do processo criativo desenvolvido pela dança na escola que o individuo emancipa-se.

Conforme Gariba e Franzoni (2007, p.160) “a dança, então, pode ser uma ferramenta preciosa para o indivíduo lidar com suas necessidades, desejos, expectativas e também servir como instrumento para seu desenvolvimento individual e social”.

A dança pode ser entendida como fonte de percepção com o princípio de que a elaboração do conhecimento passa pelo corpo. Dessa forma, na escola, o ensino

da dança deve estar vinculado a vários aspectos da vida do indivíduo, pois esta atividade pedagógica tem a função de superar uma cultura corporal voltada para execução de movimentos já preestabelecidos, produzidos pela humanidade.

De acordo com Gariba e Franzoni (2007, p.161) “a trajetória da sociedade foi construída numa perspectiva inadequada em relação à valorização da Cultura Corporal”. Isso porque, no âmbito escolar há uma discriminação em relação às disciplinas que são realizadas com um caráter lúdico, pois a crítica aponta nelas a ausência de seriedade, sendo consideradas supérfluas.

Conforme Gariba e Franzoni (2007, p.161) “é o corpo que serve como veículo de expressão, comunicação, apreensão e compreensão de uma realidade”.

Todavia, essa visão tradicional da cultura corporal vem se modificando, e os valores formativos e criativos estão sendo compreendidos pela sociedade, principalmente com o conteúdo, dança.

A dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola, pois com ela, os alunos podem ter a possibilidade de conhecer a si próprios, aos outros e a explorarem o mundo real e imaginário que a mesma permite trabalhar.

Desta forma, observamos em Carbonera e Carbonera (2008, p. 07) que:

Toda criança precisa de experiências de comunicação criativa e interpretativa por meio de movimentos. A experiência da dança integrada as experiências de aprendizagem da criança oferecerá opções para esse tipo expressão. A criança necessita ter a “sensação” de alegria e movimentar-se alegremente; retratar esse humor através da expressão de movimentos. Esses movimentos motivados pela emoção podem transmitir expressões francas e diretas de sentimentos reprimidos, através de uma experiência de dança totalmente desenvolvida.

Sendo assim, percebemos que é por meio de um trabalho consciente, que a dança escolar terá condições de formar indivíduos com conhecimento de suas possibilidades corporal-expressivas, e proporcionar novos olhares para o mundo, envolvendo valores, atitudes e ações cotidianas na sociedade.

De acordo com Gariba e Franzoni (2007) uma proposta de dança escolar, resume-se em buscar uma forma de dança livre, mostrando que não se restringe o aprendizado apenas a gestos técnicos, mas vai além de suas simplificações. Em outras palavras, implica uma perspectiva de arte não só para ser contemplada e admirada a distância, mas para ser aprendida, compreendida, experimentada e explorada, numa tentativa de levar o indivíduo a vivenciar o corpo em todas as suas dimensões.

A dança, em seu processo de ensino-aprendizagem trabalha com aspectos diretamente relacionados ao corpo, à dança, à pluralidade cultural, levando sua prática a ler e interpretar os dados da realidade.

Portanto, ao se trabalhar com a dança escolar, os conteúdos devem ser inacabados, dinâmicos e articulados com a realidade, de forma que transmitam a cultura já existente, e que ao mesmo tempo contribuam para a formação de novos conhecimentos, levando em consideração as vivências corporais dos alunos, para que assim a prática possa adquirir significado.

Desta forma Carbonera e Carbonera (2008) ressaltam que a escola, enquanto meio educacional, deve oportunizar a prática motora, pois esta se apresenta essencial no processo de desenvolvimento geral da criança. Portanto a diversidade cultural existente deve ser considerada no contexto escolar, pois auxilia os professores na construção de conteúdos que ampliem as relações entre os conhecimentos da cultura corporal e os sujeitos da aprendizagem, possibilitando que haja uma ampliação das dimensões afetivas, cognitivas, motoras e socioculturais dos alunos.

Entretanto, a inclusão da dança na escola não deve acontecer apenas na teoria e no planejamento, pois a prática favorece o aprendizado e contribui no processo de desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio, flexibilidade, criatividade, musicalidade, socialização e o conhecimento da dança em si. Assim a criança pode ter a oportunidade de utilizar seus movimentos naturais, trabalhando as expressões corporais e faciais de forma espontânea, de acordo com suas possibilidades.

Portanto, a dança no contexto escolar apresenta-se construtiva, se for associada às experiências lúdicas, pois estará ao alcance de todos, sem a intenção de formar bailarinos, mas proporcionar que o aluno se expresse criativamente por meio do movimento.

5.1 Dança no contexto da Educação Física

A Educação Física como área do conhecimento e disciplina curricular, aborda múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos a respeito do corpo, sendo que os conteúdos devem estar articulados a saberes sistematizados, contextualizando o indivíduo no seu próprio meio, por meio da teoria e da prática educacional.

Para Carbonera e Carbonera (2008, p. 16):

A Educação Física prioriza o movimento corporal, isto, além de diferenciá-la de outras disciplinas, faz dela um espaço rico para a aprendizagem e a criação. Cabe a ela a exploração de todas as possibilidades de conhecimento que o movimento corporal oferece de seus conteúdos específicos.

Portanto, a dança apresenta-se como uma das atividades mais completas por concorrer de forma acentuada para o desenvolvimento integral do ser humano, e de uma forma ou outra, faz parte do contexto da Educação Física.

Conforme destaca Brasileiro (2003) o que percebemos é que apesar de existir a presença da dança na escola, seja nas aulas de Educação Física ou nas demais disciplinas vinculadas à arte, esta ainda encontra-se descontextualizada acerca de discussões sobre a seleção cultural, realizada pelos currículos escolares.

De acordo com Gariba e Franzoni (2007, p.165):

Pensar numa escola emancipadora, portanto, é pensar em um espaço não apenas de escuta, mas de permanentes expressões, representações, construções e criações, capaz de enxergar a prática pedagógica da Educação Física, interagindo com linguagem corporal nas diferentes possibilidades que a dança traz.

É preciso que se entenda que a dança na escola tem que ser considerada como área do conhecimento e precisa ser estudada, compreendida, vivenciada e não ser restringida ao mero entretenimento.

Para Brasileiro (2003) apesar do conteúdo dança estar situada nos currículos de Educação Física desde 1971, esta se apresenta ainda precária no âmbito escolar, por ser minimamente tratada como componente folclórico, pois raramente é valorizada por ter um conhecimento próprio e uma linguagem expressiva específica.

Desta forma, assim como as demais disciplinas do currículo escolar, devemos assumir a dança como conteúdo, e assim recorrer a ela, considerando que esta também é importante para a formação de crianças e adolescentes.

Brasileiro (2003) destaca que as danças são vistas apenas em eventos escolares, e que na maioria das vezes são orientadas pelos professores de Educação Física, da qual percebemos que a presença deste conteúdo na escola é apenas um elemento decorativo, isento de reflexões acerca das contribuições que traz para a formação integral dos alunos.

Com isso, compreender o corpo por meio da dança, como possibilidade de estabelecer múltiplas relações com outras áreas do conhecimento, analisando, discutindo, refletindo e contextualizando seu papel na contemporaneidade, passa a ser condição de quem trabalha com seres humanos, principalmente para quem

trabalha na educação, em que a multiplicidade de corpos está presente nas salas de aula.

No caso das danças populares e folclóricas, cabe aos profissionais da área aprofundar os conhecimentos, de forma contextualizada, desapegadas de técnicas. Soma-se a isso a necessidade do estudo dos movimentos relacionados a essa prática, se apropriando desses conhecimentos para formar os cidadãos críticos, conscientes de seu papel na sociedade, sempre salientando o valor que a dança tem nessa formação.

Dançar envolve inúmeros sentidos, e por meio desta, o homem se afirma como cidadão, desde quando se originou a sociedade. A dança deve ser trabalhada de uma forma dialética. De modo que entre o homem, a cultura e a sociedade haja a possibilidade da diversidade cultural, facilmente percebida pela diferença de movimentos e gestos existentes em cada grupo social.

Sendo assim, observamos em Carbonera e Carbonera (2008, p. 25) que “sabemos que a Educação Física desenvolvida de forma consciente respeita as diferenças, ou seja, as individualidades de cada um e não dicotomiza o ser humano, não separando o corpo físico do mental, entendo que ambos funcionam de modo integral”.

Desta forma, a dança é composta de extrema flexibilidade, efemeridade e liberdade de expressão, e, por ser ainda uma forma de conhecimento livre do pensamento verbal, se torna aquela que tem condições de acompanhar a gradual evolução e dinâmica da sociedade.

De acordo com a Revista Corpoconsciência (2008, p. 39), esta “considera o ser humano indissociado da cultura, na qual natureza e cultura constituem o todo”. Isto quer dizer que considera o corpo como construção cultural, e o homem, por meio de seu corpo, sendo o portador dessas especificidades culturais, as expressa por meio dos movimentos e gestos corporais.

Portanto, no caso das danças folclóricas, vista como a expressão de uma cultura pelo corpo, é possível perceber as diferenças de expressão corporal de cada sociedade a partir da observação dos movimentos corporais.

Neste sentido, de acordo com a Revista Corpoconsciência (2008, p. 40):

A Educação Física, além de estudar o movimento humano, tratará desse conhecimento no que concerne à cultura corporal, sendo responsável pelo conhecimento produzido universalmente por ela, ou seja, compreensão dos símbolos culturais presentes nessa prática.

O movimento irá se estruturar sempre na articulação homem – mundo, na interação do sujeito com o meio ambiente, pois os movimentos não são mecânicos, e sim dialéticos e interagem com o mundo de uma forma aberta.

Com base na Revista Corpoconsciência (2008), a dança constitui unidade do currículo de graduação do curso de Educação Física desde 1940, na Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil, por Helenita Sá Earp. Entretanto, todo o processo histórico-político-social que envolve a Educação Física, muitos dos conhecimentos, inclusive a dança, foram voltados para a biologização humana, que se refere à educação do físico, o desenvolver conforme sua aptidão física.

Considerando estes aspectos, a visão tradicional trata a dança de forma descontextualizada e longe da realidade, ou seja, a dança apenas é vista em festivais, ou quando o professor “passa” os movimentos aos alunos.

Dessa forma, de acordo com a Revista Corpoconsciência (2008) a dança na escola deve ser trabalhada com aquelas presentes na cultura popular, como as danças folclóricas e populares.

Para que faça sentido o emprego, seja das danças populares ou folclóricas, é preciso considerar o contexto em que cada dança está envolvida. Não ver a dança e sim entendê-la no seu momento histórico, as relações com o momento social das pessoas que a criaram e a adotaram, percebendo como esta cultura se relaciona com o desenvolvimento do capitalismo, da economia, e a sua relação com a indústria cultural.

Portanto, os conteúdos das aulas conversam com os aspectos históricos, políticos, culturais e sociais, mas também podem explorar temas que contribuam para a expansão do vocabulário do sujeito, e sua compreensão de estrutura do movimento.

Sendo assim, outra questão importante a ser ressaltada, é que conforme Carbonera e Carbonera (2008) a dança nas aulas de Educação Física pode contribuir para que acabemos com as concepções fechadas e restritas de masculinidade e feminilidade, quebrando os preconceitos ainda existentes em relação a esta prática, bem como para que possamos desenvolver o respeito às opções individuais. Desta forma, compreendemos que é fundamental o resgate desta atividade no contexto escolar. Para que isso aconteça, é necessário que a dança seja incorporada efetivamente na escola e nas aulas de Educação Física,

com reflexões aprofundadas acerca de seus conteúdos, para que assim os alunos possam ter acesso a ela e tenham conhecimento sobre a importância deste conteúdo na formação de cidadãos.

5.2 Danças Folclóricas na Educação Física Escolar

Atualmente, o que podemos observar no âmbito escolar, é que a dança não está presente na escola e não existe nenhum encaminhamento para abordagem deste tema nas aulas de Educação Física.

Sborquia (apud Sborquia e Neira, 2008) destaca que são os professores que devem realizar mudanças no contexto escolar, rompendo com o paradigma tecnicista, no qual o professor se limita a trabalhar com conteúdos preestabelecidos em âmbitos acadêmicos. Desta forma, deve buscar transformar sua prática pedagógica a fim de se abordar a dança partindo de uma leitura da realidade social, da qual os conteúdos sejam tratados de forma dialética, em que o sujeito da aprendizagem esteja em constante relação com a sociedade e o mundo.

Observamos em Carbonera e Carbonera (2008, p. 19) que “realizar a dança de um povo, é se abrir para ela e ser agente da união entre as regiões e as nações, ai se justifica a importância de realizar as danças folclóricas na escola”.

Portanto, observamos em Sborquia e Neira (2008) que apesar de alguns professores tentarem romper com as danças realizadas em dias comemorativos do calendário escolar, para trabalhar de forma contextualizada as danças folclóricas, estas se apresentam ainda precárias em relação a conhecimentos mais aprofundados, e logo o fazer pedagógico torna-se o mesmo, sem alterações no trato com o conhecimento.

Dessa forma, é necessário compreender que é possível tematizar no currículo da Educação Física escolar as danças folclóricas, entendendo que estas representam um artefato cultural, capaz de manifestar as crenças e valores constituídos por diferentes grupos sociais ao longo do tempo.

A partir disso, verificamos que é necessário que o professor de Educação Física, principal mediador entre o conhecimento e o sujeito, posicione-se teoricamente sobre a cultura existente na comunidade escolar, analisando e procurando construir saberes acerca da cultura constituída na vida social dos alunos.

Conforme Sborquia e Neira (2008) no caso das danças da mídia, estas são reproduzidas principalment

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