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INTRODUÇÃO AO PRAGMATISMO LINGÜÍSTICO

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Por:   •  12/9/2014  •  Projeto de pesquisa  •  4.912 Palavras (20 Páginas)  •  229 Visualizações

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INTRODUÇÃO AO PRAGMATISMO LINGÜÍSTICO

Jorge da Silva (UERJ/FFP)

Vera Lucia T. da Silva (UERJ/FFP)

INTRODUÇÃO

Da mesma maneira como ocorre em outras áreas da ciência, o estudo da linguagem tem sido afetado pelas inconsistências e hesitações originadas na pretensão filosófica de que o conhecimento científico deva ser justificado racionalmente. Assim é que, desde a antigüidade, teorias têm sido propostas a respeito da origem e da natureza da linguagem humana - elemento essencial à compreensão da própria existência do ser humano e do universo -, e bem assim sobre como o pensamento se articula com a linguagem (ou esta com aquele), e como a linguagem se estrutura e é apreendida pelos sujeitos falantes.

Além dessas preocupações de cunho filosófico, e levando-se em conta a multiplicidade de línguas existentes no mundo - e também a necessidade de os homens se comunicarem para compartilhar conhecimentos e experiências -, torna-se fundamental buscar conhecer, de um ponto de vista prático: a) que mecanismos estão presentes no processo de aquisição natural da linguagem em geral e de uma determinada língua materna em particular; b) como o indivíduo humano utiliza a linguagem no dia-a-dia, nas diversas situações; c) se, no aprendizado de uma língua estrangeira (LE) ou segunda língua (L2), os processos envolvidos diferem grandemente da aprendizagem da língua materna; d) como as diferentes habilidades lingüísticas (falar, ouvir, ler, escrever) em LE ou L2 podem ser transmitidas e adquiridas e, mais que tudo, aprimoradas; e) de que forma a língua materna, particularmente o fenômeno da fossilização linguística, interfere na aprendizagem da língua-alvo.

O presente texto tem por escopo assinalar a importância de se abordar estas questões de forma pragmática, vale dizer, com a atitude filosófico-metodológica do pragmatismo lingüístico, interessado no papel das línguas como instrumento cultural-social, de comunicação e interação entre indivíduos e povos. Embora o conhecimento produzido por filosóficos e lingüistas sobre a natureza da linguagem e sobre como esta é originariamente adquirida pelo ser humano (em contraste com a linguagem não-humana) seja de crucial importância para o ensino / aprendizagem de línguas, a atitude pragmática levará em conta os achados dos filósofos (e sobretudo as suas perplexidades) mas concentrar-se-á nos problemas encontrados concretamente no processo de aprender / ensinar uma língua estrangeira, ou segunda língua.

As afirmações do texto buscam sustentação, de um lado, nas idéias de filósofos como Wittgenstein (1953), Khun (1994), Rorty (1980) e Watkins (l984); e de outro lado, nas de linguistas teóricos e aplicados como Coulthard (1977), Leech & Thomas (1990), Ellis (1994), Lightbown & Spada (1993), Brown (1994) e Akmajian et al. (1995). Os primeiros, preocupados com a natureza do conhecimento em geral, e mantendo uma atitude mais ou menos comum de ceticismo em relação à possibilidade de justificação racional do conhecimento científico, centram tal possibilidade nos sujeitos cognoscentes (os indivíduos) - e não no objeto do conhecimento em si (a linguagem). Lançam, então, os fundamentos de abordagens que irão levar em conta os fatores da realidade: culturais, históricos, sociológicos, psicológicos e antropológicos envolvidos. (Thomas Khun chega mesmo a afirmar que a ciência não tem nada a ver com a racionalidade e que os seus mecanismos se explicam de modo empírico-descritivo, e não apriorístico-normativo). Os segundos, preocupados especificamente com o fenômeno da linguagem, vão tentar livrar-se dos confinamentos de teorias como o estruturalismo linguístico inaugurado por Ferdinand de Saussure e desenvolvido sobretudo pelo lingüista norte-americano Leonard Bloomfield; e igualmente não insistirão nas complexidades do gerativismo transformacional de Noam Chomsky e sua “Gramática Universal”, a qual explicaria pretensos universais lingüísticos inerentes a qualquer ser humano, independentemente desta ou daquela língua materna (Lightbown & Spada, 1993; e Brown, 1994). Estes irão, sim, aprofundar os estudos que acabarão por reforçar a importância da pragmática linguística (“pragmatics”), ramo da lingüística que nos dias de hoje disputa com outras disciplinas a primazia do estudo dos fatores contextuais retro-referidos. Assim, ao lado da pragmática, vão concorrer a filosofia da linguagem, a sociolingüística, a psicolingüística, a antropologia lingüística, a etnolingüística, a neurolingüística.

Embora se deva reconhecer a dificuldade de abordar o tema de um ponto de vista estritamente lingüístico, quer dizer, deixando de lado as preocupações das disciplinas supra-referidas, conforme afirmam Brown & Yule (1983: ix), é com essa pretensão - lingüística - que se visualiza o pragmatismo neste texto. Tal pretensão se justifica pelo fato de o nosso interesse ser o ensino / aprendizagem do inglês como língua estrangeira para falantes do português do Brasil. As considerações que se seguem, sobre a ‘linguagem humana’ e o ‘pragmatismo lingüístico’, não tratam de problemas concretos. São uma tentativa de encurtar o caminho do leitor, que poderá, lido o presente texto, ir direto ao ponto, ou seja, o ‘ensino / aprendizagem do inglês como língua estrangeira’, sem perder-se em especulações. Tais considerações constituem-se, portanto, em informação propedêutica, essencial a professores e aprendizes.

A LINGUAGEM HUMANA

Desde tempos imemoriais o ser humano vem se afligindo com questões cruciais a respeito de sua própria existência. Num círculo vicioso, passará da incerteza à perplexidade; da perplexidade às concepções mitológicas; da mitologia às teorias pretensamente racionais; das teorias à certeza; e da certeza novamente à incerteza e à perplexidade. Ele se deu conta de que a contrapartida do poder da mente humana era, paradoxalmente, a sua (da mente humana) limitação para explicar as questões relativas a si mesmo e ao mundo em que vivia. O fascínio diante do universo fê-lo imaginar-se como um ser único em toda a natureza, no mundo animal, vegetal ou químico, crença nutrida em bases míticas e teológicas; a ponto de levá-lo a retratar-se como sendo a imagem e semelhança de Deus. Daí, maravilhado com essa

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