TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Manganismo

Monografias: Manganismo. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  13/8/2013  •  8.572 Palavras (35 Páginas)  •  437 Visualizações

Página 1 de 35

1 - SITUANDO O PROBLEMA

A primeira pergunta que se impõe ao abordar um assunto referente aos danos à saúde ocasionados por condições de trabalho de um segmento social é: " por quê o trabalhador se ocupa com uma tarefa cujas consequências poderão ser muito sérias para a sua saúde? "

A resposta não é fácil. A abordagem apenas técnica, considerando os princípios tradicionais da exposição de uma doença relacionada com condições de trabalho, transmite apenas um conhecimento mas não motivará o leitor para interpretar importantes aspectos do processo saúde-trabalho.

O desgaste produzido nos trabalhadores que, por determinação social, necessitam se expor aos efeitos do manganês, é um exemplo muito expressivo do caráter multidisciplinar, multinstitucional, multicausal e, especialmente, do significado social que perpassa toda a atividade ligada à saúde dos trabalhadores.

Levando em consideração estes princípios genéricos das relações entre a saúde e o processo produtivo, os autores procurarão, sempre que oportuno, acentuar o significado destes princípios, especialmente no item relativo à prevenção.

2 - RECUPERANDO UM POUCO A HISTÓRIA

Hunter 14 lembra os principais fatos relacionados com o manganismo, desde 1817, quando Parkinson publicou suas pesquisas sobre uma enfermidade que veio a ser conhecida pelo seu nome com as características clínicas de distúrbios extrapiramidais.

Quatro anos mais tarde, Couper observou, na França, um caso de paciente com paraplegia que não melhorava com as medidas terapêuticas da época. Afastado do trabalho, obteve uma ligeira melhora depois de um ano. Pouco depois, um outro trabalhador desta mesma empresa ( que usava dióxido de manganês como insumo de produção de um pó branqueador ) começou a apresentar os mesmos sintomas. Como não estava estabelecido o nexo com a exposição, o paciente só permanecia afastado do trabalho nos curtos períodos de tratamento. O agravamento progressivo levou a suspeitar da exposição ao manganês como causa da enfermidade. Com o afastamento, o paciente deixou de piorar e até recuperou-se após seis anos.

O autor descreve os sintomas do manganismo com muita propriedade e, de certa maneira, coincide com os conhecimentos atuais da intoxicação. Já o mesmo não acontece com o tratamento, que naquele tempo, consistia em administração de mercuriais e vesicação na cabeça e na medula espinal. Couper completa seu relato com mais três casos publicados em 1837. Esta informação permaneceu esquecida e somente em 1901 voltou-se ao assunto quando Von Jaksch descreve os sintomas de três trabalhadores austríacos expostos ao manganês que lembravam a esclerose em placas. Posteriormente, outros autores preocuparam-se com esta intoxicação na Inglaterra e em outros países, relacionados com as mais variadas exposições.

Na América Latina, desde 1912 alguns autores, especialmente chilenos e cubanos, como, Cotzias 8 e Peñalver 19, descrevem casos de intoxicação por manganês. Rafael Peñalver esteve por algumas vezes no Brasil, ministrando cursos, e vários brasileiros visitaram-no em Miami, onde viveu até sua morte, ocorrida recentemente. Até 1945, já se computavam 353 casos de manganismo relatados, segundo refere Hunter 14.

Julgou-se oportuno abordar um pouco do desenvolvimento histórico baseado, principalmente em Hunter, um minucioso narrador, porque o conhecimento desta intoxicação é relativamente recente e, também, para conhecer melhor a evolução das dificuldades para estabelecer o nexo causal enfermidade/condições de trabalho.

3 - A ORIGEM DAS INTOXICAÇÕES

O nome manganês vem do latim "magnes" porque supunha-se que o minério de manganês pela sua semelhança com o minério do ferro também teria propriedades magnéticas. Este minério, a pirolusita, é o mais comumente utilizado como fonte de manganês. Sua aparência é a de um material terroso de coloração escura, quase preta, Embora seja bastante endurecido, desprende poeira com muita facilidade.

Há outros minérios como a braunita, a manganita e a hausmanita que também são usados, porém em menor escala. A diferença entre estes minérios está no tipo de composto de manganês envolvido. O principal é o dióxido de manganês mas também pode existir sob a forma de outros óxidos, havendo também formas alotrópicas do metal.

O manganês é um dos elementos químicos mais comuns na natureza, estando largamente distribuído na crosta terrestre seja no solo, como na água e em materiais biológicos. Está presente também nos alimentos, sendo esta a maior fonte de manganês para o homem do ponto de vista do ambiente geral. Em termos de exposição ocupacional, as principais fontes são a mineração e a indústria siderúrgica.

MINERAÇÃO - é feita, principalmente, a céu aberto, e envolve vários tipos e graus de exposições. Uma das operações de maior potencial de poeiras é a perfuração, em geral feita por instrumentos pneumáticos. A quebra e trituração do minério também implica considerável desprendimento de poeira. Já a lavagem, separação, calcinação, sinterização e peletização, embora potencialmente possam envolver risco de exposição, esta não é tão intensa. Uma atividade de risco que não deve ser esquecida é o transporte do minério.

Para o Brasil, a mineração do manganês reveste-se de um significado especial pela importância de suas jazidas. Toríbio 24 assinala que a jazida da Serra do Navio, no Amapá, foi descoberta em 1934, pelo engenheiro de minas, Josalfredo Barbosa. Foi explorada pela Indústria e Comércio de Minérios S. A. - ICOMI, do grupo empresarial Antunes, com a participação de 49 % da Bethlehem Steel, dos Estados Unidos. A sua forma de exploração ainda hoje é discutida uma vez que está terminando o prazo do arrendamento de cinquenta anos e a mina já se exauriu quase completamente. Há estudos para que todo o complexo da mineração passe a constituir um campus universitário sob a responsabilidade da Universidade de São Paulo.

Como o transporte do minério é muito oneroso para ser usado nos centros consumidores brasileiros, praticamente toda a sua produção foi exportada. Dados de meados da década de setenta indicam que se exportou para a América do Norte ( 42,35% ); Europa ( 50.69 % ) e Japão ( 3.36 % ). Os restantes 3,36 % destinaram-se à Argentina.

Por outro lado, o Brasil importou grande quantidade de manganês da África. Uma outra empresa de mineração que teve sua importância, foi a de Conselheiro Lafaiete, cuja produção também foi quase toda para o exterior.

Cumpre lembrar

...

Baixar como (para membros premium)  txt (57.6 Kb)  
Continuar por mais 34 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com