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Por:   •  28/8/2014  •  3.408 Palavras (14 Páginas)  •  875 Visualizações

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Não é novidade ou excentricidade alguma a ideia de que a instauração da Educação Física como prática pedagógica escolar esteve fortemente ligada à instituição militar e ao saber médico. Como pontua Foucault (1995), em sua protoforma de desenvolvimento, a Educação Física objetivava uma função eminentemente terapêutica e conformadora ao poder político hegemônico, tendência essa que se cristaliza no período ditatorial brasileiro, mas que se mostrava presente desde o início da Idade Moderna, cuja industrialização insurgente tinha como um de seus motes a correlata educação para a produção, elemento do qual a boa saúde e os hábitos saudáveis são fundamentais. Tal perspectiva é ressignificada durante os movimentos das duas grandes guerras, na medida em que o patriotismo passa a ser um esteio projetado, teleologicamente, pela prática da Educação Física, sendo que os maiores exemplos, de acordo com Bracht (1992), podem ser encontrados na ginástica de Jahn e Hitler na Alemanha, e nos padrões corporais empregues na saudação a Mussolini e Vargas.

Vale lembrar que até então a concepção que grassava sobre o corpo se arquitetava em saberes coordenados puramente pelas ciências biológicas. O corpo era visto como reservatório de boas ações, não pensava, mas era pensado, configurando um raciocínio fragmentar de que ao corpo cabia apenas a virilidade e a disciplina para o alcance de certos fins, materializando a primeira ideia de corpo-máquina, tão característica do esporte-espetáculo hodierno.

Sendo assim, a Educação Física tem basicamente dois sentidos de ser em sua existência inicial, que são: a colaboração para a construção de corpos saudáveis (leia-se produtivos) e dóceis, conformados à ordem e a todo tipo de disposição nacionalista e hegemônica. Foi sobre este verniz teórico que o esporte, fenômeno cultural conhecido de época, se torna conteúdo posteriormente hegemônico na Educação Física desde meados do século 20, sendo alavancado, sobremaneira, pela Guerra Fria e pela valorização adquirida pelos Jogos Olímpicos como espelho do poderio de uma nação.

Inegavelmente, o esporte propaga-se mediante a materialidade da ideologia do individualismo disciplinado e do autossacrifício para a consecução de determinado objetivo, elementos historicamente presentes na Educação Física desde a época militar. Grosso modo, o esporte, ainda que possua uma multiplicidade de significados, substitui a ginástica como técnica corporal e conteúdo cardeal da Educação Física que precisa ser apropriado pelos indivíduos desde a década de 60 do século 20.

Sua intensificação crescente como conteúdo principal e, às vezes, como único conteúdo nas aulas de Educação Física não passou despercebido aos olhos de diversos professores que trabalhavam com a temática. Nesse sentido, toda a ideologia do esporte como mecanismo de ascensão social e nacional começa a ser duramente criticada na década de 80. Cabe ressaltar aqui que a crítica se dirigia não à presença do esporte em si nas aulas de Educação Física, mas, sim, à voz uníssona do esporte de rendimento como única ferramenta utilizada pelos professores no trato com seu saber pedagógico.

Claro está que tal torção analítica em relação à ginástica não se deu a esmo ou por vontade própria dos professores de Educação Física, e, sim, por uma pressão das principais agências que gerenciavam a cultura do esporte em nosso país. Posto isto, não se pode esquecer de que o esporte de rendimento, conforme aponta Bracht (1992), tornou-se a expressão hegemônica da cultura de movimento no mundo moderno e que sobre ele se debruçam cifras econômicas que se propagam tal como a produção de ídolos. Enfim, o esporte de rendimento, principalmente tencionado pela mídia televisiva, passou de fato a fazer parte de nossa vida cotidiana, não havendo um jornal que esqueça de lhe dedicar alguma forma de atenção.

Analiticamente, tal perspectiva, como dito anteriormente, passa a ser criticada em terras brasileiras, fundamentalmente nos anos 80 motivadas pela entrada das produções sociológicas no campo da Educação Física, as quais destacavam o papel reprodutor e conservador assumido pelas escolas no processo de arquitetura da sociedade. Coerentemente, a escola, assim como suas disciplinas, passa a ser encarada de um mecanismo supostamente transformador a elemento reacionário e conservador, de cuja leitura símbolo é encontrada em Althusser (1992).

Aqui, a Educação Física, e seu principal conteúdo, os esportes, também foram vistos no sentido da conformação social, uma vez que sua prática era encarada como um tipo de fomento à interiorização dos valores, normas e comportamentos dominantes, cujo epíteto se encontra em um conhecido aforismo de Bracht (1986), ao destacar que "a criança que pratica esporte respeita as regras do jogo...capitalista", uma vez que o esporte de rendimento traga em sua estrutura interna elementos similares aos que sustentam nossas relações em sociedade, quais sejam: uma forte orientação para o rendimento e para a competição, a seletividade por via da concorrência e uma suposta igualdade formal perante as leis e regras preestabelecidas.

Curiosamente, de início, a valorização do esporte acabou por ser também a valorização da própria Educação Física, área historicamente discriminada no trato com as outras disciplinas. Contudo, como consequência dialética não planejada, o esporte acaba por se impor à própria Educação Física, instrumentalizando-a para o alcance de seus próprios objetivos; como consequência, a Educação Física perdeu o pouco espaço que tinha conquistado dentro da esfera escolar, aliás, sua prática aqui pode ser vista como sinônimo do esporte na escola, mais do que isso, sua prática pode ser encarada como correlata da prática descompromissada teoricamente, uma vez que o fenômeno esporte não era trabalhado em sua historicidade constituinte e suas múltiplas determinações.

Como quando um fenômeno é extremamente valorizado socialmente busca-se aperfeiçoar os procedimentos de sua efetivação, na escola, o esporte passou a ser trabalhado no sentido único e exclusivo do melhoramento da técnica, a qual objetiva a consecução de fins explícitos, a citar, a produção de atletas de alto nível. Coerentemente, a Educação Física foi vista a cada dia com maior intensidade como uma forma de Iniciação Esportiva, de cujo currículo cabia a produção de atletas. É esta visão que começou a ser desmontada no final do século 20, não para negar o esporte, mas, sim, para ampliar o escopo analítico e atitudinal da Educação Física, que é o que pretendemos neste trabalho sobre a temática da Iniciação Esportiva.

Cabe abrir aqui um parêntese para falar especificamente

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