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PSICOGÊNESE

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Por:   •  15/2/2015  •  Seminário  •  1.196 Palavras (5 Páginas)  •  152 Visualizações

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PSICOGÊNESE

Desde a perspectiva psicolingüística, Kato (1986) nos alerta que embora a escrita alfabética (representação de segunda ordem) tenha sido concebida para representar a fala (representação de primeira ordem), ela não chega a ser uma escrita fonética. As modalidades oral e escrita da linguagem apresentam uma isomorfia apenas parcial, porque fazem a seleção a partir do mesmo sistema gramatical e podem expressar as mesmas intenções. O que determina as diferenças entre elas são as diferentes condições de produção, tais como: a dependência contextual, o grau de planejamento, a submissão consciente às regras prescritivas convencionalizadas para a escrita.

Por sua vez, dirigindo-se aos professores alfabetizadores, Lemle (1987) trata de deixar claro que, ao contrário do que supõe o alfabetizando, é bastante complicada a relação dos sons da fala com as letras. Do ponto de vista do aluno que está aprendendo a ler e a escrever, se apropriar da idéia de que existe uma correspondência biunívoca entre sons e letras é fundamental, mas ele logo terá que relativizar a concepção de que para cada letra existe apenas um som e de que para cada som existe apenas uma letra. Lemle também ataca uma explicação bastante difundida para os erros ortográficos que as crianças, principalmente as de classes populares, cometem. Seria a idéia de que as crianças que não escrevem ortograficamente assim o fazem porque falam errado. Para escrever corretamente seria necessário primeiro ensiná-las a pronunciar; a falar corretamente. Para Lemle, dizer que alguém fala errado corresponde a um equívoco lingüístico, um desrespeito humano e um erro político. Um equívoco lingüístico, pois ignora o fato de que as diferentes comunidades lingüísticas possuem os seus próprios dialetos. Um desrespeito humano, pois humilha e desvaloriza a pessoa que recebe a qualificação de que fala errado. Um erro político, pois ao se rebaixar a auto-estima lingüística de uma pessoa ou de uma comunidade, contribui-se para achatá-la, amedrontá-la e torná-la passiva, inerte e incapaz de manifestar seu anseios (pág. 20).

Cagliari (1989) é outro lingüista que insiste bastante em dizer aos professores alfabetizadores que a linguagem é dinâmica, se modificando em função do tempo e do espaço, não podendo ser consideradas como erradas as falas características de uma dada comunidade. Salienta também as diferenças entre língua escrita e falada: “A fala tem aspectos (contextuais e pragmáticos) que a escrita não revela, e a escrita tem aspectos que a linguagem oral não usa. São dois usos diferentes, cada qual com suas características próprias, sua vida própria, almejando finalidades específicas” (pág. 37).

Assim, através do pequeno levantamento bibliográfico realizado nos parágrafos precedentes, podemos perceber que a questão da ortografia é bastante complexa e não devemos abordá-la de forma simplista.

Objeto e Metodologia da Pesquisa

O autor do presente projeto de pesquisa realizou sua dissertação de mestrado (Slomp, 1991) a partir das descobertas de Ferreiro e Teberosky (1986) sobre a psicogênese da língua escrita. Essas autoras, seguindo rigorosamente a perspectiva da teoria piagetiana, revolucionaram o modo de conceber a aprendizagem da leitura e da escrita. Em contraposição às teorias que entendem a aprendizagem como 1) algo que é primordialmente fruto das transmissões sociais e adquirido pelo sujeito através de associações entre imagens mentais, ou como 2) algo que é primordialmente fruto das capacidades de discriminação perceptiva (visuais, auditivas) do sujeito, a teoria de Piaget postula que o desenvolvimento da inteligência se dá primordialmente através de um processo de equilibração das estruturas cognitivas, onde o sujeito, em sua ação e reflexão, ocupa um lugar central. Isto significa “um processo que conduz de certos estados de equilíbrio a outros, qualitativamente diferentes, passando por múltiplos desequilíbrios e reequilibrações”(Piaget,1976).

No campo específico da alfabetização, Ferreiro e Teberosky utilizaram os seguintes princípios básicos para conduzir o trabalho: não identificar progressos na leitura com avanços no decifrado e não identificar progressos na escrita com avanços na exatidão da cópia. Através de uma criativa produção de materiais para serem utilizados nas entrevistas com as crianças e do emprego escrupuloso do método de interrogatório clínico piagetiano, as autoras detectaram progressivos níveis de desenvolvimento que o sujeito percorre antes de finalmente se apropriar da lógica que rege o sistema alfabético de escrita. O coroamento do processo se caracteriza pela concepção de que para cada fonema da emissão verbal deve corresponder uma letra na escrita.

Nesse ponto o aprendiz inicia um novo e importantíssimo trabalho intelectual: a preocupação com as questões de ortografia. As convenções ortográficas são responsáveis por um desequilíbrio cognitivo que leva à relativização da suposição inicial de correspondência biunívoca entre os sons da fala e as letras. O sujeito se defronta com escritas que atribuem duas letras

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