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Toquetoq

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Por:   •  15/2/2014  •  Seminário  •  518 Palavras (3 Páginas)  •  196 Visualizações

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MARIA – (saindo pela porta da esquerda e trazendo pela mão a Telmo que parece vir de pouca vontade) – Vinde, não façais bulha, que minha mãe, ainda dorme. Aqui, nesta casa é que quero conversar. E não teimes, Telmo, que fiz tenção, e acabou-se!

TELMO – Menina!...

MARIA – “Menina e moça me levaram de casa de meu pai” – é o princípio daquele livro tão bonito que minha mãe não entende; entendo-o eu. Mas aqui não há menina nem moça; e vós, senhor Telmo Pais, meu fiel escudeiro, “faredes o que mandado vos é”. E não me repliques, que então altercamos, faz-se bulha, e acorda minha mãe, que é o que eu não quero. Coitada! Há oito dias que aqui estamos nesta casa, e é a primeira noite que dorme com sossego. Aquele palácio a arder, aquele povo a gritar, o rebate dos sinos, aquela cena toda... Oh! tão grandiosa e sublime, que a mim me encheu de maravilha, que foi um espectáculo como nunca vi outro de igual majestade!... À minha pobre mãe aterrou-a, não se lhe tira dos olhos; vai a fechá-los para dormir e diz que vê aquelas chamas enoveladas em fumo a rodear-lhe a casa, a crescer para o ar e a devorar tudo com fúria infernal... o retrato de meu pai, aquele do quarto de lavor, tão seu favorito, em que ele estava tão gentil homem, vestido de cavaleiro de Malta com a sua cruz branca no peito, aquele retrato não se pode consolar de que lho não salvassem, que se queimasse ali. Vês tu? Ela, que não cria em agoiros, que sempre me estava a repreender pelas minhas cismas, agora não lhe sai da cabeça que a perda de retrato é prognóstico fatal de outra perda maior, que está perto, de alguma desgraça inesperada, mas certa, que a tem de separar de meu pai. E eu agora é que faço de forte e assisada, que zombo de agouros e de sinas... para a animar, coitada!... que aqui entre nós, Telmo, nunca tive tanta fé neles. Creio, oh! se creio! Que são avisos que Deus nos manda para nos preparar. E há... oh! há grande desgraça a cair sobre meu pai... decerto! e sobre minha mãe também , que é o mesmo.

TELMO (disfarçando o terror de que está tomado) – Não digais isso... Deus há-de fazê-lo por melhor, que lho merecem ambos (cobrando ânimo e exaltando-se). Vosso pai, D. Maria, é um português às direitas. Eu sempre o tive em boa conta; mas agora, depois que lhe vi fazer aquela acção, que o vi, com aquela alma de português velho, deitar as mãos às tochas e lançar ele mesmo o fogo à sua própria casa; queimar e destruir numa hora tanto de seu haver, tanta coisa de seu gosto, para dar um exemplo de liberdade, uma lição tremenda a estes nossos tiranos... Oh, minha querida filha, aquilo é um homem! A minha vida, que ele queira, é sua. E a minha pena, toda a minha pena é que não o conheci, que não o estimei sempre no que ele valia.

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