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Zenilda

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Por:   •  19/3/2015  •  1.810 Palavras (8 Páginas)  •  314 Visualizações

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Resenha Crítica do documentário:“Quanto vale ou é por quilo?

1.0 - Apresentação da obra

Ao assistir a obra de Sergio Bianchi e autores, é interessante perceber que ao contar ashistórias pessoais de cada personagem, entrelaçando-as com as histórias da escravidão, parece-me que os autores, querem representartodauma classe social crítica. Suas histórias tratam do contextosocial no qual estamos inseridos e seu inevitávelreflexo na sociedade.

Falam do seu engajamentopolítico e da busca desenfreada pelo lucro fácil, sem levar em conta as consequências dos atos em suas próprias vidas eno destino de todos.

Relatam histórias que fazem parte da historia da grande maioria da população brasileira, pela saga dos milhares de imigrantes do começo doséculo passado no Brasil, vindos das mais variadasorigens. Os depoimentos compõe um quadro que reflete aidentidade e a imagem nacional, o processo político e cultural pelo qual passou opaís nas últimas décadas.

O documentário quer perpetuar a voz daqueles que já foram protagonistas da história, mas que muitas vezes não tinha voz e nem vez, sendo tratados de forma mercantil sem levar em conta a dignidade da pessoa humana. O filme cumpre uma função social, trazendo de forma crítica, um olhar sobrea realidade daqueles que fizeram e fazem a nossa história.

Ao longo do documentário, é possível observar algumas referências claras sobre o material que Bianchi e sua dupla de roteiristas, utilizaram para compor o filme. Entre as fontes consultadas pela equipe encontram-se processos penais do século XVIII e XIX envolvendo questões sobre a escravidão no Brasil e o conto de Machado de Assis “Pai contra mãe”, publicado originalmente em 1906. Este filme, por sua vez apresenta uma alta crítica social e o questionamento do papel e atuação de Organizações Não Governamentais no Brasil. Quanto vale ou é por quilo? É um longa-metragem lançado em 2005, pelo diretor paranaense Sérgio Bianchi e Roteiro: Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi. Rio de Janeiro: Agravo Produções Cinematográficas, Riofilme, 2005. 1 DVD (104 minutos). O Olho da História, n. 19, Salvador (BA), dezembro de 2012.

2.0 – Síntese da obra

O roteiro do filme baseia-se no conto “Pai contra mãe”, do escritor Machado de Assis, que retrata Cândido Neves, um capitão-do-mato, que vê a decadência de sua atividade cada vez mais iminente, com pedidos de captura de escravos cada vez mais escassos e as recompensas mais modestas. Vivendo de favores em uma habitação com sua mulher, Clara, com quem há pouco tivera um filho, e com a tia desta, Mônica, a pobreza cada vez mais aguda desta família obriga Candinho a um ato extremo: o de deixar seu filho na Roda dos Enjeitados da cidade a mando dos pedidos da insistente tia. A salvação deste pai vem por intermédio da escrava fugida e grávida Arminda, que, ao ser recuperada para seu senhor por Candido, garante a este pai a permanência de seu filho junto ao seio da família, já que os ingressos provenientes do trabalho afastariam, mesmo que provisoriamente, a ideia da adoção. Assim, na luta que dá nome ao título do conto, a derrota da mãe escrava restaura ao pai capitão-do-mato a paz e manutenção de sua família. Dessa forma, perversamente, o sistema escravista de coerção de liberdade para alguns, permite a felicidade de outros, que se beneficiam e dele tiram seu sustento.

No filme de Bianchi, as contradições existentes em uma sociedade datada de há quase dois séculos são reencenadas no Brasil do século XXI, numa tentativa de mostrar a continuidade da submissão através da permanência de outras escravidões no cenário nacional. A primeira ação dos realizadores para conseguir tal paralelo foi transpor as personagens do conto de Machado para exemplos atuais de uma metrópole como São Paulo, com a conservação das características dos personagens do conto: a Arminda, outrora escrava em fuga, agora é uma líder comunitária negra; Clarinha, a mulher do capitão-do-mato, é revivida na figura de uma ingênua moça da periferia com aspirações ao sucesso midiático; a “tia Mônica” é uma empregada doméstica que sonha em ocupar o cargo da patroa e o herói do conto, Candinho, agora trabalha como lixeiro que, por imposições do meio e da tia autoritária, acaba recorrendo à prática ilegal de matador de aluguel para sustentar a família.

Além destes personagens inspiradas no conto de Machado de Assis, há ainda na trama, as personagens envoltas nas ações da Stinerempreendimentos, uma empresa especializada na captação de recursos e o seu repasse para projetos de natureza assistencial. Ao longo da história, seus dois sócios-diretores, interpretados pelos atores Herson Capri e Caco Ciocler, irão prosperar economicamente, o que serve de maneira irônica o lucro que a filantropia pode gerar.

Ao redor da Stiner Empreendimentos, ainda se relacionam vários outros personagens da trama. A empresa é a responsável por manter a ONG da patroa de Mônica, “dona” Noemia, senhora membro da classe média que faz questão de sempre se mostrar, pelos atos benéficos que faz e pelos “desamparados” que ajuda. A sede da empresa é o local de trabalho da tia de Arminda, analfabeta e a laranja da empresa em seu processo de enriquecimento ilícito. E será a fonte indireta de dinheiro do sequestrador interpretado por Lázaro Ramos, um parente de Arminda que está preso..

A contradição, faz-se presente no filme a partir do fato de que pode haver lucro em cima da miséria e dos marginalizados. Assim, o ápice do filme, reside na possibilidade de lucro e sobrevivência de diversas ONGs em cima do “mal” que deveriam combater, a pobreza.

Embora a atuação corrupta dos beneméritos no filme tenha impressionado grande parte do público,para os roteiristas, o foco da história estava em mostrar quais eram as formas de “escravidão” que ainda persistiam em nossa sociedade. E que,sua reprodução perpassa por décadas e décadas, bem como a sua atualização através de novas formas de dominação, sempre figurou como o argumento principal da história”.

A presença de algumas cenas de caráter histórico, do cotidiano da escravidão ambientadas nos séculos XVIII e XIX (quebrando, por instantes, com a continuidade narrativa) serve para lembrar ao espectador como aquela escravidão inseria-se na sociedade capitalista de então como um comércio e uma fonte de renda, ganhando por isso uma “justificação de existência”.

Na comparação com os dias atuais, esta exploração “justificada” passou do escravo ao miserável, sendo a mercantilização em cima de sua dor também moralmente aceitável por todos

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