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Marilyn Monroe

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Por:   •  16/11/2014  •  Resenha  •  2.371 Palavras (10 Páginas)  •  189 Visualizações

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A trama do filme é a história de uma senhora que não consegue desapegar-se do passado, o seu passado pessoal e seu papel histórico. Mas o passado pessoal será facilmente descartado, doado para a Oxfan, através das roupas do marido morto que farão com que ela complete seu luto. No final do filme ela consegue se desfazer das roupas e do fantasma, quando finalmente vemos uma emoção, uma lágrima lhe escapa do olho. Ela perdeu seu apego pessoal. Mas, e o legado histórico? Bem, a reconstrução de uma memória absolutamente conservadora é o que filme propõe sucessivamente. Um passado reificado, um “objeto de consumo, estetizado, naturalizado e rentabilizado, pronto para ser utilizado”.[1] Não existe memória sem consequências, sem implicações, e é esse embate que queremos perceber no filme.

As remissões à Margareth jovem são bizarras. Primeiro, mostrando um ideal presente nas falas de seu pai, de um conservadorismo a toda prova, de um individualismo segundo o qual pode o personagem se colocar como portador da verdade, ela possui a verdade e não importa o que aconteça, fará com que ela impere, à luz da construção do seu poder. O personagem Thatcher surgirá como guia, alguém que deverá levar o partido a um caminho. Interessante que esse caminho aparece apenas como idealizado por essa mulher jovem, idealista.

Em nenhum momento se refere ao seu embasamento teórico neoliberal, que fundamenta com precisão as políticas que colocaria em prática, suas relações com Hayek, nada disso aparece no filme; afinal, é uma “memória pessoal”.

A figura da “mulher” também passa por contradições. A mulher velha sofre na memória suas escolhas históricas com relação aos filhos. Busca se reconciliar com o filho, a quem ela chama em vários momentos de senilidade, por quem clama e que sarcasticamente no final se nega a aparecer, “foge” para a África do Sul, não tem tempo para a mãe. A culpa da mãe que trabalha e que “abandonou” o filho, ao dedicar-se a qualquer coisa na vida, no caso, a política, fica mais uma vez interiorizada.

Já li em vários lugares comentários alegando um certo “feminismo” no filme. Ideia mais absurda! O tempo todo o personagem deixa claro que “prefere a companhia dos homens”, porque eles teriam obviamente uma lógica própria, um modus de ser distinto, que não seria fútil como o das mulheres. Com eles estava o poder. Interessante que o filme mostra justamente uma mulher não apenas bonita, como atraente, focando em várias cenas seu corpo acinturado, focando seu traseiro marcado pelas saias de um azul claro celestial. A cena que precede sua entrada no Parlamento como primeira-ministra tem uma virada de corpo que

faz dela uma Marilyn Monroe da política, mas aos avessos, porque quando ela dá a virada com a saia os homens como que desaparecem, abrindo caminho para sua entrada triunfal.

Assim, de feminismo o filme não tem nada. Tanto é que em uma das últimas cenas Margareth aparece lavando a xícara do próprio chá que acabara de beber. Ou seja, encerrada na cozinha. Aliás, é na cozinha que se passam várias de suas alucinações, como se aquele espaço representasse a prisão da qual fugiu mas que agora a prendia, e o marido (ghost) retornava para torturá-la psicologicamente. Aliás, a única cena em que sua mãe aparece no filme ocorre quando ela foi chamada para a Universidade, comemorou com seu pai e, quando foi ao encontro da mãe, essa se “esconde” lavando louças na cozinha. No âmbito da “prisão” de sua cozinha, numa cena mostra sua vingança, acendendo todos os eletrodomésticos para fazer barulho e impedir de ouvir as críticas do fantasma do seu marido sobre seu papel histórico.

Há ainda outra cena de uma sensualidade descabida. Diante de um debate forte sobre a resistência do aprofundamento das políticas neoliberais, ela, impassível, tem seu vestido ajustado por uma serviçal, que aparece apenas de costas e que foca todo seu trabalho em ajustar os peitos da dama de ferro. Numa cena em que os homens do partido falam

que não poderão mais aguentar o arroxo [cortes de salários], a câmera foca nos peitos pendularmente. No final, ela aparece triunfal, dizendo que esse remédio amargo iria aplicar no seu povo/doente que precisava de remédio, segundo ela própria.

A figura autoritária é tão forte que mais tarde, quando consulta o médico, ela dá uma lição de moral dizendo-lhe que ele deveria perguntar o que ela pensa, não o que ela sente. Ou seja, quando está de um lado, aplica o remédio e pronto; quando está do outro, ensina ao médico a não aplicar o remédio. O filme com isso naturaliza o remédio, como se Thatcher não tivesse historicamente sido a responsável pelo desemprego massivo que criou com suas medidas.

Quando foi primeiro Ministra da Educação, além de ter fechado várias escolas, uma de suas medidas mais controversas foi acabar com o leite da merenda escolar. O filme, que em nenhum momento fala disso, começa com Thatcher fugindo do controle de seus empregados e indo ao mercadinho comprar leite, e reclamando do preço do leite, que havia subido de novo. Ela compra o leite em meio a desconhecidos, como se tivesse finalmente se misturado, passando, ironia da história, a ser uma igual.

Também o discurso antiterrorista acompanha todo o filme, assim como atentados do IRA, que vão seguindo ao longo da trama. Não

aparece, no entanto, a intransigência da personagem, essa memória que se constrói possui apenas um lado. Interessante observar como o discurso de realocação do papel histórico de figuras deploráveis para a classe trabalhadora, como Thatcher, segue uma linha parecida com aquela usada nas biografias de grandes fascistas, como no caso do ditador português Salazar, que é mostrado como um homem solitário, e que seria o preço a pagar pela dedicação de uma vida inteira à “causa pública”. Nessas biografias desaparecem seus apoiadores e todos aqueles que lucravam com suas decisões. No caso de Thatcher, vemos raramente relações pessoais além da família. Uma cena de seu triunfo pós-guerra das Malvinas a mostra bailando com ninguém menos que Ronald Reagan, como se fosse um conto de fadas.

Desde o início do filme suas lembranças vêm acompanhadas da moral de que o Estado não deve intervir, não “sabe” o que fazer, e que cabe às pessoas cuidarem de si. Isso remete ao mercadinho no qual trabalhava para ajudar seu pai, denotando um estigma contra o trabalho que segue demarcando todo o filme: “a filha do merceeiro”. Uma menina ousada, auto-suficiente, cheia de iniciativas. O ideal neoliberal vai aparecendo nas suas falas, embora não tenha identidade, não apareça como um projeto de hegemonia. Aparece com ela dizendo que as

pessoas têm que aprender a “controlar-se”, a

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