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Por:   •  19/2/2013  •  1.768 Palavras (8 Páginas)  •  465 Visualizações

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A questão da instrumentalidade do Serviço Social

Professora Dra. Odária Battini

Texto de apoio para discussões na disciplina de Metodologia de Serviço Social-2001

Na história do serviço social no Brasil, especialmente no pós reconceituação, os assistentes sociais negaram o instrumental na profissão porque, equivocadamente, entendiam que representava o pragmatismo herdado pela influência norte americana.

O que interessava era interpretar o mundo o que era possível pela referência teórica de leitura da realidade. Portanto a necessária unidade teoria/prática, que dá sustentação à transformação, fora desconsiderada em suas dimensões teórico-metodológica, ídeo-política e técnico-operativo. Resultando assim, na ênfase da teoria, no método e na história distanciados da prática (que implica mais diretamente o instrumental) e, portanto, daquilo que se coloca como a excelência do serviço social: o saber/fazer.

Na atualidade, os assistentes sociais retomam a questão da instrumentalidade já avançando na análise e apreendendo a noção de que a teoria não muda o mundo e que o instrumental é a ferramenta que a práxis contempla implicando, na consolidação do tripé da dimensão profissional: teoria-metodologia, ética-política e técnico-operativo.

O instrumental utilizado pelo assistente social em seu trabalho, não pode ser visto, analisado e aplicado isoladamente, mas, organicamente articulado ao projeto ético-político da profissão (indicação ética que adquire efetividade histórico-concreta quando se tem uma direção político-profissional e que não se limitam a normatizações morais, mais envolvem escolhas teóricas, ideológicas e políticas dos profissionais) fazendo parte de um conjunto maior da profissão e de uma determinada concepção de serviço social.

A dimensão ética da profissão está fundada na liberdade concebida historicamente como possibilidades de escolhas dentre alternativas concretas, evidenciando compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Esta perspectiva ética vincula o Serviço Social a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero. A partir das escolhas que o fundam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos humanos e a recusa do arbítrio e dos preconceitos, contemplando positivamente o pluralismo com hegemonia do trabalho.

Em sua dimensão política, o projeto se posiciona pela socialização da participação, pela universalização tanto do acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais quanto da riqueza socialmente produzida. Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto implica no compromisso com a competência técnica, teórica e política que tem como base o aprimoramento intelectual do assistente social que se configura:

 Pela assunção de atitude investigativa na prática cotidiana, como expressão do inconformismo e da indignação permanente, promovendo crítica reiterada à realidade pelo profissional impulsionando-o para a criação de novas explicações, indo além do limite dado;

 Pela prioridade de uma nova relação com os usuários dos serviços prestados pelo assistente social, por meio dos quais o profissional pinça as singularidades dos sujeitos com os quais trabalha e, reconstruindo as relações, constrói as particularidades na direção da transformação social;

 Pelo compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população;

 Pela publicização dos recursos institucionais, como condição de democratização e universalização;

 Pela participação efetiva dos usuários no processo de formulação da decisão política e no controle dos serviços, programas e atividades realizadas em espaços públicos e privados;

 Pela articulação e partilha de propostas e ações com segmentos de outras categorias profissionais e de movimentos sociais que se solidarizam com as lutas gerais dos trabalhadores (BARROCO, 1995).

Como operar o projeto profissional assim configurado com a competência teórico-prática? A resposta está na necessária formulação de metodologia de trabalho que implica em três dimensões:

a) Dimensão teórico-metodológica substanciada:

- por uma teoria social de leitura e de explicação do real que tem impressa a dimensão ético-ideológica. O projeto ético-político da profissão do serviço social que se põe em defesa das lutas gerais dos trabalhadores sustenta-se na teoria crítica;

- Por teorias intermédias ou teorias da ação que explicam e elucidam a ação humana (Teoria do Cotidiano de Agnes Heller, Teoria do Poder de M. Foucault, Teoria do Interacionismo Simbólico de Habermas, Teoria da Complexidade Social de E. Morin, Teoria da Comunicação Humana de A. Touraine, etc), numa unidade teoria-prática de cujo movimento dialético resulta a reconstrução de categorias teórico-metodológicas na particularidade dos objetos de intervenção profissional dos assistentes sociais (BATTINI, 1998);

b) Dimensão ideo-política que considera a prática social com suas determinações históricas que se revelam e contaminam instituições (famílias, profissões, entidades, movimentos) nas suas dimensões produtiva, investigativa e social/política. Na prática social inclui-se a prática profissional como dimensão daquela, com suas peculiaridades, incluindo igualmente a prática interdisciplinar com a interpenetração de métodos e conteúdos, desenhando a unidade na diversidade;

c) Dimensão técnico-operativa constituída pelas teorias, metodologias, instrumentos e técnicas enquanto estratégias, táticas, ferramentas e habilidades para realizar a ação. A ação se desenvolve por aproximações sucessivas, pela construção/desconstrução/reconstrução dos objetos, promovendo síntese/totalização/difusão do fazer, contribuindo para a reprodução social das relações sociais na direção da liberdade e da justiça social. A exigência que se coloca é a da construção de metodologia de trabalho como esteira da intervenção profissional do assistente social. No entanto, há que se tomar cuidado com o metodologismo e com o instrumentalismo, tendências empobrecedoras da profissão (GUERRA, 2000).

A criação de metodologia de trabalho fundada naquelas dimensões, portanto, superando o sendo comum, requer o respeito ao movimento social e as particularidades dos sujeitos que o alavancam na direção de finalidades específicas. Para isso, a metodologia implica em

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