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O Que é Gueto

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Por:   •  20/3/2014  •  Seminário  •  1.162 Palavras (5 Páginas)  •  146 Visualizações

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O conceito “gueto” na sociedade e nas Ciências Sociais norte-americanas, cujo domínio da investigação sobre esse tópico tem sido tanto quantitativo quanto temático, tem sucessivamente se expandido e se contraído, acompanhando assim a maneira como elites políticas e intelectuais conceituam o nexo perverso entre etnia e pobreza no meio urbano (WARD, 1989). Inicialmente, na última metade do século XIX, o termo era usado para referir- se a concentrações residenciais de judeus europeus nos portos do Atlântico e era claramente distinto de slum2 enquanto área de moradia precária e de patologia social. O conceito expandiu-se durante a Progressive Era e passou a incluir todos os distritos urbanos degradados3 onde imigrantes exóticos juntavam-se – mais especificamente, imigrantes pobres do Sudeste europeu e afro-americanos fugindo do regime Jim Crow de submissão de castas no Sul dos EUA. Na medida em que o termo refletia preocupações da classe dominante com relação à assimilação desses grupos ao padrão anglo-saxão predominante no país, o “gueto” referia-se, nesse contexto, à intersecção entre bairros étnicos e slums, em que a segregação juntava-se ao abandono físico e à superpopulação, exacerbando assim males urbanos como a criminalidade, a desintegração familiar, a pobreza e a falta de participação na vida nacional. O conceito recebeu autoridade científica com o paradigma ecológico da Escola de Sociologia de Chicago.

Durante o ápice das revoltas negras dos anos 1960, Kenneth Clark (1965, p.11) escreveu sobre a relação de subordinação etnoracial e fez dela o epicentro de sua análise do Gueto escuro e seus infortúnios: “Os EUA adicionaram ao conceito de gueto a restrição das pessoas a uma área específica e a limitação de sua liberdade de escolha com base na sua cor. As paredes invisíveis do gueto escuro foram erigidas pela sociedade branca, por aqueles que têm o poder”. Esse diagnóstico foi confirmado pela Comissão Kerner (1989 [1968], p. 2), uma força-tarefa supra-partidária indicada pelo Presidente Johnson, cujo relatório oficial sobre a “desordem civil” que abalou a metrópole norte-americana ganhou fama por culpar a intransigência racial dos brancos pelo fato de os EUA estarem “transformando-se em duas sociedades, uma negra e outra branca – segregadas e desiguais”. Contudo, nas duas décadas seguintes, o gueto escuro entrou em decadência devido à desindustrialização e às políticas estaduais de redução da previdência e compactação urbana, tornando-se um território abandonado, foco de terror e desintegração. Além disso, na medida em que a dominação racial tornava-se cada vez mais difusa e difratada através do prisma de classe. Nos anos 1990, a neutralização do termo “gueto” na pesquisa orientada ao planejamento de políticas públicas culminou com o expurgo de qualquer traço de raça ou poder, redefinindo assim o termo como qualquer grupo de pobreza extrema, independente de sua composição populacional ou institucional.

Os quatro elementos que constituem o gueto, isto é, o estigma, o limite, o confinamento espacial e o encapsulamento institucional. O gueto é um meio sócio-organizacional que usa o espaço com o fim de conciliar dois objetivos antinômicos: maximizar os lucros materiais extraídos de um grupo visto como pervertido e perversor e minimizar o contato íntimo com seus membros, a fim de evitar a ameaça de corrosão simbólica e de contágio. Esse mesmo raciocínio duplo de exploração econômica cum ostracismo social dominou a gênese, a estrutura e o funcionamento do gueto afro-americano na metrópole fordista durante a maior parte do século XX. Negros eram recrutados nas cidades norte-americanas depois da I Guerra Mundial pelo seu trabalho não qualificado, que era indispensável nas indústrias que formavam o centro da crescente economia industrial. Ao mesmo tempo, não havia perigo de eles misturarem- se ou confraternizarem com os brancos, que os consideravam vis, naturalmente inferiores e com orgulho étnico maculado pela escravidão.

O reconhecimento de que o gueto é um produto e um instrumento de poder de um grupo permite- nos a apreciação de que na sua forma completa ele é uma instituição de duas faces, na medida em que serve a funções opostas para dois coletivos aos quais une em uma relação assimétrica de dependência. Para a categoria dominante, sua função é circunscrever e controlar, o que se traduz no que Max Weber chamou de “cercamento excludente” da categoria dominada. Para esta última, no entanto, trata-se de um recurso integrador e protetor na medida em que livra seus membros de um contato constante com os dominantes e permite colaboração e formação de uma

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