Prova ingles

          Havia quinze dias que Lourenço não podia aproximar-se de Teresa. Só então compreendeu a que ponto aquela mulher se lhe tornara indispensável; o hábito da voluptuosidade criara-lhe apetites novos, de uma exigência aguda. Já não sentia aflição nenhuma com os beijos da amante, procurava esses beijos com uma obstinação de animal esfomeado. Uma paixão de sangue se lhe gerara nos músculos; agora, que o privavam da amante, essa paixão explodia com toda uma violência aguda; amava com raiva. Tudo parecia inconsciente naquela luxuriosa natureza de animal; obedecia a instintos, deixava-se conduzir pelos imperativos do organismo. Teria desatado a rir, um ano atrás, se lhe tivessem dito que viria a ser o escravo de uma mulher a ponto de comprometer o seu próprio sossego. O surdo trabalho do desejo operara-se nele, sem que ele desse por isso, e acabara por atirá-lo, atado de pés e mãos, para as carícias ferozes de Teresa. A gora receava esquecer a prudência, não ousava aparecer, à noite, na viela do Pont-Neuf, receando cometer alguma loucura. Já não tinha mão em si, a amante, com as suas maciezas de felino, as suas flexibilidades nervosas, insinuara-se pouco a pouco em todas as fibras do seu corpo. Precisava tanto dessa mulher para viver como de beber e de comer.

          Teria, por certo, feito uma tolice se não tivesse recebido uma carta de Teresa que lhe recomendava que ficasse em casa no dia seguinte. A amante prometia vir ter com ele pelas oito da tarde.

ZOLA, Émile. Teresa Raquin. Lisboa: Arcádia, s.d. (fragmento)

Vocabulário:

Apetite: vontade

Luxurioso: sensual

Oito da tarde: no verão europeu ainda é dia

Voluptuosidade: dedicação à sexualidade