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Carmilla

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Por:   •  4/10/2014  •  Tese  •  10.603 Palavras (43 Páginas)  •  186 Visualizações

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J. Sheridan Le Fanu

Carmilla

Tradução, disponibilização, revisão:

JossiB Slavic – Comunidade RTS (Orkut)

Resumo: JossiB Slavic

Laura, uma jovem e despreocupada moça, vive com seu pai numa região afastada das grandes cidades, num antigo castelo. E quando vem a conhecer Carmilla – uma lindíssima moça, que veio morar em sua casa e tornou-se sua melhor amiga – coisas estranhas começam a acontecer com ela e com muitas outras pessoas do povoado próximo.... Que mistérios esconderia Carmilla, a mulher de beleza estonteante e hábitos estranhos? Que amores teria em seu coração, de onde viera, qual sua verdadeira natureza? E por quê Laura passara a ter tantos e tão inquietantes pesadelos, desde que Carmilla viera morar no castelo?

Vivíamos na Estiria, em um castelo. Não é que nossa fortuna fosse principesca, mas naquele rincão do mundo era suficiente uma pequena renda anual para poder levar uma vida de grande senhorio. Em troca, em nosso país e com nossos recursos só teríamos levado uma existência acomodada. Meu pai é inglês e eu, naturalmente, tenho um sobrenome inglês, mas nunca vi a Inglaterra.

Meu pai servia no exército austríaco. Quando alcançou a idade do retiro, com seu reduzido patrimônio pôde adquirir aquela pequena residência feudal, rodeada de vários hectares de terra.

Não acredito que exista nada mais pitoresco e solitário. O castelo está situado sobre uma suave colina e domina um extenso bosque. Uma estrada estreita e abandonada passa por diante de nossa ponte levadiça, que nunca vi levantar: em seu fosso nadam os cisnes entre as brancas corolas dos nenúfares.

Dominando este conjunto se levanta a ampla fachada do castelo com suas numerosas janelas, suas torres e sua capela gótica. Diante do castelo se estende o pitoresco bosque; à direita, a estrada discorre ao longo de uma ponte gótica estendida sobre uma corrente que serpenteia através do bosque.

Disse que é um lugar muito solitário. Julguem vocês mesmos se puderem ver. Olhando da porta de entrada para a estrada, o bosque que rodeia nosso castelo se estende quinze milhas à direita e doze à esquerda. O povoado habitado mais próximo está nessa última direção, a uma distância aproximada de sete milhas.

O castelo mais próximo e de certa notoriedade histórica é do general Spieldorf, a umas vinte milhas à direita.

Disse “o povoado habitado mais próximo”, porque a oeste, só a três milhas, em direção ao castelo do general Spieldorf, há um povoadozinho em ruínas com sua igreja gótica também em ruínas; ali estão as tumbas, quase escondidas entre pedras e folhagem, da orgulhosa família Karstein, extinta faz tempo. A família Karstein possuía antigamente o desolado castelo, que da espessura do bosque domina as silenciosas ruínas do povoado.

Há uma lenda que explica por que foi abandonado por seus habitantes esta estranha e melancólica paragem. Mas já falarei dela mais adiante.

O número de habitantes de nosso castelo era muito exíguo. Excluindo os criados e os habitantes dos edifícios anexos, estávamos somente meu pai, o homem mais simpático do mundo mas de idade bastante avançada, e eu, que na época em que ocorreram tais fato ques vou narrar tinha somente dezenove anos.

Meu pai e eu constituíamos toda a família. Minha mãe, de uma família nobre da Estiria, morreu quando eu era ainda uma menina. Entretanto, tive uma inesquivícel ama, a senhora Perrodon, da Berna. Era terceiro a pessoa em nossa modesta mesa. A quarta era a senhorita Lafontaine, uma dama em toda a extensão da palavra, que exercia as funções de institutriz, para completar minha educação.

Algumas moças amigas minhas vinham de vez em quando ao castelo e, algumas vezes, eu lhes devolvia a visita. Estas eram nossaos habituais relações sociais. Naturalmente, também recebíamos visitas imprevistas de “vizinhos”. Por vizinhos se entendem as pessoas que habitavam num raio de quatro ou cinco léguas.

Posso lhes assegurar que, em geral era uma vida muito isolada.

O primeiro acontecimento que me produziu uma terrível impressão e que ainda agora segue gravado em minha mente, é ao mesmo tempo um dos primeiros sucessos de minha vida que posso recordar.

A nursery, como a chamávamos, embora era só para mim, estava em uma sala grandiosa do último piso do castelo, e tinha o teto inclinado, com molduras de castanheira. Teria eu uns seis anos quando uma noite, despertando de improviso, olhei ao meu redor e não vi a ama de serviço. Acreditei que estava sozinha. Não é que tivesse medo... Pois era uma daquelas afortunadas meninas a quem se evitou expressamente as histórias de fantasmas e os contos de fadas, que deixam as crianças temerosas ante uma porta que chia ou ante a sombra dançante que produz sobre a parede próxima a luz incerta de uma vela que se extingue. Se pus-se a chorar foi certamente porque me senti abandonada; mas, com grande surpresa, vi ao lado de minha cama um rosto muito belo que me contemplava com ar grave. Era uma jovem que estava ajoelhada e tinha suas mãos sob minha manta. Observei-a com uma espécie de prazenteiro estupor, e cessei em minha choramingação. A jovem me acariciou, sentou-se na cama ao meu lado e me abraçou, sorrindo. De repente, senti-me acalmada e contente, e dormi de novo.

De súbito, despertei com a arrepiante sensação de que duas agulhas me atravessavam o peito profunda e simultaneamente. Dei um grito. A jovem deu um salto para trás, caindo ao chão, e me pareceu que se escondia debaixo da cama.

Pela primeira vez, senti medo e me pus a gritar com todas minhas forças. A babá, a criada e a ama acudiram precipitadamente, mas quando lhes contei o que me tinha ocorrido estalaram em risadas, de uma vez que tratavam de me tranqüilizar. Embora eu fosse uma menina, recordo seus rostos pálidos e sua angústia mau dissimulada. Vi-as procurar debaixo da cama, por todos os cantos da habitação, no armário e ouvi minha ama sussurrar à babá:

-Olhe! Alguém se jogou na cama, junto à menina, ainda está quente.

Lembrança que a criada me acariciou e que as três mulheres examinaram meu peito, no ponto onde eu havia sentido a pontada. Asseguraram-me que não se via nenhum sinal.

O dia seguinte o passei em um contínuo estado de terror: não podia ficar só um instante, nem sequer a plena luz do

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