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Ese Duhem-Quine de Francisco Prosdocimi

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Por:   •  9/8/2014  •  Monografia  •  1.424 Palavras (6 Páginas)  •  279 Visualizações

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A tese Duhem-Quine Por Francisco Prosdocimi

Diversas são as teorias epistemológicas que tratam sobre como nosso conhecimento e, em particular, as teorias científicas podem ser entendidas e comparadas com um princípio de realidade. Perguntas sobre "o que podemos de fato saber" remontam à grécia antiga, com Platão e Aristóteles, mas foram mais recentemente resgatadas por Descartes (racionalismo) e Bacon (empirismo). Hume causou rebuliço nessas teorias, Kant tentou resolvê-los, Wittgenstein relacionou-os a problemas linguísticos, Popper desenvolveu a ciência idealizada, Kuhn foi mais pragmático e entendeu o que acontece no mundo real. Por fim e onde nos interessará nesta pequena exposição, Quine resgatou Duhem para tentar estabelecer a relação entre enunciados, proposições e o que de fato se refuta quando se refuta uma teoria. É esta a discussão sob qual pretendo me ater. Comecemos nossa história, portanto, na França, em fins do século XIX.

Pierre Duhem era um físico e filósofo da ciência francês que viveu entre 1861 e 1916. Para Duhem, uma teoria científica é formada por um conjunto de enunciados e apresenta consequências empirícas (CE). Ao contrário, entretanto, do que pensa Popper -- ou seja, que a refutação de uma CE refuta a teoria -- Duhem estabelece que a refutação de uma consequência empírica não refuta necessariamente a teoria. Sendo que a teoria é composta por um conjunto de enunciados, algum deles é que pode ser falso e algum artifício ad hoc pode ser usado para salvar a teoria. O cerne da questão está relacionado ao fato de que, em um experimento, nunca se sabe exatamente o que se está testando e uma teoria é sempre testada em blocos, estando vinculada a um conjunto determinado de pressupostos.

Um exemplo disto pode ser observado quando consideramos a descoberta de que Urano não segue exatamente o caminho predito para um planeta, segundo a física Newtoniana. Entretanto, essa anomalia foi corretamente entendida como sendo a evidência que era necessária uma hipótese adicional para explicar a órbita de Urano -- ou seja, que haveria um outro planeta ainda não descoberto responsável pelas perturbações observadas (fato que foi posteriormente confirmado pela descoberta de Netuno).

A tese de Duhem-Quine estabelece, portanto, que para qualquer observação de um fato científico, existem um número imenso de explicações. Portanto, a evidência empírica não pode, necessariamente, forçar a revisão da teoria. Desta forma, a tese de Duhem-Quine, por mostrar que o falseamento de uma teoria não seja definitivo, é comumente vista como uma refutação do critério de falsificação Popperiano e sugere que não existam maneiras exatas de distinguir entre ciência e pseudociência. Portanto, talvez as definições de ciência-pseudociência possam ser definidas apenas dentro de um contexto histórico-social, onde a comunidade de cientistas de uma certa época decide aprovar ou não uma determinada teoria com base na sua relação contemporânea com os fatos.

É exatamente isso que prega Willard Van Orman Quine (1908–2000), um dos filósofos americanos mais influentes do século XX. Quine reporta em seu famoso ensaio "Two Dogmas of Empiricism" (1951) que uma teoria apriorística sobre a ciência não pode ser verificada. Neste ponto vale a pena que nos lembremos da teoria do conhecido Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão que é considerado um dos mais influentes dos pensadores europeus modernos e último grande filósofo iluminista. Vale notar, portanto, que o conhecimento apriorístico, como definido por Kant em sua crítica à razão pura, é aquele que resulta em proposições necessariamente lógicas e verdadeiras, "cujo valor de verdade pode ser reconhecido independente da experiência" (Costa, 2002). O conhecimento kantiano apriorístico resulta na formulação das proposições analíticas, aquelas que (1) são tautológicas; (2) sua verdade pode ser compreendida em razão do significado dos seus termos; (3) não podem ser negadas sem incoerência ou contradição; (4) apresentam universalidade estrita (são necessárias). O que Immanuel Kant realizou em sua crítica à razão pura (1781), foi exatamente um extenso e interessante estudo sobre o que podemos saber se nos basearmos apenas em juízos a priori, além de mostrar que era possível obter conhecimento não analítico (ou seja, sintético) a partir de proposições analíticas que, por serem auto-evidentes, não forneciam base para qualquer conhecimento novo. Alguns conhecimentos a priori e proposições sintéticas obtidos do livro de Costa (2002): (1) A = A (2) 1 + 1 = 2 (3) Triângulos têm três ângulos (4) Se João é pai de Maria, Maria é filha de João

Voltando então a Quine, ele achava que uma teoria apriorística (baseada exclusivamente em proposições analíticas) não poderia ser montada para explicar a ciência. De fato, Quine chega mesmo a questionar a distinção kantiana entre o analítico e o sintético, embora isso seja visto por muitos como um sofistma (Costa, 2002). De qualquer forma, a epistemologia de Quine diz que a ciência consiste em um modo particular de conectar as experiências com as expectativas. Sua epistemologia, similar à de Duhem baseia-se no fato que uma teoria científica consiste em um conjunto de enunciados interligados que são testados e devem ser aceitos ou refutados em bloco. O chamado "teste crucial" de uma teoria, ou seja, um teste bem feito e realizado com o objetivo de testar justamente um enunciado central de determinada teoria pode não refutar ou corroborar determinada teoria. O que o teste faz é contrariar (ou corroborar) determinados enunciados que podem ser reformulados e reconectados

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