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Nietzsche - Entre O Expressionismo E O Nazismo

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Por:   •  22/10/2013  •  2.122 Palavras (9 Páginas)  •  2.540 Visualizações

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Nietzsche: entre o Expressionismo e o nazismo

Friedrich Wilhelm Nietzsche sem dúvida é um dos grandes pensadores da história da humanidade. Sua obra reverbera em campos distintos: na filosofia, na política, nas artes. Aqui iremos nos ater a influência exercida pelo seu pensamento sobre um movimento artístico específico, o Expressionismo alemão, que deu origem a inúmeros artistas que conservam sua importância até os dias atuais e sobre um movimento político que dominou a Alemanha no período de 1933 a 1945, o nazismo. Pois bem. Tratemos então, primeiramente de definir resumidamente as principais características do Expressionismo, para em seguida, analisar os seus pontos de encontro com a filosofia nietzschiana. Quanto ao nazismo, creio que uma breve análise sobre a apropriação das ideias de Nietzsche pelos primeiros seja suficiente, já que é do conhecimento de todos as principais características que marcaram este movimento político.

O Expressionismo foi um movimento artístico que se caracterizou pela expressão de emoções intensas. As obras que constituem o movimento são marcadas pela ausência de preocupação com o conceito de beleza tradicional e por enfoque pessimista da vida, marcado pela angústia, dor, inadequação do artista a realidade e, muitas vezes, necessidade de denunciar problemas ligados ao âmbito social. Além de um movimento artístico e talvez, até, sobretudo, o Expressionismo foi um movimento de resistência a um mundo burguês, negando o racionalismo, a objetividade e a sistematização, contrapondo fantasia e razão. O artista expressionista se debatia contra o “real”, projetando sobre ele as sombras da ilusão e do suprassensível.

Iniciado no fim do século XIX por artistas plásticos da Alemanha, este movimento alcançou seu auge entre 1910 e 1920 e expandiu-se para a literatura, a música, o teatro e o cinema. Em função da 1º Guerra Mundial e das limitações impostas pela língua alemã, o Expressionismo teve maior adesão nos países germânicos, como por exemplo, os eslavos e os nórdicos. Contudo, o Expressionismo chegou a se manifestar em solo francês, através do fauvismo. Com o fim da guerra, o movimento ganhou maior disseminação, influenciando artistas em outras partes do mundo, principalmente os que estavam ligados a correntes políticas esquerdistas.

No âmbito do cinema, os maiores nomes conhecidos são Friedrich Murnau, diretor de Nosferatu, Fritz Lang, com Metropólis e Robert Wiene, diretor de O Gabinete do Dr. Cagliari. Este último segue uma linha de produção de filmes sombrios e pessimistas que se originou na Alemanha. Baseados em cenários fantasmagóricos, constituídos por exageros no contraste de luz e sombra e na interpretação dos atores, estes filmes intentavam distorcer a realidade.

Nas artes plásticas o maior nome talvez seja Vincent Van Gogh. Com obras que continham cores fortes, pinceladas marcadas, traços expressivos, formas contorcidas e dramáticas, o pintor holandês e o movimento propunham uma ruptura com as academias de arte e o impressionismo. Trata-se de uma forma de “recriar” o mundo, ao invés de apenas captá-lo ou moldá-lo segundo as leis da arte tradicional, promovendo um resgate das artes primitivas e uso arbitrário de cores fortes. É comum o retrato de seres humanos solitários e sofredores. Com a intenção de captar estados mentais, vários quadros exibem personagens deformados, como o ser humano deformado sobre uma ponte que pode ser observado em O Grito, de Edvard Munch, um dos expoentes do movimento.

Na música podemos observar como características fundamentais a intensidade de emoções e o distanciamento do padrão estético tradicional. A partir de 1908, o termo expressionismo foi designado para caracterizar a criação do compositor austríaco Arnold Schoenberg, autor do método de composição dodecafônica. Schoenberg compôs em 1912 Pierrot Lunaire, símbolo de um rompimento definitivo com o romantismo. O compositor inova com uma música em que todos os doze sons da escala de dó a dó têm igual valor e podem ser dispostos em qualquer ordem a critério do compositor. Já no teatro, existe uma tendência para o extremo, para o exagero. As peças são combativas na defesa de transformações sociais. O enredo é muitas vezes metafórico, com tramas bem construídas e lógicas. Há certa atmosfera de sonho e pesadelo em cena e os atores se movimentam como robôs – aliás foi na peça expressionista R.U.R. que se criou a palavra robô. Muitas vezes paralelamente à encenação, para mostrar a realidade interna do personagem, são ouvidas gravações de monólogos. Destacam-se nesta vertente nomes como August Strindberg, Georg Kaiser e Eugene O’neill.

A partir da fundação de dois grupos alemães, o expressionismo teve seu auge. Os grupos eram o Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul) e o Die Brücke (A Ponte). O primeiro grupo voltou-se para uma concepção mais espiritual e, influenciados pelo cubismo e pelo futurismo, abandonaram as formas figurativas e caminharam para a abstração. Seus principais representantes foram Vassíli Kandinski, August Macke e Paul Klee. Já o segundo grupo, possui artistas mais agressivos e politizados, preocupados com questões sociais. Com cores quentes, produziam cenas místicas e paisagens de atmosfera pesada. Especialmente neste grupo, que contava com artistas como Ernst Kirchnner e Emil Nolde, a influência de Nietzsche pode ser percebida com muita força. O próprio nome do grupo refere-se a uma das maiores obras de Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, e além disso revela a ambição desses artistas: estabelecer uma passagem (ponte) entre a arte sua contemporânea e a arte do futuro, renegando os cânones existentes na arte alemã neo-romântica e estabelecendo, para isso, um contacto íntimo com a natureza e a realidade. Os conflitos que resultam deste contacto com a realidade vão ser assimilados e transpostos expressivamente para a tela negando a preocupação pela representação exata e fiel do objeto observado. Buscam o “inalterado”, o “não-falsificado”, a alma das coisas, o que não se vê, mas sente-se. Assim, o que é representado na tela é o resultado da emoção do observador/pintor, o objeto observado altera-se consoante os seus sentimentos. Em primeiro plano passa a estar o “como” e não a “coisa” representada.

A partir destes traços que marcam o caráter do movimento expressionista, podemos dialogar com a filosofia de Nietzsche e entender melhor o quanto suas ideias atuaram de forma decisiva nas criações artísticas do primeiro. O pensamento nietzscheano é marcado pela tentativa – e na minha opinião, relativamente bem sucedida – de promover uma ruptura com as estruturas metafísicas que dominam todos os âmbitos da vida humana até então. É certo que

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