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Sócrates

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Por:   •  27/10/2013  •  Seminário  •  659 Palavras (3 Páginas)  •  161 Visualizações

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Sócrates, mestre de retórica

Prof. ª Dr. ª Adriane da Silva Duarte

Nosso conhecimento de Sócrates é mediado pela visão de pelo menos três grandes autores. Dois deles foram seus discípulos e compartilharam o interesse em perpetuar o legado do mestre, Platão e Xenofonte, o terceiro, um comediógrafo, crítico descompromissado de seu tempo e de seus contemporâneos, Aristófanes. O próprio Sócrates, como é sabido, não deixou registro direto de suas idéias. Para formar o perfil do Sócrates histórico, temos forçosamente que nos basear no testemunho dessas fontes, mas o problema surge quando elas entram em desacordo. Há pontos em que a coincidência entre elas é admirável. Por exemplo, a descrição da aparência do filósofo. Seu aspecto de sileno, seu desleixo com o vestuário, o hábito de andar descalço, sua economia nos banhos estão atestados de uma forma ou de outra por todos. Mas como que para provar o que todo grego tinha como certo, ou seja, que o olho é mais confiável do que o ouvido, é na hora de registrar seus pensamentos que surgem as maiores discrepâncias.

O elemento suspeito da tríade acima apresentada, naturalmente, é o comediógrafo, pois, ao contrário dos outros dois, não está comprometido nem com a memória do filósofo nem com a verdade. Aristófanes, portanto, esteve sempre na berlinda, acusado de ter apresentado um retrato grosseiro e deturpado de um grande homem. Essa história tem início com o próprio Platão, que na Apologia (19 C), põe na boca de Sócrates uma queixa contra a forma em que foi representado na comédia, subentende-se As Nuvens. Essa situação de um Sócrates, personagem de Platão, que desautoriza outro Sócrates, personagem de Aristófanes, deu margem a diversas interpretações sobre a natureza do Sócrates cômico, sendo predominante a que considera o personagem d’ As Nuvens uma amalgama dos vários tipos intelectuais que circulavam pela Atenas do século V a.C. e, muito especialmente, dos sofistas. O helenista inglês K. J. Dover (1988: xx), estudioso de Aristófanes e editor d’As Nuvens, é o principal defensor dessa tese. Nas suas palavras:

“All the characteristics attached to Socrates by Aristophanes are to be found in various intellectuals of his own and earlier generations. […] So far it appears that Aristophanes has created a composite portrait.”

Dentre as várias vertentes intelectuais, os sofistas merecem destaque na composição do Sócrates cômico na medida em que este se caracteriza pelo ensino remunerado da arte retórica. Ao menos assim parece a Estrepsíades, o herói da peça, que, afogado em dívidas, espera aprender com o filósofo um discurso que o isentasse de pagá-las. É assim que ele se refere a Sócrates e aos seus discípulos no prólogo da comédia (vv. 98-99, tradução de Gilda Reale Starzynski):

“Se a gente lhes der algum dinheiro, eles ensinam a vencer com discursos nas causas justas e injustas (di/kaia ka)/dika).”

Platão é testemunha da prática dos sofistas que prometem treinar os interessados na oratória, habilitando-os a vencer as causas mais difíceis, ministrando também conteúdos filosóficos e ensinamentos relativos à natureza da linguagem, tudo isso mediante um substancioso pagamento. Górgias, grande

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