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Por:   •  12/10/2013  •  6.012 Palavras (25 Páginas)  •  202 Visualizações

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estudos avançados 26 (74),2012 51

Introdução

noção desustentabilidade tem duas origens. A primeira, na biologia,

por meio da ecologia. Refere-se à capacidade de recuperação e reprodu-ção dos ecossistemas (resiliência) em face de agressões antrópicas (uso

abusivo dos recursos naturais, desflorestamento, fogo etc.) ou naturais (terre-moto, tsunami, fogo etc.). A segunda, na economia, como adjetivo do desen-volvimento, em face da percepção crescente ao longo do século XX de que o

padrão de produção e consumo em expansão no mundo, sobretudo no último

quarto desse século, não tem possibilidade de perdurar. Ergue-se, assim, a noção

de sustentabilidade sobre a percepção da finitude dos recursos naturais e sua

gradativa e perigosa depleção.

Nos embates ocorridos nas reuniões de Estocolmo (1972)e Rio (1992),

nasce a noção de que o desenvolvimento tem, além de um cerceamento ambien-tal, uma dimensão social. Nessa, está contida a ideia de que a pobreza é provo-cadora de agressões ambientais e, por isso, a sustentabilidade deve contemplar a

equidade social e a qualidade de vida dessa geração e das próximas. A solidarie-dade com as próximas gerações introduz, de forma transversal, a dimensão ética.

O relatório Brundtland (1987)abriu um imenso debate na academia sobre

o significado de desenvolvimento sustentável. Pearce et al. (1989)mostravam

uma quantidade razoável de definições. Hoje, há um verdadeiro mar de literatu-ra que aborda o tema das maneiras mais diversas (Wackermann, 2008).

Defendemos em outro texto (Nascimento &Costa, 2010), presente tam-bém em Nobre &Amazonas (2002), que o Desenvolvimento Sustentável (DS)se

tornou um campo de disputa, no sentido utilizado por Bourdieu, com múltiplos

discursos que ora se opõem, ora se complementam. O domínio da polissemia é a

expressão maior desse campo de forças, que passa a condicionar posições e medidas

de governos, empresários, políticos, movimentos sociais e organismos multilaterais.

Na academia, o debate e as interpretações não poderiam deixar de se fa-zer presentes. Como exemplo, Redclift (1987)considera o Desenvolvimento

Sustentável (DS)uma ideia poderosa, enquanto Richardson (1997)chama-o de

fraude, pois tenta esconder a contradição entre a finitude dos recursos natu-Trajetória da sustentabilidade:

do ambiental ao social,

do social ao econômico

Elimar PinhEiro do nascimEnto

A

estudos avançados 26 (74),2012 52

rais e o caráter desenvolvimentista da sociedade industrial. Já O’Riordan (1993),

apoiado por Dryzeh (1997), é de opinião que o DS traz em si a ambiguidade de

conceitos, como os de justiça e democracia, e que não por isso eles deixam de ser

relevantes. Por sua vez, Baudin (2009)vai concebê-lo como uma nova ideologia.

No Brasil, Machado (2005)defende que o DSé um discurso, conforme

a proposição de Foucault; enquanto Nobre &Amazonas (2002)afirmam que

é um conceito político-normativo, noção que já estava presente no Relatório

Brundtland. Veiga (2010), no entanto, fará uma defesa interessante – de que se

trata antes de tudo de um novo valor. Na sua assimilação pela sociedade, encon-tra-se a possibilidade da adoção de medidas que venham efetivamente a mudar

o rumo do desenvolvimento, levando-o da jaula do crescimento econômico ma-terial para a liberdade do desenvolvimento humano, enquanto ampliação das

oportunidades (Sen, 2000).

As questões que orientaram a construção deste texto foram as seguintes:

em que consiste a sustentabilidade, entendida como um adjetivo do desenvol-vimento? Qual a sua trajetória, natureza e implicações para a sociedade atual?

Onde se encontra o centro de sua concepção?

Assim, o texto está dividido em quatro partes. Na primeira, desenham-se,

de forma sucinta, as origens e o contexto do surgimento da noção da susten-tabilidade, transformada em Desenvolvimento Sustentável (DS)por meio dos

embates na arena internacional. Na segunda, examina-se a questão das dimen-sões do desenvolvimento sustentável mostrando os limites de uma compreensão

restrita a três – ambiental, econômica e social. Na terceira, são apresentadas

pistas sobre a relevância, hoje, da sustentabilidade. Na quarta, analisam-se três

respostas, atualmente em construção, à crise ambiental. Conclui-se indagando

sobre as mudanças na trajetória da noção de desenvolvimento sustentável.

Origens e contexto

A ideia de sustentabilidade ganha corpo e expressão política na adjetivação

do termo desenvolvimento, fruto da percepção de uma crise ambiental global.

Essa percepção percorreu um longo caminho até a estruturação atual, cujas ori-gens mais recentes estão plantadas na década de 1950, quando pela primeira vez

a humanidade percebe a existência de um risco ambiental global: a poluição nu-clear. Os seus indícios alertaram os seres humanos de que estamos em uma nave

comum, e que problemas ambientais não estão restritos a territórios limitados.

“A ocorrência de chuvas radiativas a milhares de quilômetros dos locais de reali-zação dos testes acendeu um caloroso debate no seio da comunidade científica”

(Machado,

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