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Chapitre Itapiranga

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Por:   •  3/12/2014  •  8.335 Palavras (34 Páginas)  •  267 Visualizações

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A usina hidrelétrica de Itapiranga, entre passado, realidade e expectativas

Guillaume Leturcq , Andressa Fusieger e Daniel de Souza Santos

A usina hidrelétrica de Itapiranga é um dos primeiros projetos a ser pensado para a bacia do rio Uruguai e que ainda não foi construído. Desde o final dos anos 1970, a localização de Itapiranga é vista com uma boa oportunidade de produzir energia, mas a diferença com outras usinas projetadas naquela época (Itá, Machadinho, Barra Grande, etc.), é que ela ainda encontra-se no estado de projeto. Faz mais de trinta anos que o povo da região do extremo oeste de Santa Catarina escuta falar da possível construção duma usina hidrelétrica e, até hoje, obra não foi iniciada. Assim, para entender a história dessa usina, suas origens, suas implicações e suas marcas no tempo, como no espaço, vamos apresentar, neste capítulo, como a usina Itapiranga tem um valor especial para toda região, não unicamente para o município de Itapiranga. O primeiro ponto afim de explicar as implicações que pode ter a usina refere-se à geografia do lugar de implantação da barragem, ou seja, sua localização no espaço geográfico, o histórico da população e do município e a economia local que fica ameaçada. Esses aspectos são ordenados pela política local, que mudou nos últimos anos e que terá um papel importante no jogo da construção da usina. O segundo ponto apresentará a usina em si, suas características, seu histórico e sua importância em comparação com as outras usinas da região e para os atores energéticos locais e nacionais. Por fim, no terceiro ponto, demonstraremos como a usina marcou o território e o tempo do local. Através de entrevista e duma pesquisa de campo, apresentamos como um projeto que sempre ficou no estado de plano, marcou profundamente o local, no passado, hoje ainda e bem provavelmente no futuro, com ou não a concretização da usina.

1. A geografia e o contexto da futura usina hidrelétrica de Itapiranga

Localizada no extremo oeste de Santa Catarina (SC), a uma latitude de 27º10'10" Sul e longitude de 53º42'44" Oeste, e com uma altitude média de 206 metros, o município de Itapiranga é valorizado pelo fato de fazer divisa com o Estado do Rio Grande do Sul (RS) e a República Argentina. Na divisa, do lado gaúcho, situa-se o município de Barra do Guarita e de Pinheirinho do Vale, que é marcado pelo Rio Uruguai. A fronteira com a parte argentina faz-se com o rio Peperi-Guaçu, afluente do rio Uruguai.

O município itapiranguense possui uma extensão territorial de 286 km², sendo constituído por 27 comunidades (IBGE, 2010). Em termos de regionalização, o município está a aproximadamente 850 km da capital Florianópolis e tem como referência regional as cidades de São Miguel d´Oeste a 70 km e Chapecó a 180 km de distância.

A população de Itapiranga é de aproximadamente 15 409 habitantes (IBGE, 2010 ), sendo parcialmente dividida entre a população rural de 7 793 habitantes e a população urbana de 7 616 habitantes. Sua densidade demográfica concentra-se em 54,5 hab./km². Em comparação aos municípios vizinhos, Itapiranga apresenta uma densidade demográfica superior. Tunápolis, São João do Oeste e Iporã do Oeste, por exemplo, apresentam uma densidade compreendido entre 35 e 42 hab./km². Já em comparação a Chapecó, a cidade polo da região Oeste do estado catarinense (183 530 habitantes), expressa uma densidade demográfica de 293 hab./km² e, São Miguel do Oeste, cidade mais populosa próxima de Itapiranga, com (36 306 habitantes), tem uma densidade demográfica de 155 hab./km². Podemos, então, notar que se desenha uma hierarquia da repartição demográfica da região do Oeste de Santa Catarina e que Itapiranga representa um peso importante. Agora, podemos observar qual é a situação do outro lado do rio Uruguai.

O município de Barra do Guarita/RS, vizinho direto da sede de Itapiranga, é originariamente habitado por índios Kaingang e Guaranis, ainda hoje presentes e reunidos no Toldo do Guarita. Os primeiros habitantes de origem europeia chegaram, neste local de mata densa e isolada, em busca de refúgio durante a Revolução Federalista de 1893. Em 1955, o município de Tenente Portela emancipou-se de Três Passos e, em 1963, foi criado o Distrito de Barra do Guarita. A partir de 1936, haviam migrado para este local muitas famílias oriundas do Rio Grande do Sul: Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Palmeira das Missões, Iraí e Carazinho. Barra do Guarita obteve sua emancipação político-administrativa em 20 de março de 1992, e o seu desenvolvimento está marcado principalmente pela disponibilidade de mão-de-obra. A característica original é que esta mão-de-obra operária para o município vizinho situado na margem oposta do rio Uruguai, Itapiranga (IBGE, 2010).

Barra do Guarita é uma cidade de pequeno porte, com 3 089 habitantes, e sua cidade vizinha, Pinheirinho do Vale conta 4 497 habitantes. Pelo fato de Itapiranga ser fonte de empregos para os municípios circunvizinhos, a localização, na margem do Rio Uruguai, de Barra do Guarita e Pinheirinho do Vale facilita a locomoção (balsas) de seus moradores para trabalharem neste local. Itapiranga compreende um amplo complexo industrial, com empresas de grande porte, como o Grupo JBS Foods. Em sua sede, no município itapiranguense, o fabricante dos produtos Seara possui cerca de 3 500 funcionários que trabalham no abate de aves, chegando a abater cerca de 170 000 aves por dia, e outros 1 000 funcionários atuam na industrialização de carne suína . Ambos são destinados ao mercado externo.

Os municípios da divisa gaúcha neste local são pouco desenvolvidos em termos econômicos comparados aos municípios a sua volta. Um dado a ser observado é o PIB (Produto Interno Bruto) de 2010, para Barra do Guarita (26 476 mil reais) e Pinheirinho do Vale (54 874 mil reais). Já, em Itapiranga, estes valores aumentam para 505 145 mil reais. Em Chapecó, os valores são de 4 149 295 mil reais e em São Miguel do Oeste, 636 569 mil reais. Logo, podemos afirmar que Itapiranga é uma referência econômica do extremo oeste catarinense e, claramente, marca sua influencia do lado gaúcho também. Embora São Miguel do Oeste tenha um PIB mais relevante, Itapiranga tem uma população muito inferior (com 20 897 habitantes a menos). Portanto, a população de Itapiranga equivale a aproximadamente 43 % da população de São Miguel do Oeste, e o PIB equivale a 79,35 %. E, deste modo, Itapiranga pode ser considerada um dos centros desta região catarinense, é também o centro da região de divisa do Rio Grande do

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