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Maria Antonieta

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Por:   •  21/3/2015  •  3.491 Palavras (14 Páginas)  •  393 Visualizações

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No dia 14 de julho de 1789, uma multidão formada por cerca de 50 mil pessoas tomou a Bastilha à procura de pólvora. O acontecimento deixou um rastro de cem mortos, setenta feridos e uma cabeça – a do governador Bernard-René Jordan de Launay. Foi assim que se iniciou a Revolução Francesa, um processo que, ao grito de "liberdade, igualdade e fraternidade", transformou a estrutura social, política e econômica da França do século XVIII, para estabelecer as bases da democracia que hoje conhecemos. Com ela, o Antigo Regime chegou ao fim; foi abolida a monarquia absolutista; e os privilégios do clero e da nobreza foram anulados. A revolução abriu espaço para formas de governo mais equitativas e em sintonia com os princípios do pensamento iluminista, que defendia a separação dos poderes (executivo, legislativo e judiciário), a reforma das leis sobre a propriedade e a soberania nacional. No entanto, como toda mudança política, a revolução dos sans-culotte não passou pela França sem deixar consequências. "Às armas, cidadãos! / Formem vossos batalhões! / Marchemos!, Marchemos!, / que um sangue impuro / empape nossas pegadas!", cantavam os revolucionários na Marselhesa. Se formos além das interpretações românticas que louvam o valor dos heróis do povo e nos distanciarmos da moral que costuma permear as análises histórico-políticas, encontramos na Revolução Francesa um período carregado de sangue, aberrações, violência e mutilações ressentidas. Uma época na qual o horror transbordou até afogar muitos de seus protagonistas.

Se Maquiavel ensinou algo aos políticos foi que o fim justifica os meios. Por este motivo, a cabeça de Maria Antonieta foi cortada e exibida ante uma delirante multidão no dia 17 de outubro de 1793. Sua morte na guilhotina tinha como objetivo acalmar a sede de sangue dos radicais jacobinos no poder, animar a massa a continuar com o processo e acabar com a soberania monárquica. Portanto, pouco pôde fazer a rainha para escapar de um destino marcado pelo seu próprio nascimento. Maria Antonieta representou um período de esplendor no qual o luxo e a arte eram um modo de vida na Corte. Por isso, transformou-se no bode expiatório ideal para os revolucionários. Foi vítima de sua época e do pragmatismo político. Hoje, sua figura lembra que, ante os selvagens instintos humanos, de nada valem as leis ditadas pelo homem. Prova disso, foi o julgamento vazio ao qual foi submetida em 14 de outubro de 1793 pelo Tribunal Revolucionário. "Prometi a cabeça de Antonieta. Eu mesmo a cortarei se demorem a dá-la para mim", exclamou Hébert ao Comitê de Saúde Pública duas semanas antes do julgamento. O processo judicial foi uma farsa que contrariava os direitos que tão calorosamente aclamavam os revolucionários, já que a morte da rainha já estava decidida. Só o tempo julgou o reprovável "monstro" que, na verdade, foi culpado apenas por viver a vida para a qual tinha sido educado. É o que demonstram diversas investigações históricas, que evidenciam a falsidade dos delitos e pecados que lhe foram atribuídos. Nas próximas linhas, a defesa.

A AUTRICHIENNE

Maria Antonieta chegou em Paris com 14 anos. Filha de Francisco I e Maria Teresa de Áustria, da dinastia dos Habsburgo, foi educada para se converter em uma preciosa moeda de troca. O casamento arranjado era uma das principais estratégias políticas da época, e os reis da Áustria, que possuíam 16 filhos, achavam o método perfeito. "Outros têm que fazer a guerra [para chegar ao trono]; mas vós, afortunados Habsburgo, só tens que casar!", dizia o lema da família. No entanto, ninguém esperava que para Maria Antonieta estivesse reservado tão alto destino. Seu compromisso com o neto do rei Luis XV tinha como objetivo fortalecer a aliança franco-austríaca estabelecida no Tratado de Versalhes de 1766 e promovida pelo secretário de Assuntos Exteriores, o duque de Choiseul. Porém, contava com uma forte oposição dentro da Corte francesa. Antes mesmo que aparecesse perante seus novos súditos, muitos já a apelidavam de l'autrichienne, que significa "a austríaca" em francês. No entanto, quando enfatizado o “chienne” no final, a palavra ganha o significado de "cadela", tornando-se pejorativa.

No dia 16 de maio de 1770, a princesa chegou a Versalhes acompanhada de uma comitiva integrada pelo rei da França, Luis XV; seu prometido, o futuro Luis XVI; as madames tantes, filhas do rei; e também pelos príncipes e princesas de sangue, entre eles, Felipe, duque de Orleans e próximo sucessor ao trono caso a linha masculina dos Bourbon falhasse, e a princesa de Lamballe, que se transformaria em uma das melhores amigas de Maria Antonieta. Com a presença destas e de muitas outras pessoas, nesse mesmo dia foi realizada a cerimônia pré-nupcial.

Antes, como marcava a tradição, Maria Antonieta foi despojada de tudo o que procedesse de Viena. Desde suas roupas até seu cachorro Mops, do qual tantas vezes sentiria saudades na complexa Corte francesa. Como relata nas suas memórias madame Henriette Campan, a camareira principal da futura rainha, a noiva "não podia conservar nada que pertencesse a uma Corte estrangeira, regra sempre observada em ocasiões como aquela". Esta era apenas uma das estritas normas exigidas pelo protocolo francês, e que, mais tarde, seriam ignoradas pela jovem Maria Antonieta.

A princesa não estava acostumada com tantas formalidades. Frente ao ambiente descontraído e familiar da Corte vienense, encontrava-se em meio a uma rotina na qual havia testemunhas para tudo. "Ponho o ruge e lavo as mãos ante o mundo inteiro", escrevia no seu diário. Não era para menos. Entre os atos mais importantes do dia estavam o lever (acordar), o toilette (banho e troca de roupa) e o coucher (cerimônia de deitar). Em todos eles, cada nobre assumia um cargo. Segundo a importância de sua condição, desempenhavam uma ou outra tarefa. Estas compreendiam desde passar a roupa íntima da herdeira do trono até ceder ao rei uma vela na hora de deitar. Cumprir com cada pequeno detalhe destas atividades, hoje consideradas banais, era uma honra para os aristocratas e uma forma da família real mostrar respeito e consideração. Por esse motivo, as mudanças destinadas a eliminar os atos protocolares não eram bem-vistas. E, por esta mesma razão, a rebeldia de Maria Antonieta contra esses tediosos processos seria rejeitada por muitos cortesãos.

Sua mãe, a imperatriz Maria Teresa da Áustria, muito mais experiente na arte da política que a inocente Maria Antonieta, já havia advertido suas filhas: “nas Cortes européias andem pelo lodaçal com cuidado e com sapatinhos de satén”, relata Antonia Fraser no seu livro

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