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A Presença Da Obra Otelo Em Dom Casmurro

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Por:   •  17/3/2014  •  1.516 Palavras (7 Páginas)  •  2.014 Visualizações

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ANÁLISE COMPARATIVA – A presença da obra Otelo em Dom Casmurro

Esta análise tem como objetivo o estudo da influência da obra Otelo, de William Shakespeare, no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.

William Shakespeare (1564-1616), nasceu em Stratford-Upon-Avon, na Inglaterra. Destacou-se como um dos melhores dramaturgos. Viveu no Período Elizabetano, época em que a rainha Elizabeth I foi coroada. Esse período é conhecido também como Era Dourada, marcado pelo otimismo, onde ocorreram várias mudanças na política, educação e também nas artes.

Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) nasceu no Rio de Janeiro. Escritor eclético, que trabalhou com teatro, conto, poesia, crônica, crítica e romance. Sua obra pode ser dividida em duas fases, sendo a primeira vinculada à em escola romântica, conhecida como fase preparatória e a segunda, a fase da maturidade, marcada por romances realistas. É nesta última fase que Machado de Assis escreve Dom Casmurro.

O realismo surge no Brasil em uma época marcada por um acelerado declínio da monarquia, resultante dos ideais republicanos, consequente da guerra do Paraguai (1864-1870).

Dom Casmurro foi publicado em 1899, narrado em primeira pessoa por Bento Santiago, e é uma obra marcada pelo tempo psicológico, sendo relatada em flash back.

Quanto ao estilo, é uma obra que apresenta digressões, diálogo com o leitor, uso de comparações e metáforas, citações frequentes e metalinguagem.

A intertextualidade é um recurso presente na obra, podendo citar como exemplo Faustus, de Goethe, Ilíada, de Homero e Otelo, de Shakespeare, sendo o último tomado como referência de análise.

Por ser uma obra narrada em primeira pessoa, em que o personagem Bento Santiago conta suas memórias com a finalidade de atar duas pontas de sua vida, temos que levar em consideração que ele apresenta seu ponto de vista, conduzindo a narrativa, defendendo sua reputação e exibindo provas para convencer o leitor da culpa de sua mulher.

Tanto na obra Dom Casmurro quanto em Otelo, o sentimento do ciúme é um tema em comum. Segundo Cardwell:

“o ciúme nunca deixou de fascinar Machado de Assis. Em suas obras, seja em artigos ou na ficção, ele frequentemente faz pausas para manipular um lento bisturi sobre alguma nova manifestação de ciúme.” (CARDWELL, 2002, pg. 18).

Na tragédia de Shakespeare, o personagem Otelo, general mouro de Veneza, casa-se com Desdêmona, filha de Brabâncio. Otelo promove Cássio ao cargo de tenente, cargo tão desejado por Iago, que pretendia conquistá-lo.

Com o intuito de assumir o posto esperado, Iago trama com Rodrigo uma briga que envolve Cássio, bêbado, e Rodrigo, a fim de Otelo presenciar e consequentemente, dispensar Cássio de seu cargo.

Iago conversa com Cássio, aconselhando-o a procurar Desdêmona, a qual poderia pedir a Otelo que aceitasse Cássio novamente.

Com a aproximação de Desdêmona e Cássio, Iago envena Otelo, acusando que ela o traía. Otelo começa a desconfiar de sua esposa.

Iago consegue a posse de um lenço que Otelo deu para Desdêmona, colocando-o no quarto de Cássio e diz a Otelo que Desdêmona presenteara Cássio com o lenço.

Otelo vê o lenço. Bastou para que ele acreditasse na traição de sua mulher. Furioso, Otelo mata Desdêmona. A criada da casa, Emília, conta toda a verdade a Otelo, que se mata.

Otelo se deixa conduzir por Iago, o qual inventa uma intriga e incrimina Desdêmona.

Em Dom Casmurro, as desconfianças de Bento Santiago se originam de sua imaginação; ele não tem dúvida quanto à traição e conduz a leitor a acreditar em suas palavras, condenando assim Capitu.

Pode-se citar na obra Dom Casmurro, três capítulos, que fazem referências diretas à obra Otelo, de Shakespeare, os quais são: “Uma ponta de Iago” (LXII), “Uma reforma dramática” (LXXII) e “Otelo” (CXXXV).

No primeiro capítulo mencionado, “Uma ponta de Iago”, José Dias, o agregado, faz um visita a Bentinho no seminário. Bentinho pergunta de Capitu a José Dia, o qual responde:

A reposta foi suficiente para causar “um sentimento cruel e desconhecido, o puro ciúme.” (ASSIS,pg. 94

Traçando um paralelo entre as duas obras, percebe-se que na obra Shakespeare, o personagem Iago é o responsável por despertar em Otelo o sentimento do ciúme; o mesmo ocorre na obra machadiana, em que José Dias faz o papel do Iago e Bentinho é afetado por esse sentimento.

No decorrer da obra, a atuação de Iago passa a ser exercido pelo próprio Bentinho. Segundo Cardwell (2002):

“O Otelo – Santiago toma para si também o papel de Iago, manipulando seus próprios lenços para atiçar o furor de seu próprio ciúme” (pg. 25).

Em Dom Casmurro, o ciúme é alimentado por desconfianças internas, vindas do próprio narrador, que acredita na traição de Capitu com seu amigo Escobar, levando em consideração a personalidade de sua esposa, que desde criança era esperta, astuta, capaz de solucionar os problemas com inteligência e facilidade a manipulá-lo nas brincadeiras de infância e no namoro; e a semelhança de Ezequiel com Escobar, prova concreta da traição para o narrador.

No segundo capítulo referido, “Uma reforma dramática”, o narrador sugere uma modificação no gênero drama, com a finalidade do público entender a peça a partir do acontecimento final, e deste, o desencadeamento de toda a peça, da mesma forma que Bento Santiago escreve sua história, de modo não-linear.

“Tem andando alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo, enquanto não pegar algum peralta da vizinhança, que se case com ela.” (ASSIS, 1997, pg. 124)

Para exemplificar essa reforma, o narrador toma como ponto a obra Otelo, procedendo a intertextualidade, observada no trecho:

“Nesse gênero há porventura alguma coisa que reformar, e eu proporia, como ensaio, que as peças começassem pelo fim. Otelo mataria a si e a Desdêmona no primeiro ato, os três seguintes seriam dados à ação lenta e decrescente do ciúme, e o último ficaria só com as cenas iniciais da ameaça dos turcos, as explicações de Otelo e Desdêmona e o bom conselho do fino Iago. Mete dinheiro na bolsa.”

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