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Angústia

Por:   •  12/6/2015  •  Monografia  •  980 Palavras (4 Páginas)  •  242 Visualizações

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Em Angústia, de Graciliano Ramos, a dicotomia campo versus cidade perpassa toda a obra; elementos relacionados a esses dois universos aparecem retratados na constituição dos próprios personagens: é o caso do narrador-protagonista, Luis da Silva, que, atordoado pelo passado de suas origens, recorre incessantemente a dolorosas experiências de sua infância no campo. Aspectos da vida rural o marcam profundamente de forma que podemos identificar em sua personalidade traços desse espaço. Publicado em 1936, o romance trata do assassinato de Julião Tavares, filho de uma família abastada de comerciantes, por Luis da Silva. Esse personagem se inscreve dentro de uma ordem urbana, já que recebeu instrução formal e pertencia aos grandes círculos sociais de Maceió, ao contrário do narrador, que é rude e com poucos contatos afetivos.

O conflito entre a natureza do protagonista e de Tavares é iminente, como se extrapolasse as relações sociais e essa própria dicotomia, apresentada ao início deste texto, entrasse em colapso e culminasse no insuportável, no crime: num ato de desespero Luis da Silva mata Julião Tavares; e, diante desse crime, só resta ao protagonista a confissão (e biografia) em forma de escrita. Deste modo, a narrativa em tela é construída numa teia não-linear entre passado, presente e devaneios desse narrador-personagem.

Logo nas primeiras linhas do romance, o narrador-protagonista expõe sua condição ao leitor e o situa dos fatos que serão tratados ao final da narrativa. Assim, justifica a razão de canalizar, pelas palavras, os dissabores que passara, ao longo daquele espaço de tempo, envolvendo Julião Tavares e Marina, sua vizinha, com a qual tivera um romance malogrado e a perdera para Julião; contudo o incessante retorno às memórias de infância parece apontar para um livro de recordações, uma biografia com cenas projetadas pelo imaginário do personagem, com alguns elementos do presente. Fica evidente por essas lembranças que Silva deseja se redimir do crime cometido tentando convencer seu leitor da necessidade de Tavares ser eliminado; para isso, a narrativa é construída por diferentes movimentos de espaço de tempo, com o objetivo de corroborar a razão do assassinato.

Pessoa de poucos recursos, Luis da Silva migrara do interior, marcado pela aridez e hostilidade do sertão, onde a lei funciona dentro de uma determinada lógica, para a capital, ‘civilizada’ e sistemática, localizada no litoral do nordeste; funcionário público de dia e empregado num jornal à noite, cujo parco ordenado mal cabia-lhe a sobreviver, Luis da Silva é rodeado pela modernidade da vida urbana; e isso implica na conivência num mesmo espaço com personagens idealistas – como Moisés, um judeu comunista, sobrinho do comerciante que costumara vender a crédito para Luis, e o próprio Julião Tavares, patriota e de inclinação progressista – , e com personagens miseráveis e tristes, abatidos pela pobreza e assentados à margem do subúrbio da cidade, como seu Ivo, que sofre pela escassez de recursos e pouca notoriedade na sociedade; características estas, inclusive, que podem ser facilmente detectadas na própria imagem de Luis da Silva.

A infância, corroída por aspectos de degeneração familiar, é solitária e ausente de afetividade: Trajano (avô), Germana (avó), outrora fazendeiros, estão senis; Camilo (pai) leitor assíduo de romances, fechado em suas leituras, é resignado, parece não se importar com os afazeres e os problemas da fazenda. É mister neste momento fazer uma incursão e recordar que o romance se passa num período de extrema complexidade para quem vivia da produção agrícola no país: secas endêmicas (como as relatadas no romance), a queda das oligarquias

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