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O Quarto

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Por:   •  12/5/2013  •  Resenha  •  536 Palavras (3 Páginas)  •  462 Visualizações

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LUIZ FELIPE PONDÉ

O quarto

Sua mãe, transtornada, abre o quarto maldito, escuro e fedorento, uma vez por dia

ESTAVA eu sentado na estação de trem de Lille na França em 1996. Lia a resenha de um livro que não lembro o nome, nem o nome do autor, sobre filhos das pessoas que salvaram vidas "inimigas" dos nazistas na Europa. A pergunta da pesquisa era: como se sentiam os filhos de quem escondia judeus em casa? Por que correr o risco?

Uma pergunta semelhante, posta de outra forma, é feita pela personagem interpretada por Kate Winslet no filme "O Leitor".

Reconhecida, presa e julgada, já nos anos 60, por ter trabalhado no extermínio nazista, escolhendo operárias "já fora de uso" para a morte (300 vítimas), ela é condenada.

Quando o juiz pergunta, "Por que você fez aquilo?", ela responde com outra pergunta: "O que o senhor teria feito no meu lugar?". Silêncio.

Imagine que você é uma criança de dez anos. Mora em Paris em 1943, e ouve passos na escada de seu prédio. Seu pai esconde uma mulher judia e duas filhas em um dos quartos da pequena casa em que mora você, ele, seus dois irmãos, sua mãe e sua avó. Você percebe que a cada ruído de passos, sua mãe e avó estremecem, e também seus irmãos mais velhos. Um enjoo sobe em seu estômago. É comum você ouvir brigas entre seus pais. Sua mãe costuma acusá-lo de "não amar a família e de ser um irresponsável".

Esta era uma resposta comum dada pelas crianças entrevistadas à pergunta: "Como se sentiam quando seus pais escondiam judeus?".

"Sentia que meu pai não nos amava, pois, se nos amasse, ele não nos colocaria em risco por causa de pessoas estranhas".

Com o passar do tempo, você percebe que as outras crianças na escola não parecem viver em pânico como você. Em casa, seus pais pouco falam um com o outro. Sua mãe, transtornada, abre o quarto maldito, escuro e fedorento, uma vez por dia, para colocar, em latas, a comida e a água para aquelas indesejadas.

Elas devolvem outras latas, com seus excrementos. O cheiro de restos humanos enche o ar da casa. Sua mãe, com raiva, jura que vai entregá-las à polícia. Um dia, você ouve sua avó dizer para sua mãe: "Por que você tem que obedecê-lo? Sempre disse pra você que ele era um idiota".

Um dia a pressão piora, sua mãe começa a bater em seu pai. Gritos. Os vizinhos batem na porta. Uma vizinha, desconfiada, passeia pela casa.

Seu pai mergulha no silêncio do qual não sairá mais.

Um dia, quando volta da escola, sua mãe, sua avó e a vizinha conversam em voz baixa. Boatos corriam que pessoas que entregavam judeus à polícia ganhavam simpatias e dinheiro. Um dia, no meio da noite, soldados chegam à sua casa. Em meio à confusão, as fedorentas e esfarrapadas, além de seu pai, são levados embora. Nos dias seguintes, pouco se fala. Sua mãe e avó, com o tempo, voltam a sorrir à mesa. A conversa trivial retoma o cotidiano.

Ninguém fala do seu pai. Seu nome cai sob proibição. Depois de alguns meses, a tranquilidade

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