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Por:   •  16/8/2013  •  880 Palavras (4 Páginas)  •  200 Visualizações

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A minha barba coçava mais que um cachorro sarnento. Meus pés estavam tão gelados que fariam as barras de gelo do açougue do senhor Sprickler parecerem brasas queimando em um forno a lenha. O odor de urina seca nas calças de minha farda me fez ter saudades dos tempos em que eu tinha de limpar aquele galinheiro imundo do meu tio. Os ferimentos de quatro facadas, próximas ao ombro esquerdo, já estavam com o sangue coagulado, mas a dor não cessava. Todas essas desgraças me acompanhavam há um punhado de semanas, mas só agora, há quarenta e oito horas, é que reparei nelas. Agora que me perdi do 3º pelotão, da 2ª companhia do 111º Regimento de Infantaria Margrave Ludwig Wilhelm, em algum pedaço do sul da Inglaterra. Não sei bem como isso aconteceu, eu digo, me perder, entretanto, lembro bem do tenente Jürgen torrando suas cordas vocais, berrando para dispersarmos, porque havia uma emboscada ao redor da ponte. Pra ser sincero, agora vejo que o que importa mesmo é que escapei com vida. A mesma vida que eu reclamava tanto antes da guerra. Reclamava da falta de comida, dos empregos escassos e, blasfêmia!, até da cerveja. Pois era justamente esse mesmo pedaço de vida que me mantinha vivo e respirando o ar pesado, dessa sala escura. Estava no terceiro andar de um prédio comercial, em uma espécie de refeitório ou cozinha. Escondido. Recluso. Invisível para o conflito que acontecia lá fora.

Nunca entendi patavinas das palavras de nosso Führer. Ele subia naquele banquinho (sim, pois nosso admirável Führer media bem menos que um típico alemão de verdade) e começava a empilhar frases com uma astúcia desnecessária, querendo nos convencer que a guerra era mais importante que as coisas realmente importantes, como as festividades de fim de ano e as melodias de Mozart. Bastava ele começar seu discurso efusivo para eu desviar meu pensamento a Ester, com seus cachos cor de manteiga e suas nádegas volumosas. Como deixamos uma guerra estúpida se tornar o sinônimo de nossas vidas? Minha mente endureceu em sentimentos negativos.

Pisquei os olhos e o oceano de raiva, tristeza e paranoia que perpassava minha cabeça escorreu pelo ralo do acaso. O pegajoso cinza do céu britânico saiu de cena e uma luminosidade radiante brotou no ambiente. Tão luminosa que pude enxergar os cantos imundos do que, outrora, havia sido uma cozinha. Então era aqui que eu estava vivendo há dois dias? Uma mesa comprida, quebrada ao meio, algumas cadeiras simples, dois fogões industriais e uma geladeira antiga. Armários destruídos, comida estragada, talheres por toda a parte. Todas as janelas tapadas. Essa luz súbita me permitiu ver que o pedaço de queijo que eu comia há quase 30 horas estava podre, com manchas verdes por toda parte. Porém, a água que saia da torneira, a qual eu bebia compulsivamente, parecia limpa. Ratos zanzavam no canto próximo à geladeira, bem ao lado de... Ester! Mas como?

- Ester!

Gritei com todas as fracas forças que ainda ocupavam meu coração.

- Ester, pelamordedeus, é você?

Ela sorriu. Não com o tradicional sorriso matreiro, que me encantava e excitava ao mesmo tempo, mas com um sorriso que transbordava ternura, pingando gotas de tranquilidade naquela minha existência medíocre. Logo percebi. Mais um piscar de olhos e

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