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Civilité – Civilisation – Civilitas

Por:   •  12/2/2019  •  Resenha  •  3.256 Palavras (14 Páginas)  •  182 Visualizações

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Civilité – Civilisation – Civilitas

O livro de Erasmo trata de um assunto muito simples: o comportamento de pessoas em sociedade – acima de tudo, embora não exclusivamente “do decoro corporal externo.” [...],  Examinando-o mais detidamente, percebemos por trás dele um mundo e um estilo de vida que, em muitos aspectos, para sermos exatos, assemelha-se muito ao nosso, embora seja ainda bem remoto aos outros (p.69, par.3)

“Os olhos são o espelho da alma” (p.69,  par.5)

A postura, os gestos, o vestuário, as expressões faciais – este comportamento “externo” de que cuida o tratado é a manifestação do homem interior, inteiro. (p.69, par 6)

[...] Todos, do rei e rainha ao camponês e sua mulher, comem com as mãos. [...] (pg 71, par 1)

Com grande cuidado, Erasmo delimita em seu tratado toda faixa de conduta humana, as principais situações da vida social e de convívio. (pg 72, par 1)

Nem sempre pode nossa consciência, sem hesitação, recordar essa outra fase de nossa própria história. Perdeu-se para nós a franqueza despreocupada com que Erasmo e seu tempo podiam discutir todas as áreas da conduta humana. Grande parte do que ele diz ultrapassa nosso patamar de delicadeza (p.72, par 2)

É perceptível que, na idade média, os conceitos normativos de decoro estavam mais relacionados ao conceito de delicadeza, de postura, e de imposição de costumes no que diz respeito à separação de valores entre corte/nobreza e vassalagem. Tanto que na normatização não existia embaraço, vergonha, basicamente a distinção do que era certo ou errado era mais branda. Para nós hoje, ler um pouco do que Erasmo propunha em seu tratado nos parece um tanto quanto perturbador.

Mnemônicos (séculos XIV e XV): uma série de poemas a fim de inculcar boas maneiras á mesa (p.74, par.7)

Tischzuchten. [...] O que nos chegou por escrito são fragmentos de uma grande tradição oral, reflexos do que era realmente costumeiro nessa sociedade. Esses fragmentos são importantes exatamente porque descrevem não o que era grande ou extraordinário, mas os aspectos típicos da sociedade. (p.75, par 2)

[...] Parece, por exemplo, que a substância e, talvez também os costumes da sociedade passaram por certas mudanças nos séculos XIV e XV com a ascensão das guildas de ofícios e de elementos burgueses, da mesma forma que, em tempos modernos, modelos de comportamento originários da aristocracia de corte foram adotados por círculos burgueses.

É interessante notar que o que era dito de bom tom, ou seja, o decoro de cada época e de cada costume moldava-se perfeitamente com a necessidade de cada época. Por exemplo, em uma época onde o Absolutismo ainda não havia chegado, o decoro era um símbolo forte de superioridade, embora a atenção dessa superioridade fosse baseada em cortesia, era mais imponente. Entretanto, a burguesia, ainda não tão forte, assimilava os bons costumes da corte, tentando reproduzi-los, e com isso a corte criava ainda mais ações normativas para reafirmar sua condição de classe dominante e superior.

[...] os quadros de pessoas à mesa mostram, até bem dentro do século XV, pouquíssimos utensílios, mesmo que, em alguns detalhes, algumas mudanças tenham indubitavelmente ocorrido. Nas casas dos mais ricos, os pratos são em geral tirados de um aparador, embora frequentemente, sem nenhuma ordem especial. Todos tiram – ou mandam tirar – o que lhes agrada no momento. As pessoas se servem em travessas comuns. Os sólidos (principalmente a carne) são pegados com a mão e os líquidos com conchas ou colheres. Mas sopas e molhos ainda são frequentemente bebidos levando-se à boca os pratos ou travessas. Durante muito tempo, além disso, não houve utensílios especiais para diferentes alimentos. Eram usadas as mesmas facas e colheres. E também os mesmos copos. Frequentemente dois comensais comiam na mesma quadra. (p.80, par.1)

Era natural comer dessa maneira, o que não queria dizer que fosse rústico. Era apenas uma moldagem das condições da época. Famílias da mais alta classe promoviam verdadeiros banquetes de luxo, e seguiam as condutas de decoro da época.

“Se um homem de bom senso tivesse dito a essas pessoas que seus costumes eram desagradáveis e anti-higiênicos, se tivessem sido ensinadas a comer com facas e garfos, essas maneiras teriam rapidamente desaparecido.” (p.81, par.3)

Às vezes, uma pequena frase mostra como esses costumes estavam enraizados e deixa claro que devem ser compreendidos não apenas como algo “negativo”, como “falta de civilização” ou de “conhecimento” (como é tão fácil supor de nosso ponto de vista), mas como algo que atendia às necessidades dessas pessoas e que lhes pareciam importante e necessário para elas exatamente dessa forma. (p.81, par.5)

Portanto, é pertinente dizer que o etnocentrismo, no que diz respeito à analise das civilizações desde a idade média, é absolutamente absurda. Era uma forma de organização, uma forma de conduta e decoro que atendia às necessidades da época, da forma como se davam os acontecimentos contextuais. Não pode ser algo ruim ou bom, algo não civilizado, mas sim uma organização primitiva distinta, apenas diferente.

As pessoas que comiam juntas na maneira costumeira na Idade Média, pegando a carne com os dedos na mesma travessa, bebendo vinho no mesmo cálice, tomando a sopa na mesma sopeira ou prato fundo, com todas as demais peculiaridades dos exemplos dados [...] essas pessoas tinham entre si relações diferentes das que hoje vivemos. E isto envolve não só o nível de consciência, clara, racional, pois sua vida emocional revestia-se também de uma diferente estrutura e caráter. Suas emoções eram condicionadas a formas de relações e conduta que, em comparação com os atuais padrões de condicionamento, parecem-nos embaraçosas ou pelo menos sem atrativos. O que faltava nesse mundo courtois, ou no mínimo não havia sido desenvolvido no mesmo grau, era a parede invisível de emoções que parece hoje se erguer entre um corpo humano e outro, repelindo e separando, a parede que é frequentemente perceptível à mera aproximação de alguma coisa que esteve em contato com a boca ou as mãos de outra pessoa, e que se manifesta como embaraço à mera vista de muitas funções corporais de outrem, e não à sua mera menção, ou como um sentimento de vergonha quando nossas próprias funções são expostas à vista dos outros, e em absoluto apenas nessas ocasiões. (p.82, par.2)

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